terça-feira, 22 de janeiro de 2013

AÇORES SINAIS PREOCUPANTES





Sinais preocupantes



Convencionou-se, na política portuguesa, perdoar todos os erros dos novos governos antes de completarem cem dias.
É o chamado período de “estado de graça”, que o governo de Vasco Cordeiro está a terminar.
Neste período já vimos de tudo: governantes mais experientes a dizerem disparates e alguns estreantes a apanhar bonés.
O resultado destes primeiros meses de actuação do novo governo açoriano não é nada brilhante.
A Saúde, a Lei de Finanças Regionais e a Base das Lajes são apenas três problemas que estão a ser abordados de forma preocupante (o do turismo dá para um capítulo de drama e horror).
Vamos à análise de cada um.
SAÚDE – O novo Secretário Regional manda ou não manda no Hospital de Ponta Delgada?
Então se é ele que tutela, porque razão faz um comunicado a anunciar que espera explicações da Administração do Hospital sobre aquela pouca vergonha da falta de utensílios para as cirurgias?
Em condições normais, o dono da empresa chamava os responsáveis e resolvia a questão rapidamente: ou assumia o erro e corrigia-o de imediato; ou atribuia o erro aos gestores e demitia-os na mesma altura.
Percebeu-se logo que há ali constrangimentos e alguma afronta.
Acho que os independentes deste governo vão começar a perceber que há outra força que fala mais alto na governação: o partido.
Quem está no partido, está garantido.
Quem está no governo, tem que baixar a crista.
Já foi assim naquela embrulhada com a anterior administração hospitalar, no caso da alegada cena de sexo numa enfermaria, envolvendo um administrador. Os inquéritos deram em nada e ficou tudo na mesma.
Começa-se a perceber que, apesar da renovação nas pastas do governo, é o partido e a sua rede de influências e de amigos quem manda mais alto.
Vasco Cordeiro teve aqui uma boa oportunidade para mostrar que é ele quem manda e que as coisas, realmente, mudaram.
Ao não fazê-lo, mostrou fraqueza.
É o primeiro sinal preocupante.
FINANÇAS – É curioso que a falta de dinheiro no Hospital tenha sido precedida do anúncio, pelo Vice-Presidente Sérgio Ávila, de que a região tinha até Novembro do ano passado um “superávite” de mais de 50 milhões de euros!
Onde é que eles estão?
Então se não há dinheiro para comprar luvas e compressas, como é que ele aparece para a construção de um Centro de Arte Contemporânea (mais uma inutilidade para as novas gerações pagarem com os seus impostos), no valor de cerca de 10 milhões, e que, ao que parece, já vai em derrapagem assinalável?
A questão financeira entronca na nova Lei de Finanças Regionais e no diferencial fiscal, de que tanto se falou em Junho de 2011, quando o governo de Sócrates assinou o memorando com a troika.
Nessa altura, Sérgio Ávila e o PS local explicaram que “(...) a redução do diferencial fiscal da Região proposta pela troika é consequência da posição de princípio das entidades europeias que defendem a equiparação fiscal dentro do espaço europeu. (…) A novidade não é, portanto, que se regista uma quebra no diferencial fiscal entre a Região e o continente; é antes que se mantém um diferencial no nível de impostos entre os Açores e o continente”.
O que é que mudou neste ano e meio para a posição do governo açoriano ser agora completamente diferente?
Claro, foi o governo da república, que é de outro partido.
Fazer política assim é muito preocupante, porque revela pouca seriedade perante os cidadãos.
Por este andar, ainda vamos ver o Dr. Sérgio Ávila a fazer uma conferência de imprensa a dar pancada no governo regional anterior...
Mais: é muito provável que até critique o PS-Açores por ter escrito aquele comunicado de 2011 e ponha-se a desancar em José Sócrates por ter assinado com a troika o diferencial fiscal, e ainda, se Deus não acudir, é também capaz de se criticar a si próprio por ter assinado o Memorando de Entendimento com o governo da república no ano passado.
BASE DAS LAJES - Vasco Cordeiro fez uma declaração estranha acerca da Base das Lajes e que terá passado despercebida a muita gente.
Foi uma ameaça clara aos Estados Unidos.
"Essa relação diplomática não pode, de forma nenhuma, ser a mesma do que é atualmente. É esta a posição do Governo dos Açores", ameaçou Vasco Cordeiro, acrescentando que os Estados Unidos e a região continuarão a ser "amigos", mas a relação "não será certamente a mesma coisa do que foi até aqui".
Ai não?
O que é que vai acontecer?
Os Açores vão atacar os EUA?
Vão retirar as Casas dos Açores da América?
Fecham as portas diplomáticas?
A SATA deixará de voar para os EUA?
Obrigará o consul dos EUA nos Açores a regressar á sua terra?
Vai fechar a FLAD?
Deixa de receber os repatriados?
Oferece a Base das Lajes à Al-Qaeda?
Oh valha-nos Deus!
Pico da Pedra, Janeiro 2013
Osvaldo Cabral

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