Onésimo em discurso direto
Onésimo Teotónio Almeida é uma
inquietação.
Uma entrevista dele em livro, Utopias em Dói
Menor – Conversas Transatlânticas
com Onésimo (Gradiva, 2012), que tem João
Maurício Brás como
seu entrevistador e interlocutor, acaba de ser editada.
Com avisados Prefácio e Posfácio
respetivamente de Carlos
Fiolhais e José Eduardo Franco, esta obra resulta de “uma longa
conversa,
iniciada há dois anos, e ainda não terminada” (pág.25) através
do diálogo oral
e por via internet.
Às perguntas bem informadas,
desafiadoras e certeiras de
João Maurício Brás (doutorado em Filosofia e que, neste momento,
está a ultimar
uma tese de pós-doutoramento precisamente sobre os ensaios
filosóficos de
Onésimo), o entrevistado vai respondendo, página a página,
capítulo a capítulo,
de forma lúcida e lúdica, falando de autores, livros e escolas,
estabelecendo
constantes relações/oposições com o passado e o presente, num
discurso de
grande alcance didático e pedagógico. Eis Onésimo a explicar, a
esclarecer, a
exemplificar e a esmiuçar dois universos culturais: o português
e o americano.
Eis Onésimo, o itinerante e o mundano, a debater teses e a
esgrimir argumentos
que nos interpelam e incentivam a pensar: a Modernidade e as
Mundividências, a
Identidade Portuguesa e os Mitos da nossa Cultura, a Tradição
Filosófica
Anglo-Americana, as Ciências Sociais, as Ideologias, os Valores,
a Ética, a
Estética, a Lógica, a Tradição Racionalista, a Metafísica, e
Epistemologia, o
Pragmatismo, entre outros.
Pessoalmente não conheço autor
mais interdisciplinar.
Porque Onésimo é curiosidade intelectual insaciável, um
pensamento, um método,
um estilo, uma originalidade, um confronto, um gosto pela
reflexividade, uma
atitude crítica, um modo de fazer humor, uma ironia que ele usa
como arma de
arremesso. Por isso é autor a todo o terreno. Em livros
publicados e em
colóquios, congressos, conferências, comunicações e debates,
Onésimo é Onésimo
e tudo: o filósofo (ou professor de Filosofia, como prefere ser
chamado), o
ensaísta, o académico, o palestrante, o intelectual, o
socrático, o liberal, o
contista, o cronista, o historiador de ciência e de cultura, o
autor de peças
de teatro e de prosemas, o irresistível contador de histórias, o
leitor
quilométrico, o homem culto, arguto, acutilante e perspicaz que
está atento ao
mundo e a tudo o que o rodeia.
Do Seminário de Angra do
Heroísmo (onde teve o professor
José Enes como figura tutelar) para a Universidade Católica, e
desta para o
doutoramento em Filosofia na Brown University – é todo um
percurso académico e
de vida que marca e molda este autor que, com 22 anos de idade,
deixou os
Açores para se repartir pelo mundo.
Contracorrente em muitas áreas,
Onésimo privilegia a
Filosofia Analítica e dá muita atenção à empiria. Mas também se
interessa pela
História e pela Ciência. Acima de tudo gosta de sínteses e não
se cansa de
aprofundar o tema da identidade portuguesa. Por exemplo, o papel
dos
portugueses na ciência moderna. Ou a importância de Portugal no
surgimento e na
expansão da mentalidade empírica.
Onésimo é um universitário que
nunca é maçudo, porque a
par da sua erudição, a simplicidade é uma das marcas da sua
escrita. Além disso
é imensa e insubstituível a generosidade com que põe o seu saber
ao serviço dos
outros.
Onésimo é mediático pelas
inúmeras crónicas que vai
escrevendo, bem como pela sua participação em muitos e múltiplos
colóquios
literários. E, no entanto, a maior parte da sua escrita é
ensaística de
temática não literária. (Ele próprio refere, na entrevista, que,
quem ensina –
e bem – Literatura na Brown, é Leonor Simas-Almeida, sua
preclaríssima esposa).
É certo que este micaelense está
atento à produção
literária deste e do outro lado do Atlântico, e não é menos
verdade que são de
referência os contributos que deu na divulgação de autores como
Fernando
Pessoa, José Rodrigues Miguéis e Jorge de Sena (para dar apenas
três exemplos).
Porém são os seus ensaios filosóficos, dispersos por inúmeras
revistas e livros
coletivos, que constituem a sua obra mais sólida e consequente.
Reunidos, esses
ensaios já deram os seguintes volumes: De
Marx
a Darwin – a Desconfiança das Ideologias
(Gradiva,
2009), O
Peso do Hífen.
Ensaios sobre a experiência luso-americana
(Lisboa, Imprensa
das Ciências Sociais, 2010) e uma reedição alargada de Açores,
Açorianos, Açorianidade
(Angra do Heroísmo, I.A.C., 2011). Que venham mais. Para já,
anuncia-se a
publicação de duas obras: A
Obsessão da Portugalidade e Despenteando
Parágrafos. Fico a aguardar com
impaciência, pois não escondo a minha admiração quase desmedida
pela Onesimiana.
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