terça-feira, 15 de novembro de 2011

AOS 100 ANOS DA REAL ACADEMIA GALLEGA DE LA CORUÑA

AOS 100 ANOS DA REAL ACADEMIA GALLEGA DE LA CORUÑA
Mais uma análise de discurso
RESUMO:
Sobre os textos proferidos na «Sesión inaugural del 30 de Septiembre de 1906» realizada na «Reunión Recreativa e Instructiva de Artesanos» para a «Constitución de la Academia» analiso as duas tendências discursivas dominantes:
a) A representada nas palavras de Manuel Murguia, «Señor académico Presidente» e na exposição de Manuel Lago González, que poderíamos considerar “reintegracionista”. Assim diz Murguia: «[...] no se borra tan dácilmente en los labios que la mamaron, la lengua que habló este pueblo durante más de diez siglos, que es la que hablan y entienden cerca de tres millones de gallegos, dieciocho millones de habitantes en Portugal y sus dominios, doce en el Brasil.»
b) A representada no «Mensaje que la Directiva de la Asociación Iniciadora y Protectora de la Academia Gallega dirige a tan docta Corporación con motivo de su inauguración oficial» e no «Discurso del Excelentísimo Señor Don Leandro de Saralegui y Medina». Explica la citada Directiva: «[...] la política en España, particularmente en la última década del pasado siglo, tiene el triste privilegio de representar todos los desastres que al presente afligen a la Patria, razón por la cual, [...] sería torpeza insigne llevar su maléfica influencia al único paraje a donde no deben llegar las rivalidades y ambiciones del personalismo: al umbral académico [...] Descartados, pues, por inofensivos, los ataques de los eternos enemigos del progreso moral y material de nuestra patria nativa, reconcentrad vuestras fuerzas y acometed de lleno la edificación del glorioso monumento confiado a vuestra sabiduría y patriotismo.»
Acrunha, 27 de Junho de 2006
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0.- BREVE HISTÓRIA
Tomo do sítio RAG: os seguintes dados:
     A necesidade da creación dunha Academia [...] non chegará a frutificar ata o 30 de setembro de 1906, data oficial da súa constitución de iure no salón da Reunión Recreativa e Instructiva de Artesanos. [...]
     Anteriormente, no ano 1895, atopamos un antecedente próximo na constitución da Comisión Xestora para a creación da Academia Galega sobre a base dunha sociedade, Folklore Gallego, presidida por Emilia Pardo Bazán. [...]
     [A emigração] seguiu moi estreitamente a loita da cultura galega por acadar un espazo diferenciado no que reivindicar unha identidade propia.[...]
Em 1905, Fontenla Leal e Curros Enríquez tomam a iniciativa de fundar na Havana a Asociación Iniciadora y Protectora de la Academia Gallega, cujos correspondentes na Galiza são os integrantes da Cova Céltica. Manuel Murguia presidia as suas reuniões na Livraria Regional de Ugio Carré Aldao, situada na rua Rego de Água.
     Esta primeira etapa da Real Academia Galega (1906‑1923) marcada pola presidencia do Patriarca non estará exenta de polémicas e duros enfrontamentos.
Desde o 20 de Maio de 1906 é publicado o Boletín de la Real Academia.
A «segunda etapa da Real Academia Galega (1923‑1936)» foi presidida por «Andrés Martínez Salazar (1923) [«astorgano pero plenamente integrado en la cultura gallega, con una importante obra en su haber y sobre todo con una extraordinaria capacidad empresarial siempre en relación con la cultura» (J. R. Fernández B. 1986: 340)], Francisco Ponte Blanco (1923-1926), Eladio Rodríguez González (1926‑1934) [«autor de importantes obras y, sobre todo, del Diccionario de la Lengua Gallega» (ib.)] e Manuel Lugrís Freire (1934‑1935) [«de Sada, pero incorporado al grupo intelectual de La Coruña, autor de muchas composiciones, debiendo destacarse su dedicación al teatro gallego» (ib.)].
A terceira etapa (1942-1977), marcada pela guerra civil (1936-1939), é definida pela «semiclandestinidade»: «Acceden á presidencia Manuel Casás Fernández (1942-1960) e Sebastián Martínez Risco y Macías (1960-1977)». Do primeiro, que fora “alcalde de La Coruña” de 1915 a 1917 e de 1925 a 1927 (ib.: 401 e 406) diz o atual presidente da RAG:
     En el año 1936, el 24 de diciembre, es nombrado accidentalmente [...], sin duda por las buenas relaciones con el nuevo régimen [...]. En 1940 pasa de Presidente accidental a Presidente Interino hasta que em 1942 adquiere la Presidencia con carácter definitivo. (J. R. Fernández B. 1986: 340)
Na quarta etapa (1977-...) Domingo García‑Sabell (1977‑1997) verifica as seguintes atuações:
     a) o acordo, no 1982, entre a Real Academia Galega e o Instituto da Lingua Galega en materia de Normas ortográficas e morfolóxicas do idioma galego, [...]; b) o recoñecemento á RAG na Lei de Normalización Lingüística; c) a creación, primeiro, do seminario de lexicografía [...] e, máis tarde, do seminario de sociolingüística (que realizaría o Mapa sociolíngüístico galego, [...]).
