sábado, 26 de janeiro de 2013

PARA ACABAR COM A LUSOFONIA 4

Exmo. Senhor José Queirós, Provedor do Jornal “Público”

A 18 de Janeiro de 2013, publicou António Pinto Ribeiro, no Suplemento “Ípsilon” (pp. 38-39) do Jornal “Público”, um texto intitulado “Para acabar de vez com a lusofonia”. No dia seguinte, enviei para publicação o texto «“Para acabar de vez com a lusofonia”?! Resposta a António Pinto Ribeiro». O texto foi recebido (tenho prova disso), mas não publicado.
Sei que lhe não cabe tomar posição sobre o teor do(s) texto(s). Apenas lhe pergunto se há alguma directriz editorial no jornal “Público” adversa ao conceito de Lusofonia – pergunta pertinente dado que, sendo o texto citado um veemente manifesto anti-lusófono (que deu azo a várias respostas – suponho que não terei sido o único a ter enviado um texto de resposta para o jornal), não foi dada a possibilidade de qualquer espécie de contraditório a quem defende tal conceito.
Considero mesmo que, face à gravidade do texto em causa – recordo que nele se define a Lusofonia como uma “forma torpe de neo-colonialismo” –, deveria ter ser sido o “Público” a ter tomado a iniciativa de auscultar outras pessoas: aquelas (muitas, algumas bem prestigiadas, como sabe) que, defendendo o conceito de Lusofonia, repudiam por inteiro o epíteto de “neo-colonialistas”. Solicito-lhe, pois, um parecer público sobre esta questão.
Melhores cumprimentos
Renato Epifânio
Presidente do MIL: Movimento Internacional Lusófono

Ver texto:
http://mil-hafre.blogspot.pt/2013/01/para-acabar-de-vez-com-lusofonia.html

Lurdes deixou um novo comentário na mensagem "Carta enviada ao Provedor do Jornal "Público" - “P...":

Acabar com a Lusofonia! Como? Porquê’
Na verdade há um conjunto de povos em diferentes pontos do planeta que falam esta língua, logo têm também uma identidade lusófona, constituem uma comunidade de falantes do português. O português por seu lado é enriquecido com palavras, escritos, usos e costumes pelo facto de falarmos a mesma língua.
Será que a francofonia não existe?
Com tanto para pensar e transmitir se pensado, perdem-se alguns , com estas pouco congruentes banalidades. Ou será pelo af^/moda que agora grassa em Lisboa de falar inglês! O que somos,?quem somos? Anglofonia????L. 
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Com o Apoio do MIL
Petição CONTRA O USO ABUSIVO DO TERMO "SOCIEDADE CIVIL" PELO GOVERNO DA REPÚBLICA

http://www.peticaopublica.com/PeticaoVer.aspx?pi=pasc
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Terça, 17h, na nossa Sede

29 Janeiro: "A Saudade dos Heróis", de Rodrigo Sobral Cunha

Ver Cartaz:
Excerto da obra:

Prática da Ciência Nova*



GIAMBATTISTA VICO





         Toda esta obra foi raciocinada até agora, porém, como uma mera ciência contemplativa em torno da comum natureza das nações. Parece no entanto falhar por isso mesmo no socorro à prudência humana, ao aplicar-se às nações que vão cair, para que ou não se arruínem completamente, ou não se apressem para a ruína; e em consequência, parece falhar na prática, qual deve ser a de todas as ciências envolvidas em matérias dependentes do arbítrio humano, chamadas “activas”.

