sábado, 11 de fevereiro de 2012

os tacanhos opositores do AO


 © 2008 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A. 04 Abr, 2008, 20:34

 O professor João Malaca Casteleiro, linguista que participou na elaboração do Acordo Ortográfico, classificou hoje como "tacanha" a posição daqueles que se opõem à sua ratificação, pendente há 14 anos.


"Estou em crer que [a resistência à adopção do acordo] é uma perspectiva tacanha, de ver Portugal como proprietário da língua, o dono da língua, tendo os outros apenas de seguir o que Portugal estabelece", disse hoje à Lusa o linguista, membro da Classe de Letras da Academia das Ciências de Lisboa.
"Ora, a maior riqueza da língua portuguesa é ela ser compartilhada, neste momento, por oito países: Portugal, cinco países africanos, Timor-Leste - na Ásia, e também, não esqueçamos, a região administrativa especial de Macau, onde o português é língua oficial ainda pelos próximos 40 anos - e o Brasil", sublinhou.
Segundo Malaca Casteleiro, "é muito importante olhar para este futuro da língua portuguesa e para a sua importância no mundo".
"Essa é a maior dádiva dos descobrimentos portugueses, da expansão de Portugal pelo mundo: termos conseguido que a língua portuguesa perdurasse para além da independência das colónias que tivemos nos vários continentes", sublinhou.
Sobre os resultados da reunião da Comissão Parlamentar de Ética, Sociedade e Cultura, agendada para a próxima segunda-feira e destinada a debater o Acordo Ortográfico, o especialista afirmou que as suas expectativas "são muito positivas".
"Acho que há uma vontade política do Governo de levar por diante este processo que se arrasta há quase 100 anos (desde 1911, data do primeiro acordo entre Portugal e o Brasil) e ao qual é preciso pôr um termo", sustentou.
Na sua opinião, "as pessoas não querem compreender que a questão ortográfica se arrasta há quase um século e que é preciso pôr-lhe um termo".
"É preciso encontrar uma forma tanto quanto possível unificada de escrever a língua portuguesa sem alterar nada, no que respeita à morfologia, à sintaxe, à semântica, ao léxico da língua", defendeu.
O linguista frisou que o Acordo Ortográfico "só toca na forma de escrever, de grafar, as palavras e mais nada".
"A queda das consoantes mudas ou não articuladas é a principal mudança e é aquela que devia ter sido feita há muito tempo, porque se tivesse sido feita logo em 1911 ou 1931, em que era possível o acordo com o Brasil, o problema tinha-se ultrapassado facilmente", opinou.
"Não me digam que é por causa de passarmos a escrever `actor` sem `c`, ou `óptimo` sem `p`, ou `direcção` só com `c` cedilhado que a língua se vai alterar ou, mais do que alterar, adulterar. De modo nenhum", comentou.
Referindo "tantas alterações que se efectuaram ao longo da história da língua, o professor Malaca Casteleiro deu o exemplo do grafema "ph".
"Em 1911, substituiu-se o `ph`, que era até um grafema muito interessante - em pharmacia, em philipe, por exemplo, era bonito! - por `f`, que não tem a estética que tem o `ph`. E isso entrou no hábito das pessoas, por que é que agora não hão-de entrar estas alterações?", interrogou-se.
ANC.

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