Francisco Fernández del Riego (1997-2001) e Xosé R. Barreiro Fernández (2001-...) são os últimos presidentes da RAG.
1.- DISCURSO DOMINANTE E DISCURSO DOMINADO
1.1.- ORDENS OU MODOS DE SER
Em A. Gil Hernández 2006: 160-162, sobre as reflexões de A. Wilden (por sua vez sobre as análises de Lacan), referi a Nação à Ordem do Simbólico, enquanto à Ordem do Imaginário adscrevi o Estado (ou em geral tudo o atinente ao estado [moderno]). Tento agora concretizar essas referências e confrontá-las com os discursos sobre a Galeguidade, em que os textos inaugurais da RAG se acham inscritos, mas habituais na Galiza (= “Comunidad Autónoma de Galicia” [CAG], e faixa ocidental do “Principado de Asturias” [PA] e da “Comunidad Autónoma de Castilla y León” [CACyL]; alguns incluem os “Tres Lugaris” da “Comunidad Autónoma de Extremadura” [CAE]).
As reflexões de A. Wilden induzem-me a conferir a situação sociopolítica da Galiza com os modos de ser —real ou primário, imaginário ou secundário e simbólico ou terciário—, interdependentes (A. Wilden 1972.1979: 212), que, aliás, podem ser confrontados, na teoria de Charles S. Peirce, com os interpretantes dos signos icónico [ícones], deíctico [índices] e linguístico [símbolos] respetivamente (A. Tordera 1978: 128-134); deixo o tema para outra ocasião.
1.1.1.- MODOS DE SER INDIVIDUAIS E SOCIOPOLÍTICOS
1.1.1.1.- MODO DE SER REAL
O modo real abrange o que costuma entender-se por real ou diretamente perceptível. Como no estádio da história em que nos achamos é privilegiado o indivíduo e o que o indivíduo valida, julgo, ao caso, a hipótese de na Galiza tomar por reais (ainda) os fenómenos que o indivíduo assim estima. Assinalo, entre outros possíveis:
1.º  As falas galegas percebidas como diferentes das castelhanas.
2.º  O povoamento rural notoriamente disperso na Galiza, a respeito do castelhano.
3.º  As festas populares, a fomentarem a convivência dum jeito peculiar.
1.1.1.2.- MODO DE SER IMAGINÁRIO
O modo imaginário é «o reino das imagens, das duplicidades (da doblez, do fingimento, da hipocrisia até) e da identificação especular.» Neste modo «não há o Outro, mas apenas os outros» (A. Wilden 1972.1979: 96). A essência do modo imaginário fica expressa na disjunção aut / aut.
Como acima disse, do ponto de vista sociopolítico, atribuo este modo à organização estatal, que, ao caso, é o RdE, em processo avançado de “estatalização nacional”. Em correspondência com os fenómenos referidos no modo real, assinalo:
1.º  A imposição da língua castelhana como oficial do estado, factualmente nacional do RdE.
2.º  As demarcações municipais e provinciais, segundo a legalidade do RdE.
3.º  As festas nacionais, estatuídas no RdE, ultimamente o Día de la Fiesta Nacional (12 de Outubro) e o Día de la Constitución Española (6 de Diciembre).
1.1.1.3.- MODO DE SER SIMBÓLICO
No modo simbólico «o sujeito pode dizer eu: ele ou ela passam da relação imaginária de sujeito-objeto e de objeto-objeto à que os fenomenólogos denominam intersubjetividade do Simbólico» (A. Wilden 1972.1979: 60). O modo simbólico fica exprimido na reciprocidade et / et.
Do ponto de vista sociopolítico, confiro este modo com a nação e, ao caso, com os traços nacionais que, embora definhados, ainda persistem entre as gentes galegas:
1.º  A percepção de os indivíduos galegos falarem um idioma diverso da língua castelhana, embora duvidem como deva ser caraterizado.
2.º  A evidência de o povoamento rural disperso distinguir, no RdE, a Galiza, apesar de não ser reconhecido no ordenamento legal espanhol.
