domingo, 13 de janeiro de 2013

ONÉSIMO VISTO POR V RUI DORES


sexta, 14 dezembro 2012 11:09

Onésimo em discurso direto


Onésimo Teotónio Almeida é uma inquietação.
Uma entrevista dele em livro, Utopias em Dói Menor – Conversas Transatlânticas com Onésimo  (Gradiva, 2012), que tem João Maurício Brás como seu entrevistador e interlocutor, acaba de ser editada.
Com avisados Prefácio e Posfácio respetivamente de Carlos Fiolhais e José Eduardo Franco, esta obra resulta de “uma longa conversa, iniciada há dois anos, e ainda não terminada” (pág.25) através do diálogo oral e por via internet.
Às perguntas bem informadas, desafiadoras e certeiras de João Maurício Brás (doutorado em Filosofia e que, neste momento, está a ultimar uma tese de pós-doutoramento precisamente sobre os ensaios filosóficos de Onésimo), o entrevistado vai respondendo, página a página, capítulo a capítulo, de forma lúcida e lúdica, falando de autores, livros e escolas, estabelecendo constantes relações/oposições com o passado e o presente, num discurso de grande alcance didático e pedagógico. Eis Onésimo a explicar, a esclarecer, a exemplificar e a esmiuçar dois universos culturais: o português e o americano. Eis Onésimo, o itinerante e o mundano, a debater teses e a esgrimir argumentos que nos interpelam e incentivam a pensar: a Modernidade e as Mundividências, a Identidade Portuguesa e os Mitos da nossa Cultura, a Tradição Filosófica Anglo-Americana, as Ciências Sociais, as Ideologias, os Valores, a Ética, a Estética, a Lógica, a Tradição Racionalista, a Metafísica, e Epistemologia, o Pragmatismo, entre outros.
Pessoalmente não conheço autor mais interdisciplinar. Porque Onésimo é curiosidade intelectual insaciável, um pensamento, um método, um estilo, uma originalidade, um confronto, um gosto pela reflexividade, uma atitude crítica, um modo de fazer humor, uma ironia que ele usa como arma de arremesso. Por isso é autor a todo o terreno. Em livros publicados e em colóquios, congressos, conferências, comunicações e debates, Onésimo é Onésimo e tudo: o filósofo (ou professor de Filosofia, como prefere ser chamado), o ensaísta, o académico, o palestrante, o intelectual, o socrático, o liberal, o contista, o cronista, o historiador de ciência e de cultura, o autor de peças de teatro e de prosemas, o irresistível contador de histórias, o leitor quilométrico, o homem culto, arguto, acutilante e perspicaz que está atento ao mundo e a tudo o que o rodeia.
Do Seminário de Angra do Heroísmo (onde teve o professor José Enes como figura tutelar) para a Universidade Católica, e desta para o doutoramento em Filosofia na Brown University – é todo um percurso académico e de vida que marca e molda este autor que, com 22 anos de idade, deixou os Açores para se repartir pelo mundo.
Contracorrente em muitas áreas, Onésimo privilegia a Filosofia Analítica e dá muita atenção à empiria. Mas também se interessa pela História e pela Ciência. Acima de tudo gosta de sínteses e não se cansa de aprofundar o tema da identidade portuguesa. Por exemplo, o papel dos portugueses na ciência moderna. Ou a importância de Portugal no surgimento e na expansão da mentalidade empírica.
Onésimo é um universitário que nunca é maçudo, porque a par da sua erudição, a simplicidade é uma das marcas da sua escrita. Além disso é imensa e insubstituível a generosidade com que põe o seu saber ao serviço dos outros.
Onésimo é mediático pelas inúmeras crónicas que vai escrevendo, bem como pela sua participação em muitos e múltiplos colóquios literários. E, no entanto, a maior parte da sua escrita é ensaística de temática não literária. (Ele próprio refere, na entrevista, que, quem ensina – e bem – Literatura na Brown, é Leonor Simas-Almeida, sua preclaríssima esposa).
É certo que este micaelense está atento à produção literária deste e do outro lado do Atlântico, e não é menos verdade que são de referência os contributos que deu na divulgação de autores como Fernando Pessoa, José Rodrigues Miguéis e Jorge de Sena (para dar apenas três exemplos). Porém são os seus ensaios filosóficos, dispersos por inúmeras revistas e livros coletivos, que constituem a sua obra mais sólida e consequente. Reunidos, esses ensaios já deram os seguintes volumes: De Marx a Darwin – a Desconfiança das Ideologias  (Gradiva, 2009), O Peso do Hífen. Ensaios sobre a experiência luso-americana  (Lisboa, Imprensa das Ciências Sociais, 2010) e uma reedição alargada de Açores, Açorianos, Açorianidade  (Angra do Heroísmo, I.A.C., 2011). Que venham mais. Para já, anuncia-se a publicação de duas obras: A Obsessão da Portugalidade e Despenteando Parágrafos. Fico a aguardar com impaciência, pois não escondo a minha admiração quase desmedida pela Onesimiana.

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