segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

O Portobello, a Feria del Rastro e a Feira da Ladra.


O Portobello, a Feria del Rastro e a Feira da Ladra..

Há razoes para temer os poderes totalitários e  terroristas quando se descende de uma família judaica...

Revivi, revivemos, eu a minha irmã e o meu cunhado, esse temor com uma breve apresentação do documentário de Alain Resnais  Nuit et Brouillard que vi no Santa Sofia, em Madrid, numa exposição denominada  La guerra há terminado ? Arte en un mundo dividido (1945-1968)...

9 000 000 de mortos ... E um genocídio que Resnais retoma nesse documentário que nos leva sempre a imaginar... E se...?

A barbárie no Poder.

Barbárie que começa, sempre, com algo como uma aparente exigência, autoritariamente imposta, de um qualquer tipo de rigor, sempre a recair sobre as comunidades e que continua por caminhos sempre desconhecidos e sempre inumanos.

Mas por ora vivi somente esta memória...

Vista na imponente imperial capital que é Madrid!

Que diferentes impérios, nascidos ambos de uma mesma Península, a Ibérica, o Português e o Espanhol ...

E que seguiram um caminho, de expansão marítima, que, estranhamente,  o continental império chinês, recusou...

Depois, nesta Madrid, a agitação cultural com a ARCO, ArtMadrid, a JustMad e mais duas outras Feiras de Arte, todas com uma enorme presença e mesmo participação, de Pessoas, espanholas  e não espanholas.

Porque em Espanha, visivelmente, há muito mais que somente a Crise, ou, se quiserem, combatem a Crise também com a Cultura.

Caso espantoso, impossível dirão mesmo alguns…

Algo que o meu cunhado Manuel Rodrigues Vaz, jornalista e critico de Arte e a minha Irmã, Helena Justino, pintora, me ensinaram a relevar, com verdadeiras lições que desafiaram a minha ignorante visão, já não sobre a Arte como Negócio, mas sobre a Arte da Pintura em si, nestes tempos hodiernos, onde tudo parece já descoberto.

Eis porque com ela, a Pintura, a Espanha se mostra  dinâmica também, apresentando ao Mundo, numa única capital, o maior número de pintores de renome e de quadros " por metro quadrado"...

Daí vermos a Feria del Rastro, (a Feira da Ladra daqui),  distendidamente pejada de gente...em passeio feito antes de uma fenomenal manifestação, neste domingo, das Comissiones Obreras e da UGT espanhola, contra o espanhol e direitista pacote laboral !

( Que pena a UGT portuguesa ter cedido, nao a uma negociação que poderia ter sido positiva, mas àquele findar negocial! Porque, em Espanha, ninguém se nega à negociação, nem, à luta claro ).

Porque se a Cultura se encontra nos museus, nestas Feiras de Arte onde estive,  está, aqui em Madrid, também na rua, nesta Feira da Ladra madrilhena,  que se espalha pelas imperiais  ruas desta capital.

Como, claro nas suas praças onde se vive a luta...

Madrid, achando-se europeia, lá se vai mostrando também norte africana, num islamismo bem contido por uma igreja que, por aqui também, tentou criar o seu teocratico império, tal qual o português,  espalhado por este planeta (que, ao inicio, ainda dizia ser plano, achatado, tal prato de onde se podia cair para os horrores infernais do terrível e desconhecido infinito).

E não se teme por ser assim, diversa, e por isso latina!

E eis porque lá nos distinguimos nesta latina cultura, de tanto expansionismo feito, hoje dominados que estamos pela nórdica e neo liberal  barbárie...

Por aqui, por erradas, ou não, católicas razoes, já assumimos que os feriados e as pontes resultam de bênçãos de Deus, que não nos olha como escravos do trabalho pelo que não nos escondemos nos períodos de não trabalho, ( de improdutividade), e que pelos nortes  os nevões e as tempestades impõem, e justificam a pecaminosa preguiça, tão aparentemente “maldita”,  lá pelos ditos avançados nortes ...

Assim, por aqui ninguém recusa que também se trabalha, filosoficamente entendida nesta comercial via informal, quando  sentados num passeio por cima de um pano,  onde se mostram antiguidades, descobertas sabe-se lá como e onde, a preços em nada racionalizados, mas que alimentam muitas buchas..

Feiras que,  note-se, não existem somente nesta preguiçosa e improdutiva latinidade, pois o Portobello Road, entre outras, de ladroagem também feita,  lá está para  acentuar o como a preguiça, a informalidade, a improdutividade, a não industrialidade e a não pós industrialidade neo liberal,  lá se espalha por todos estes seres humanos que todos somos!

Verdade se diga que a Feira da Ladra começou como da Lada, isto é da Margem, curioso nome, tão próximo da informal economia que na hoje da Ladra se vive!

800 anos depois?

Da Ladra, que envergonha alguns dos que poderosos se chamam e que, por isso,  pressionam pelo findar de dois atos semanais de Empreendedorismo popular, ( e marginal ), pois  que só entendem o Empreendedorismo de fato e gravata feito,  de academismos apadrinhados, de manuais de gestão confirmados!

Da Ladra que à viva força querem normalizar com certificações e cartões de identificação de feirantes, retirando da mesma os que lá iam pelo gozo de estar entre feirantes visitantes e peças estranhas ou não !

Sentados no chão ou em pano solto.

Da Ladra descrita por Fernando Pessoa, poeta que Só parece merecer ser entendido se cantar o V Império, mas que não pode ser entendido  quando se encanta com a informalidade da Feira da Ladra.

Esta Feira da Ladra de turistas também feita, ( um negócio enfim e um negócio em muito cultural…), e que mereceria outra atenção para além do preenchimento de papeladas, para alem das multas aos automóveis que ficam impossibilitados de estacionarem, porque os com poder fecham espaços com potencial para receber nesses dias pelo menos os veiculos dos que trabalham nas organizações aqui sediadas,  para além dos incómodos que parecem originar aos impacientes e importantes vizinhos!

Na verdade, a sensação que dá é que a importância das Feiras da informalidade se relaciona significativamente com o grau de empenho cultural nas e das comunidades, pois o empenho cultural parece gerar distensão face ao informal, para não dizer interesse no informal.

Para não dizer Negócio no Informal!

Verdade seja dita que esta tendência para impor o desaparecimento da Feira da Ladra acompanha, bem, o desaparecimento dos seus vizinhos, dos bairros da Margem, como Alfama com o seu Fado de vadias e vadios a par de marqueses, condes e republicanos radicais, batendo-se, com a poesia e a canção, cada grupo com os seus valores próprios, animadamente defendidos nas prolongadas noites à Margem.

Tudo bem mantido enquanto Património Imaterial, institucionalizado, mas não amado apaixonadamente!

( ... O que não quer dizer que não me tenha entusiasmado com a vitoria que foi ver o Fado a Património Imaterial Mundial...)!

Porque não foi o acaso que transportou para a Margem de Alfama esta Feira à Margem que é também Feira da Ladra!

E certamente por isso o poeta do V Império a relatou sem pudor, com amor.




Joffre Justino
(Director Pedagógico)


E-mail :  jjustino@epar.pt

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