3.º  A convivência que (ainda) pervive nas festas populares, mesmo nas municipalizadas ou institucionalizadas. Curiosamente em bastantes delas é celebrado um produto próprio do lugar.
1.1.2.- “DESORDEM” INCUTIDA NOS MODOS DE SER
É comumente admitido o facto de na Modernidade o estado ser instrumento do Capital, que, ao longo do tempo, desde a Revolução industrial na Inglaterra (séc. XVIII),  o configura sobre o modelo revolucionário francês (1789-1804) reformado por Napoleão (1804-1814). Seja como for, o estado moderno reordenou as relações entre pessoas para as descarnar ao jeito das relações entre objetos (A. Wilden 1972.1979: 71). A reciprocidade (et / et), que define o modo de ser simbólico e se patenteia nas relações de solidariedade, foi subsumida na disjunção (aut / aut), que define as relações de poder próprias do modo de ser imaginário, dominante no estado do Novo Regime.
As nações, dantes reinos coexistentes amiúde sob um mesmo monarca, ficam subordinadas aos interesses, políticos, do estado, tornado em “Nation”, per se República, sem monarca. Destarte, o modo de ser imaginário, distintivo do estado, subsume e ajusta gradualmente as formas do modo de ser simbólico, próprio da nação, de modo que a mediação, procurada e realizada nela como comunidade, fica atravancada por o estado, que se erige em coletividade única, excludente e digna de ser representada como tal, em razão do fim e do meio, simultâneos e absolutos. A seguir tento exemplificar o discurso sobre tal processo substitutório nalgumas citações de textos jornalísticos, publicados nos dias em que redijo estas notas.
1.º Muitos são relativos à língua castelhana, imposta na Galiza como oficial do estado e nacional do RdE, sobre a “propia”, a “galega”, dentre os quais apenas cito umas afirmações de Esperanza Guisán: «Cómo ser buen gallego» (LVG, 05 de Julho de 2006):
     Que se aleguen razones culturales para conservar determinadas costumbres y tradiciones me parece aceptable [...]. Pero el recurso a la descalificación moral me parece deleznable. ¿Cómo y quién puede demostrar que se es mejor gallego por hablar en gallego? ¡Como si los caciques de antes y de siempre no hablaran en gallego! ¡Como si nuestros enemigos fueran los de más allá de Piedrafita. [...] Ser buen gallego es ser ciudadano del mundo y tener las ventanas abiertas para la comunicación con todos los demás. Ello no impide que trabajemos y nos esforcemos por enriquecer la cultura, en castellano y en gallego, que hemos recibido como un legado histórico los ciudadanos nacidos en Galicia.
2.º As demarcações municipais e provinciais do RdE foram impostas ao povoamento rural, notoriamente disperso na Galiza, em 1833. Eis alguns dos critérios com que o afrancesado Javier de Burgos y del Olmo (Motril, Granada 1778 ‑ Madrid 1849), secretário de estado de fomento em 1833, «estableció la división territorial por provincias, basándose en los planteamientos del Nuevo Régimen pero tomando como base la antigua división en reinos de España»:
     En el proyecto [...] subyace la idea de las provincias como estructuras territoriales, que no políticas o históricas, el diseño provincial, siendo principalmente funcional, era el reflejo de la política uniformada liberal propia de 1833.
     Su proyecto carecía de censo oficial de población [...], su aportación se reduce a su carácter de afrancesado [ao modo das prefecturas francesas] [...].
     Su criterio basado en elementos de juicio como la salubridad, la influencia de las sedes episcopales o la parcialidad de aceptar presiones de las ciudades en su lucha por la capitalidad, hacen del Real Decreto de Javier de Burgos el modelo provincial que permanece vigente en 2004. (Vid. «El siglo XIX y la revolución liberal»)
3.º  As festas nacionais, estatuídas no RdE, como podem ser o Día de la Fiesta Nacional (12 de Outubro) e o Día de la Constitución Española (6 de Diciembre), opõem-se às festas populares, a fomentarem a convivência da gente.
A) Cito uma notícia em que «A Mesa critica la ausencia de la cultura gallega en fiestas» (LOC, 3 de Agosto de 2006); ligam-se nela o não uso da língua “propia” e a sobreposição institucional:
     A Mesa pola Normalización Lingüística ha denunciado la ausencia del gallego y de grupos gallegos en las fiestas. [...]
     El alcalde negó ayer las acusaciones de A Mesa y recordó que el pregón de las fiestas, a cargo de la artista Teté Delgado, fue en gallego: “Si empezamos el día 31 con Berrogüeto y ayer (el martes), que yo sepa, escuchamos un pregón en un magnífico gallego. En la inauguración de la Feria del Libro, salvo que tenga un problema disléxico, hablé en gallego”, matizó Losada.
