quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

o afrodilema por joão melo


“O afrodilema”, por João Melo

"As mudanças que ocorrem em África e em outras partes do mundo não-ocidental, originadas ou influenciadas externamente, nem sempre significam uma efetiva modernização".
Redação revista África21
 
Brasília - A modernização política de África pode ser imposta de fora, pelo ativismo de antigos revolucionários de café, hoje uma mistura de ultraliberais e de vestais «politicamente corretos», quase mórmons, mas que não têm de enfrentar as dificuldades concretas e diárias dos povos africanos, pela influência de entidades que se acreditam especializadas em exportar a democracia e a transparência para as nações «bárbaras» ou pela pressão de governos estrangeiros, a qual, no limite, pode mesmo incluir, à moda do colonialismo tradicional, a força militar?

Só sendo, na melhor das hipóteses, naive para acreditar nisso. É certo que, presentemente, o fator externo tem uma influência jamais vista na história da humanidade, pelo que seria burrice ignorá-lo. Mas os acontecimentos recentes confirmam que os elementos internos continuam determinantes para que os diferentes países se modernizem de facto, não se limitando a ser uma espécie de cópias baratas, para não dizer caricaturas, daqueles que se modernizaram há mais tempo ou, pior ainda, sejam forçados a aceitar novas submissões.

Assim, por um lado, uma análise um pouco menos impressionista, apressada e superficial permite descobrir a hipocrisia que muitas vezes se esconde nas boas intenções, nas críticas e nas pressões daqueles que, de fora, em especial no chamado Ocidente, acham que têm a fórmula mágica para impor a democracia e tornar menos «corruptos» os africanos. Na realidade, a corrupção continua a ser frequente em tais países, enquanto a democracia é posta em causa todos os dias, como demonstram, só para dar um exemplo atual, os planos de vários países democráticos desenvolvidos para controlar a internet.

Por outro lado, as mudanças que ocorrem em África e em outras partes do mundo não-ocidental, originadas ou influenciadas externamente, nem sempre significam uma efetiva modernização política, social e cultural. Em alguns aspetos, acarretam mesmo um retrocesso. Como todos já parecem ter esquecido que o regime monopartidário, mas cultural e socialmente aberto, do xá do Irão foi substituído por uma ditadura islamista «pura e dura», a atual evolução da dita «primavera árabe» aí está para atestar a minha afirmação.

Tudo isso torna irrefutável que cada sociedade tem de encontrar o seu próprio caminho para se transformar e modernizar, política, económica, social e culturalmente.

Leia na íntegra a crónica do escritor angolano, na edição de fevereiro da revista África21.

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