Caríssimos Amigos,
Dia 17 de janeiro de
2013
Não podia deixar no
esquecimento um dia que tanto me marcou... ao longo dos últimos anos, pelos
momentos bons e outros menos bons...
Em homenagem a Miguel Torga, recordo o Grande Poeta e Escritor com o poema "Recomeçar" (que bem precisamos neste presente de
dificuldades) e um excerto diarístico que nos conduz
à terra (Devo à paisagem as poucas alegrias que tive neste mundo).
Em nome dos nomes grandes da
nossa Literatura, aqui fica a minha singela homenagem a Miguel
Torga (12-08-1907 - 17-01-1995).
Um abraço
torguiano,
M.ª Assunção Anes
Morais
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Recomeçar
Recomeça....
Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças...
Recomeça....
Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças...
Devo à Paisagem as Poucas Alegrias que Tive
no Mundo
Devo à
paisagem as poucas alegrias que tive no mundo. Os homens só me deram tristezas.
Ou eu nunca os entendi, ou eles nunca me entenderam. Até os mais próximos, os
mais amigos, me cravaram na hora própria um espinho envenenado no coração. A
terra, com os seus vestidos e as suas pregas, essa foi sempre generosa. É claro
que nunca um panorama me interessou como gargarejo. É mesmo um favor que peço ao
destino: que me poupe à degradação das habituais paneladas de prosa, a descrever
de cor caminhos e florestas. As dobras, e as cores do chão onde firmo os pés,
foram sempre no meu espírito coisas sagradas e íntimas como o amor. Falar duma
encosta coberta de neve sem ter a alma branca também, retratar uma folha sem
tremer como ela, olhar um abismo sem fundura nos olhos, é para mim o mesmo que
gostar sem língua, ou cantar sem voz. Vivo a natureza integrado nela. De tal
modo, que chego a sentir-me, em certas ocasiões, pedra, orvalho, flor ou
nevoeiro. Nenhum outro espectáculo me dá semelhante plenitude e cria no meu
espírito um sentido tão acabado do perfeito e do eterno. Bem sei que há gente
que encontra o mesmo universo no jogo dum músculo ou na linha dum perfil. Lá
está o exemplo de Miguel Angelo a demonstrá-lo. Mas eu, não. Eu declaro aqui a
estas fundas e agrestes rugas de Portugal que nunca vi nada mais puro, mais
gracioso, mais belo, do que um tufo de relva que fui encontrar um dia no alto
das penedias da Calcedónia, no Gerez. Roma, Paris, Florença, Beethoven,
Cervantes, Shakespeare... Palavra, que não troco por tudo isso o rasgão mais
humilde da tua estamenha, Mãe!
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