Tal prática pode ser dada facilmente dessa contemplação do curso que fazem as nações; advertidos da qual, os sábios das repúblicas e os seus príncipes poderão com boas ordens, leis e exemplos chamar de novo os povos à sua akmé, ou seja, estado perfeito. A prática que podemos dar nós como filósofos pode encerrar-se dentro das academias. E é que nestes tempos humanos, em que havemos nascido, de engenhos agudos e inteligentes, deve aqui, no fim, olhar-se ao revés a figura proposta no princípio[1]; e que as academias com suas seitas de filósofos não secundem a corrupção da seita destes tempos, mas aqueles três princípios sobre os quais se fundou esta Ciência – que são: que se dê providência divina; que, porque se pode, se devem moderar as paixões humanas; e que as nossas almas sejam imortais – e aquele critério de verdade: que se deve respeitar o juízo comum dos homens, ou seja o senso comum do género humano, por quem Deus, que não se deixa desconhecer ainda que das mais perdidas nações, nunca desperta mais forte reflexão nelas do que quando estão mais corruptas. Porque, enquanto os povos estão bem acostumados, obram coisas honestas e justas em vez de falar delas, porque as fazem, mais do que por reflexão, pelos sentidos[2]: mas, quando estão estragados e corruptos, então, porque sofrem mal a falta dessas coisas, não falam de outra coisa além de honestidade e justiça (como naturalmente sucede o homem não falar de nada senão do que finge ser e não é); e, porque sentem resistir-lhes a sua religião (a qual não podem naturalmente desconhecer e renegar), para consolar as suas consciências perdidas, com essa religião, impiamente pios, consagram as suas celeradas e nefandas acções. Donde aqueles dois horrendos fenómenos humanos que se lêem na história de Roma corrupta: um, o de Messalina, que tinha junto do tolo e estúpido Cláudio todas as comodidades, licença e liberdade para desafogar noites inteiras em bacanais a sua insaciável libido, mas, ao mesmo tempo que era casada com o imperador, queria gozar de Gaio Sílio com toda a santidade e celebrações nupciais; o outro, é o de Domício Nero, que envergonhara a majestade do império romano ao actuar como músico nos teatros públicos, e com sacrifícios, augúrios e todas as outras cerimónias divinas quis casar-se perversamente com Pitágoras[3].

Por tudo isto, ensinam os mestres da sabedoria aos jovens como do mundo de Deus e das mentes se desce ao mundo da natureza, para viver uma decente e justa humanidade no mundo das nações. O que quer dizer que as academias[4], com tais princípios e com tal critério de verdade, doutrinam à juventude que a natureza do mundo civil, que é o mundo que foi feito pelos homens, tenha a mesma matéria e a mesma forma que têm esses homens; por isso cada um desses dois princípios, que o compõem, seja da mesma matéria e tenha as mesmas propriedades que têm esse corpo e essa alma racional, cujas duas partes a primeira é a matéria e a segunda é a forma do homem.

As propriedades da matéria são as de ser informe, defeituosa, oscura, preguiçosa, divisível, móvel, “outra”, como Platão lhe chama, ou seja sempre diversa de si; e por todas estas propriedades tem essa matéria esta natureza de ser desordem, confusão e caos, ávida de destruir todas as formas. As propriedades da forma são as de ser perfeição, luminosa, activa, indivisível, constante, ou seja, quanto mais pode, esforça-se por persistir no seu estado, no qual é (que é aquele que Platão costuma chamar “o mesmo”); por cujas propriedades a natureza da forma do homem é ser ordem, luz, vida, harmonia e beleza.

Por conseguinte, a matéria (que é o corpo do mundo das nações), pela propriedade de ser informe, são os homens que não têm nem decisão própria nem virtude; pela propriedade de ser defeituosa, são os homens viciosos, porque todos os vícios não são senão defeitos; pela propriedade da obscuridade, são os homens que descuram, não só a glória (que é uma grande e estrondosa luz), como até o louvor (que é uma luz quieta e pequena); pela propriedade de ser preguiçosa e indolente, são todos os mandriões, delicados, moles e dissolutos; pela divisibilidade, são os homens que não perseguem senão as suas próprias utilidades particulares (as quais dividem os homens) e os prazeres corporais, ou seja os gostos dos sentidos (que são tantos quantos os homens); pela mobilidade, são todos os homens estultos, que se arrependem sempre, nunca estão contentes com o mesmo, sempre amam e aparentam novidades (que, numa palavra, se chama “vulgo”, do qual é aditivo perpétuo ser “móvel”[5]); pela desordem e a confusão, são os homens que, por todas estas propriedades da matéria, reduziriam, pelo que lhes concerne, o mundo das nações ao caos dos poetas teólogos (estado que achámos nós ser o da confusão das sementes humanas), e em consequência levando à nefária vida bestial, quando esta terra era uma infame selva de bestas.

