quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

patuá património mundial


Teatro em patuá e gastronomia macaense são património imaterial

FEBRUARY 9, 2012
Pela primeira vez duas associações macaenses apresentaram candidaturas para a lista de Património Cultural Imaterial de Macau. Os resultados tardaram mas chegaram: o teatro em patuá e gastronomia macaense foram aprovados.
Inês Santinhos Gonçalves
Quatro candidaturas foram aprovadas como Património Cultural Imaterial de Macau pelo Instituto Cultural (IC): a gastronomia macaense, o teatro em patuá, as crenças e costumes de A-Ma de Macau e as crenças e costumes de Na Tcha de Macau. A lista foi ontem divulgada pelo IC e vai agora ser avaliada em consulta pública durante 30 dias.
Foi a primeira vez que associações macaenses apresentaram propostas. A Confraria Macaense e o grupo de teatro Dóci Papiaçam Di Macau “mostraram grande entusiasmo ao apresentar as duas candidaturas”, referiu o IC em nota de imprensa. Para além destas, “a Associação do Templo da Calçada das Verdades de Macau e a Associação do Templo Na Cha esqueceram as desavenças do passado e juntaram esforços para apresentar a candidatura das ‘Crenças e Costumes de Na Tcha de Macau’”. A Associação de Ópera Chinesa dos Moradores Marítimos e Terrestres da Barra de Macau foi responsável pela apresentação da candidatura das “Crenças e costumes de A-Ma”.
Miguel Senna Fernandes, fundador do grupo de teatro Dóçi Papiáçam, recebeu a notícia com entusiasmo e alguma surpresa. Quando questionado sobre se o grupo estaria a preparar alguma actividade para assinalar a distinção, o macaense respondeu que não, “absolutamente nada”. Porquê? “Porque fui colhido de surpresa. Estava ainda hoje [ontem] a lamentar-me, a perguntar porque é que as coisas não aconteciam” – a candidatura foi entregue, explicou, no início do ano passado.
Tardou mas chegou, e agora Senna Fernandes tem apenas uma dúvida: “Temos de pensar como vamos comemorar isto”. A busca por um estatuto especial para o teatro em patuá tem sido uma luta do colectivo há “mais de 20 anos”. “O grupo conseguiu os seus objectivos de dignificar o teatro. Esperamos que isto possa ser um chamariz que faça com que outras pessoas se possam interessar pelo teatro em patuá.” E não só pela arte que sobe aos palcos, mas, acima de tudo, pelo dialecto que a sustenta: “Naturalmente que quem fala de teatro em patuá, fala de patuá. [Esta distinção] é um reconhecimento da especificidade da língua, agora transposta para o palco”.
O presidente da Associação dos Macaenses espera que a entrada do teatro maquista para a lista de património cultural imaterial desperte o interesse do público e ofereça “razão suficiente para as pessoas se debruçarem sobre o velho crioulo de Macau”.
Apesar de admitir que o apoio do IC tem sido essencial para a manutenção do grupo, permitindo-lhe apresentar uma peça todos os anos, Senna Fernandes lembra que o Governo de Macau deve ser mais atento ao patuá. “É importante que o Governo olhe de uma vez por todas, com olhos de ver, para o patuá. O patuá não é apenas confinado à comunidade macaense, mas é património de Macau e como tal deve ser partilhado por todos os seus cidadãos. Para isto é necessária a atitude do Governo de apoiar efectivamente iniciativas de difusão”, aponta.
O dirigente faz um balanço positivo do trabalho do grupo de teatro Dóci Papiaçam Di Macau: “Acho que conseguimos exportar o interesse pelo patuá. Se antes as pessoas não se lembravam de determinadas palavras, expressões – enfim, o velho falar em Macau – julgo que conseguimos trazer à tona aquilo que estava completamente deixado ao esquecimento”.
O Museu de Macau completou o processo de recolha das candidaturas na primeira metade do ano passado, tendo em seguida convidado três especialistas de património cultural imaterial de nível nacional e quatro especialistas locais para constituírem um júri e levarem a cabo os trabalhos de avaliação.
A partir de amanhã será realizada uma consulta pública com a duração de 30 dias no sentido de recolher a opinião dos diversos sectores da sociedade sobre as candidaturas apresentadas. Neste sentido, já se encontram disponibilizados nos sites do Instituto Cultural e do Museu de Macau as introduções e vídeos das quatro candidaturas. A consulta termina no dia 10 de Março.

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