in diálogos lusófonos
Dicionário, sociedade e língua nacional: o surgimento dos dicionários monolíngües no Brasil
José Horta Nunes
Este trabalho aborda a constituição dos dicionários monolingues na conjuntura brasileira, procurando explicitar as condições desse acontecimento e mostrando a singularidade dele
em um país de colonização. Falar da história dos dicionários brasileiros leva a considerar a passagem da lexicografia portuguesa à lexicografia brasileira e a explicitar a especificidade de cada uma dessas tradições, assim como mostrar seus entrecruzamentos,suas continuidades e descontinuidades, suas concomitâncias
e defasagens.
O Diccionario da língua portugueza, de A. de Morais Silva, publicado em Lisboa em 1789, é considerado o primeiro monolingue da língua portuguesa. O autor realiza um trabalho de redução do extenso dicionário de Bluteau, o Vocabulario portuguez e latino, de 1712-1728,3 o qual, sendo um bilingue português-latim, já trazia longas definições em português.
Ainda que Morais seja um autor brasileiro, nascido no Rio de Janeiro, seu dicionário se filia diretamente à tradição portuguesa, em um momento em que os brasileiros realizavam estudos em Portugal. Depois do Morais, vários outros dicionários portugueses deram continuidade a essa série em Portugal.
Já os dicionários monolingue brasileiros começam a aparecer no século XIX e se consolidam somente no século XX. No século XIX surgem os primeiros dicionários parciais. Entendemos por parciais os dicionários de complemento aos dicionários portugueses, como o de Rubim, em 1853, os dicionários de regionalismos, como o
de Coruja,de 1852, e já no final do século os dicionários de brasileirismos, como os
de Rohan, de 1889, e Soares,7 de 1888. Mas os dicionários gerais brasileiros somente
aparecem no século XX, a partir dos anos 30, com os dicionários de Freire,1939-1944, e Barroso e Lima,1938. E eles se estabelecem definitivamente nos anos 1960-1970, quando substituem os dicionários portugueses, passando a ser mais utilizados que aqueles. Os dicionários de Silva,que teve sua primeira edição em 1962, e Ferreira,1975, são
dois dos mais representativos desse último momento.
É bem recente, portanto, a constituição dos grandes dicionários monolíngues brasileiros. Para se compreender o longo processo que resultou nessas obras, convém levar em consideração o acúmulo de textos lexicográficos que se estendem desde os dicionários bilíngues (português-tupi/tupi-português) da época colonial e imperial, passando pelos dicionários parciais já mencionados do século XIX, assim como pela assimilação dos dicionários portugueses em circulação no Brasil.Porém, é preciso considerar que os dicionário gerais, que projetam um imaginário de unidade, de completude, somente se apresentam e circulam de forma ampla e contínua no século XX.13 Não se trata de dicionários que complementem os dicionários portugueses ou acrescentam elementos a eles, mas sim de obras que passam a funcionar como representativas de uma totalidade da língua praticada no Brasil.
Referências bibliográficas
AULETE, Francisco Júlio Caldas. Dicionário contemporâneo da língua portuguesa.
Rio de Janeiro: Delta, 1958.
AUROUX, Sylvain. A revolução tecnológica da gramatização. Campinas: Ed. da
Unicamp, 1992.
______. Língua e hiperlíngua. Línguas e Instrumentos Lingüísticos, Campinas:
Pontes, n. 1, p. 17-30, 1998.
BARROSO, Gustavo; LIMA, Hildebrando. Pequeno dicionário brasileiro da língua
portuguesa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1938.
______. Pequeno dicionário brasileiro da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Civilização
Brasilieira, 1939.
BLUTEAU, Raphael. Vocabulario portuguez e latino. Lisboa: Colégio das Artes da
Companhia de Jesus, 1712-1728.
BORBA, Francisco da Silva. Dicionário de usos do português do Brasil. São Paulo:
Ática, 2002.
BUENO, Francisco da Silveira. Dicionário escolar da língua portuguesa. Rio de
Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, Departamento Nacional de Educação,
1955.
CORUJA, Antônio Álvares Pereira. Coleção de vocábulos e frases usados na Província
de São Pedro do Rio Grande do Sul. Revista do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro, 1852.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua portuguesa.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1975.
______. Novo Aurélio século XXI: o dicionário da língua portuguesa. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1999.
