sábado, 18 de fevereiro de 2012

ANGOLA E O AO1990


    Editorial do Jornal de Angola - aceitemos uma lição com alguma vergonha...    O Mundo às avessas:     O artigo da nossa vergonha…     ----------------------------------------------------------------------------------------------------------     Editorial do Jornal de Angola



    Património em risco

    08 de Fevereiro, 2012 (Vejam bem a data)*
    Os ministros da CPLP estiveram reunidos em Lisboa, na nova sede da
    organização, e em cima da mesa esteve de novo a questão do Acordo
    Ortográfico que Angola e Moçambique ainda não ratificaram.
 
    Peritos dos Estados membros vão continuar a discussão do tema na
    próxima reunião de Luanda. A Língua Portuguesa é património de todos
    os povos que a falam e neste ponto estamos todos de acordo. É pertença de
    angolanos, portugueses, macaenses, goeses ou brasileiros. E nenhum país
    tem mais direitos ou prerrogativas só porque possui mais falantes ou uma
    indústria editorial mais pujante.
    Uma velha tipografia manual em Goa pode ser tão preciosa para a Língua
    Portuguesa como a mais importante empresa editorial do Brasil, de
    Portugal ou de Angola. O importante é que todos respeitem as
    diferenças e que ninguém ouse impor regras só porque o difícil
    comércio das palavras assim o exige. Há coisas na vida que não podem
    ser submetidas aos negócios, por mais respeitáveis que sejam, ou às
    "leis do mercado". Os afectos não são transaccionáveis. E a língua que
    veicula esses afectos, muito menos. Provavelmente foi por ter esta
    consciência que Fernando Pessoa confessou que a sua pátria era a
    Língua Portuguesa.
    Pedro Paixão Franco, José de Fontes Pereira, Silvério Ferreira e
    outros intelectuais angolenses da última metade do Século XIX também
    juraram amor eterno à Língua Portuguesa e trataram-na em conformidade
    com esse sentimento nos seus textos. Os intelectuais que se seguiram,
    sobretudo os que lançaram o grito "Vamos Descobrir Angola", deram-lhe
    uma roupagem belíssima, um ritmo singular, uma dimensão única. Eles
    promoveram a cultura angolana como ninguém. E o veículo utilizado foi
    o português. Queremos continuar esse percurso e desejamos que os
    outros falantes da Língua Portuguesa respeitem as nossas
    especificidades. Escrevemos à nossa maneira, falamos com o nosso
    sotaque, desintegramos as regras à medida das nossas vivências,
    introduzimos no discurso as palavras que bebemos no leite das nossas
    Línguas Nacionais. Sabemos que somos falantes de uma língua que tem o
    Latim como matriz. Mas mesmo na origem existiu a via erudita e a via
    popular. Do "português tabeliónico" aos nossos dias, milhões de seres
    humanos moldaram a língua em África, na Ásia, nas Américas.
    Intelectuais de todas as épocas cuidaram dela com o mesmo desvelo que
    se tratam as preciosidades.
    Queremos a Língua Portuguesa que brota da gramática e da sua matriz
    latina. Os jornalistas da Imprensa conhecem melhor do que ninguém esta
    realidade: quem fala, não pensa na gramática nem quer saber de regras
    ou de matrizes. Quem fala quer ser compreendido. Por isso, quando
    fazemos uma entrevista, por razões éticas mas também técnicas, somos
    obrigados a fazer a conversão, o câmbio, da linguagem coloquial para a
    linguagem jornalística escrita. É certo que muitos se esquecem deste
    aspecto, mas fazem mal. Numa entrevista até é preciso levar aos
    destinatários particularidades da linguagem gestual do entrevistado.
    Ninguém mais do que os jornalistas gostava que a Língua Portuguesa não
    tivesse acentos ou consoantes mudas. O nosso trabalho ficava muito
    facilitado se pudéssemos construir a mensagem informativa com base no
    português falado ou pronunciado. Mas se alguma vez isso acontecer,
    estamos a destruir essa preciosidade que herdámos inteira e sem
    mácula. Nestas coisas não pode haver facilidades e muito menos
    negócios. E também não podemos demagogicamente descer ao nível dos que
    não dominam correctamente o português.
    Neste aspecto, como em tudo na vida, os que sabem mais têm o dever
    sagrado de passar a sua sabedoria para os que sabem menos. Nunca
    descer ao seu nível. Porque é batota! Na verdade nunca estarão a esse
    nível e vão sempre aproveitar-se social e economicamente por saberem
    mais. O Prémio Nobel da Literatura, Dário Fo, tem um texto fabuloso
    sobre este tema e que representou com a sua trupe em fábricas,
    escolas, ruas e praças. O que ele defende é muito simples: o patrão é
    patrão porque sabe mais palavras do que o operário!
    Os falantes da Língua Portuguesa que sabem menos, têm de ser ajudados
    a saber mais. E quando souberem o suficiente vão escrever
    correctamente em português. Falar é outra coisa. O português falado em
    Angola tem características específicas e varia de província para
    província. Tem uma beleza única e uma riqueza inestimável para os
    angolanos mas também para todos os falantes. Tal como o português que
    é falado no Alentejo, em Salvador da Baía ou em Inhambane tem
    características únicas. Todos devemos preservar essas diferenças e
    dá-las a conhecer no espaço da CPLP. A escrita é "contaminada" pela
    linguagem coloquial, mas as regras gramaticais, não. Se o étimo latino
    impõe uma grafia, não é aceitável que através de um qualquer acordo
    ela seja simplesmente ignorada. Nada o justifica. Se queremos que o
    português seja uma língua de trabalho na ONU, devemos, antes do mais,
    respeitar a sua matriz e não pô-la a reboque do difícil comércio das
    palavras.
* Nota-se que em Portugal já quase toda a imprensa, televisão e
empresas usam já o novo(?) (des)acordo!!!!!
O povo, as entidades privadas e não só, não são consultadas e o
mais engraçado desta balburdia toda, quase ninguém sabe quem
está por detrás disto nem quem iniciou esta "porcaria" toda.

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