Pelo contrário, a forma e mente deste mundo das nações, pela propriedade de ser perfeição, são os homens que podem aconselhar-se e defender-se a eles próprios e aos outros, que são os sábios e os fortes; pela actividade, são os homens industriosos e diligentes; pela propriedade de ser luminosa, são os homens que se adornam privadamente de louvor e publicamente de glória; pela indivisibilidade, são os homens que em cada uma das suas acções ou profissões se ocupam com todo o poder e com toda a propriedade: o cavaleiro nas artes cavalheirescas, o literato no estudo das ciências, o político nas práticas da corte, cada artesão na sua arte; pela constância, são os homens sérios e graves; pela propriedade de ser “o mesmo”, são os homens uniformes, circunspectos, convenientes e decorosos; e enfim, por aquelas de ser ordem, beleza e harmonia, são os homens que, cumprindo cada um os deveres de sua própria ordem, concorrem para a harmonia e a beleza das repúblicas e, com todas estas belas virtudes civis, se esforçam por conservar os Estados. Não podendo eles celebrar esse esforço pela sua débil natureza corrupta, dispôs a providência ordens tais às coisas humanas, que eles promovam as religiões e as leis assistidas pela força das armas. Esta força começou entre os gentios pela força de Júpiter com as religiões, que promoveu o esforço dos poucos gigantes mais robustos a fundar a humanidade. A tal força são os poucos fortes conduzidos por natureza e, em consequência, com prazer, pois que promove neles o esforço, que é conatural aos fortes; e os muito débeis são mantidos dentro a despeito, para que não dissolvam a sociedade humana. O que é o espírito de toda esta obra.

Assim, com estes princípios de metafísica descidos à física e a seguir introduzidos pela moral na económica, ou seja na educação dos jovens, sejam eles guiados à boa política e com tal disposição de ânimo passem finalmente à jurisprudência (a qual por isso propusemos na Scienza Nuova prima às Universidades da Europa dever tratar-se com todo o complexo da erudição humana e divina, e, por conseguinte, pomo-la sobre todas as ciências), para que os jovens ao instruir-se, assim dispostos, aprendam a prática desta Ciência, fundada nesta lei eterna, que pôs a providência no mundo das nações: que estão a salvo, florescem e são felizes, quando nelas o corpo serve e a mente comanda; e assim mostrar-lhes a verdadeira encruzilhada de Hércules (o qual fundou todas as nações gentias): se queremos entrar na via do prazer com vileza, desprezo e escravidão para eles e para as suas nações, ou na via da virtude com honra, glória e felicidade.






* Texto escrito no verão de 1731, precedendo de perto o De mente heroica e inicialmente destinado ao final da Ciência Nova, mas depois excluído por Vico da redacção definitiva da sua obra maior. Publicado por Fausto Nicolini em apêndice desta (1953), aqui se expõe, tanto quanto saibamos, pela primeira vez em língua portuguesa. Em nota segue uma ou outra observação nossa complementar.


[1] O frontispício ou, como diz Vico, a “pintura hieroglífica” da Ciência Nova.


[2] Dir-se-ia hoje: por instinto.


[3] Tácito, Ann., XI, 25; XV, 37; Suetónio, Nero, 29.


[4] O que inclui também as instituições culturais em geral, a cultura lato sensu, mas sobretudo os representantes da alta cultura.


[5]Mob” designa, entre os ingleses, o vulgo, a multidão, “the mob”.


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MIL: MOVIMENTO INTERNACIONAL LUSÓFONO
Apoiado por muitas das mais relevantes personalidades da nossa sociedade civil, o MIL é um movimento cultural e cívico registado notarialmente no dia quinze de Outubro de 2010, que conta já com mais de 20 milhares de adesões de todos os países e regiões do espaço lusófono. Entre os nossos órgãos, eleitos em Assembleia Geral, inclui-se um Conselho Consultivo, constituído por 90 pessoas, representando todo o espaço da lusofonia. Defendemos o reforço dos laços entre os países e regiões do espaço lusófono – a todos os níveis: cultural, social, económico e político –, assim procurando cumprir o sonho de Agostinho da Silva: a criação de uma verdadeira comunidade lusófona, numa base de liberdade e fraternidade.
SEDE: Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa)
NIB: 0036 0283 99100034521 85; IBAN: PT50 0036 0283 9910 0034 5218 5; BIC: MPIOPTPL; NIF: 509 580 432
Caso pretenda aderir ao MIL, envie-nos um e-mail: adesao@movimentolusofono.org (indicar nome e área de residência). Para outros assuntos: info@movimentolusofono.org. Contacto por telefone: 967044286.

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