FIGUEIREDO, António Cândido de. Novo dicionário da língua portuguesa. Lisboa:
Tavares Cardoso & Irmão, 1899.
texto extraído de Dicionário, sociedade e língua nacional:
o surgimento dos dicionários monolíngües no Brasil , José Horta Nunes, http://www.coresmarcasefalas.pro.br/adm/anexos/11122008004925.pdf
Dicionário, sociedade e língua nacional: o surgimento dos dicionários monolíngües no Brasil
José Horta Nunes
Este trabalho aborda a constituição dos dicionários monolingues na conjuntura brasileira, procurando explicitar as condições desse acontecimento e mostrando a singularidade dele
em um país de colonização. Falar da história dos dicionários brasileiros leva a considerar a passagem da lexicografia portuguesa à lexicografia brasileira e a explicitar a especificidade de cada uma dessas tradições, assim como mostrar seus entrecruzamentos,suas continuidades e descontinuidades, suas concomitâncias
e defasagens.
O Diccionario da língua portugueza, de A. de Morais Silva, publicado em Lisboa em 1789, é considerado o primeiro monolingue da língua portuguesa. O autor realiza um trabalho de redução do extenso dicionário de Bluteau, o Vocabulario portuguez e latino, de 1712-1728,3 o qual, sendo um bilingue português-latim, já trazia longas definições em português.
Ainda que Morais seja um autor brasileiro, nascido no Rio de Janeiro, seu dicionário se filia diretamente à tradição portuguesa, em um momento em que os brasileiros realizavam estudos em Portugal. Depois do Morais, vários outros dicionários portugueses deram continuidade a essa série em Portugal.
Já os dicionários monolingue brasileiros começam a aparecer no século XIX e se consolidam somente no século XX. No século XIX surgem os primeiros dicionários parciais. Entendemos por parciais os dicionários de complemento aos dicionários portugueses, como o de Rubim, em 1853, os dicionários de regionalismos, como o
de Coruja,de 1852, e já no final do século os dicionários de brasileirismos, como os
de Rohan, de 1889, e Soares,7 de 1888. Mas os dicionários gerais brasileiros somente
aparecem no século XX, a partir dos anos 30, com os dicionários de Freire,1939-1944, e Barroso e Lima,1938. E eles se estabelecem definitivamente nos anos 1960-1970, quando substituem os dicionários portugueses, passando a ser mais utilizados que aqueles. Os dicionários de Silva,que teve sua primeira edição em 1962, e Ferreira,1975, são
dois dos mais representativos desse último momento.
É bem recente, portanto, a constituição dos grandes dicionários monolíngues brasileiros. Para se compreender o longo processo que resultou nessas obras, convém levar em consideração o acúmulo de textos lexicográficos que se estendem desde os dicionários bilíngues (português-tupi/tupi-português) da época colonial e imperial, passando pelos dicionários parciais já mencionados do século XIX, assim como pela assimilação dos dicionários portugueses em circulação no Brasil.Porém, é preciso considerar que os dicionário gerais, que projetam um imaginário de unidade, de completude, somente se apresentam e circulam de forma ampla e contínua no século XX.13 Não se trata de dicionários que complementem os dicionários portugueses ou acrescentam elementos a eles, mas sim de obras que passam a funcionar como representativas de uma totalidade da língua praticada no Brasil.
Referências bibliográficas
AULETE, Francisco Júlio Caldas. Dicionário contemporâneo da língua portuguesa.
Rio de Janeiro: Delta, 1958.
AUROUX, Sylvain. A revolução tecnológica da gramatização. Campinas: Ed. da
Unicamp, 1992.
______. Língua e hiperlíngua. Línguas e Instrumentos Lingüísticos, Campinas:
Pontes, n. 1, p. 17-30, 1998.
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portuguesa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1938.
______. Pequeno dicionário brasileiro da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Civilização
Brasilieira, 1939.
BLUTEAU, Raphael. Vocabulario portuguez e latino. Lisboa: Colégio das Artes da
Companhia de Jesus, 1712-1728.
BORBA, Francisco da Silva. Dicionário de usos do português do Brasil. São Paulo:
Ática, 2002.
BUENO, Francisco da Silveira. Dicionário escolar da língua portuguesa. Rio de
Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, Departamento Nacional de Educação,
1955.
CORUJA, Antônio Álvares Pereira. Coleção de vocábulos e frases usados na Província
de São Pedro do Rio Grande do Sul. Revista do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro, 1852.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua portuguesa.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1975.
______. Novo Aurélio século XXI: o dicionário da língua portuguesa. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1999.
FIGUEIREDO, António Cândido de. Novo dicionário da língua portuguesa. Lisboa:
Tavares Cardoso & Irmão, 1899.
texto extraído de Dicionário, sociedade e língua nacional:
o surgimento dos dicionários monolíngües no Brasil , José Horta Nunes, http://www.coresmarcasefalas.pro.br/adm/anexos/11122008004925.pdf
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