quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

música dos judeus

in diálogos lusófonos


Culturas lusófonas

Música dos judeus no Brasil Holandês

http://omelomano.blogspot.de/2008/05/msica-dos-judeus-no-brasil-holands.html


A presença de judeus no Brasil e seu impacto na cultura brasileira ainda estão completamente sub-dimensionados. Um autor que afirma isso é Martin Dreher, no 4º volume de sua série da História do Cristianismo, e também em sua história das leituras da Bíblia (veja sobre estes livros aqui). Mas mesmo este autor apenas dá a dica de que houve forte presença de judeus (na verdade cristãos-novos ou cripto-judeus) que praticaram suas festas litúrgicas na América Portuguesa e cuja religiosidade teve profundo impacto no catolicismo popular gestado nos três séculos de colonização portuguesa e depois violentamente reprimido pelo ultra-montanismo a partir de meados do século XIX. (Uma outra dica quente está aqui no Contra-senso)

Vem da musicologia uma bela contribuição ao conhecimento desta presença judaica. Ana Maria Kieffer reconstituiu algumas canções que testemunham a presença judaica: elas estão gravadas no disco Teatro do descobrimento, e as explicações da gravação estão no mesmo texto que explica a gravação dos Cantos Tupinambás.

Três canções são reconstituições de cantos sinagogais registrados no período do domínio holandês em Pernambuco (1630-1655) – único período em que a prática do judaísmo foi tolerada no continente colonizado pelos europeus. Outras duas são aboios recolhidos no nordeste por Mário de Andrade em 1928 – ambos com forte indício de influência judaica no folclore nordestino.

A primeira gravação é um poema de Isaac Aboab da Fonseca, rabino da sinagoga do Recife entre 1642 e 1654. Zecher asiti leniflaot El (1646) é considerado o primeiro poema judaico das Américas. Nesta gravação a melodia é criada e cantada pelo hazan David Kullock, estudioso da cultura sefardita, e complementada por rabeca e cravo (grupo Anima - faixa 14 do disco). O poema ficou assim na tradução de Sami Goldestein:

Memorial em nome de Deus, pois as lágrimas cessaram
Cantarei na minha cidade vivo com todo meu júbilo
Também cantarei sua misericórdia, se não cessarem
Uma canção não conforme Seu tamanho mas com toda minha força.
Pois quem poderia exaltar Suas Maravilhas elevadas
Sobre toda criação acima e abaixo de minha lua?
Será como lembrança para elogiar o Nome de Deus
Para a congregação do Deus Excelso e Rocha de Israel

A segunda música é exclusivamente vocal, um canto-recitado sinagogal – Mi chamocha, poema de autoria do mesmo rabino em comemoração à chegada de navios holandeses com víveres para abastecer a população do Recife faminta devido ao cerco de tropas portuguesas em 1647. Em 1648, nos estatutos da Congregação Tsur Israel, estabelece-se que este poema ou salmo seja recitado na data de celebração da chegada dos navios. Essa forma de recitar cantando é antiqüíssima na tradição sinagogal, e provavelmente foi desta prática que derivou o canto cristão que hoje se conhece (erroneamente) como Canto Gregoriano. (faixa 15 do disco)

A terceira música é o Cântico de Moisés, mencionado no mesmo estatuto de 1648, e cantado nesta gravação com a melodia mantida até hoje na Sinagoga Portuguesa Sherit Israel em Manhattan. Esta região de Nova Iorque (antiga Nova Amsterdã) foi fundada pelos judeus portugueses que fugiram do Recife após o fim do período holandês quando as chacinas e perseguições voltaram com força total. O acompanhamento instrumental (cravo e flauta – grupo Anima) tenta uma referência à harpa de Davi e às flautas dos pastores, bem como à prática dos comerciantes judeus abastados do Recife holandês, que se reuniam em suas casas para tocar instrumentos musicais. (faixa 16 do disco)

As duas cantigas de aboio recolhidas por Mário de Andrade denunciam a presença judaica. Na primeira delas o personagem encomenda ao sapateiro um calçado para a celebração do sábado judaico (faixa 13 do disco). Na segunda, uma referência a um certo “boi judeu” que a autora especula ser uma Torá presente nas casas de judeus do Recife. Pergaminhos de rolo guardados em uma caixa preta com pontas de fora e penduradas na parede, vistas da janela da rua podiam parecer a um cristão a cabeça de um boi chifrudo. Ainda mais quando a resposta do que fosse o objeto (Torá) pudesse ser equivocadamente entendido comotoura, conforme uma denúncia anotada contra um cristão-novo em Olinda, 1593 (faixa 17 do disco).

As gravações:
(no final do  link: http://omelomano.blogspot.de/2008/05/msica-dos-judeus-no-brasil-holands.html)



__._,_.___

Sem comentários:

Enviar um comentário