B) Na seção «Encuesta» (LOC, 2 de Agosto de 2006), à pergunta “¿Cree que un mes es demasiado tiempo para las fiestas?” Carmen Figueroa, “ama de casa”, responde:
     No sé si deberían durar más, pero yo tengo la sensación de que no son las fiestas tradicionales. Para mí no son fiestas. No hay barracas, únicamente conciertos. Antes la gente bajaba y tomaba algo, salían todos beneficiados. Desde los hosteleros hasta los niños, que disfrutaban más de todo.
1.2.- DISCURSOS REFERIDOS À LÍNGUA DA GALIZA
Passo a examinar os discursos sobre a língua na Galiza (“española”). Para melhor entendê-los, lembro o conceito de língua oficial e de língua nacional, que defini em A. Gil Hdez 1987: 247-334, sobre R. A. Hudson (1980.1981: 131-139) e R.E. Dowse-J. A. Huges (1972.1975: passim):
     A língua oficial acha-se ligada ao exercício do Poder num dado território [...]. Os seus usos, explicitamente institucionalizados, sobrepõem-se a determinados processos comunicativos e interferem os restantes; neste sentido cabe afirmar que obedece[m] a um certo princípio de mediação, objetivável enquanto rende efeitos de validação jurídica aos cidadãos. Por outro lado, a língua nacional [...] define a pertença dos indivíduos à Comunidade Linguística e garante a existência diferenciada desta num território dado. Os seus usos não apenas possibilitam a comunicação “espontânea”, mas sobretudo evidenciam a solidariedade entre os usuários; neste sentido pode dizer-se que se rege[m] por um certo princípio de imediação (ib.: 280-281; Vid. 278-285).
Os usos da língua nacional (acho) condizem com o modo simbólico, que alicerça na conjunção et / et, até ao ponto de exprimirem a convivência entre pessoas, circunstanciadas por relações de solidariedade, de regra satisfatórias (ou ocasionalmente insatisfatórias).
Porém, os usos da língua oficial quadram com o modo imaginário, que se baseia na disjunção aut / aut. Evidencia-se neles o relacionamento dos órgãos do estado com o cidadão, cuja caraterística dominante é a abstração (ou inconcreção), a explicar e exprimir relações de poder, únicas admissíveis nos âmbitos institucionais.
Apesar de o estado-RdE procurar que a língua oficial exerça as funções da língua nacional, de facto nos discursos sobre a língua, emitidos em ocasiões institucionais, prevalece a inconcreção. Em A. Gil Hernández 1984.1986: 98-120, ao examinar o discurso sobre a “lingua galega”, analisei duas séries de procedimentos retorizadores, abstrativos, que denominei constritivos (a elipse do agente e/ou do instrumento, a qualificação redutora e a negação parcial) e translativos (a metonimização ou translação abstrativa e consequencial, e a metaforização).
Julguei então que esses procedimentos foram utilizados pela “filoloxía oficial”, assente nas Universidades “españolas” da CAG, apenas para conformar a “lingua galega” como “língua rexional”. Porém, hoje acho que são também empregados para particularizar a língua oficial e nacional do RdE com a diferença, aqui só apontada, de que, aplicados à “língua rexional”, ocultam traços distintivos essenciais e portanto a aviltam, enquanto, aplicados à língua oficial-nacional, a singularizam em excesso e consequentemente a magnificam.
Seja como for, esses procedimentos amostram o facto de os discursos Filológico e “filolóxico” procurarem dous géneros de legitimação: pelo primeiro, a língua castelhana fica declarada oficial e nacional do RdE; pelo segundo, a “galega”, “língua de seu” não-portuguesa, é conformada como “lengua también oficial”, mas de nenhum jeito língua nacional. Destarte tais discursos não apenas convêm, mas sobretudo patenteiam a “nova” organização sociopolítica do RdE, de que a CAG é parte do todo que o reino é.
Contudo, nos textos sobre a língua castelhana parecem elaborados com retorização paradoxal, porque, sendo de preferência diretivos e informativos, neles predominam procedimentos que esperavelmente seriam utilizados para exprimir as relações de solidariedade.
2.- DISCURSOS ACADÉMICOS (1906)
Paso a considerar quatro textos lidos ou ditos no ato inaugural da RAG em 30 de Setembro de 1906, que distribuo em duas seções. Na primeira examino a «Mensaje que la Directiva de la Asociación Iniciadora y Protectora de la Academia Gallega dirige a tan docta corporación con motivo de su inauguración oficial» e o «Discurso del excelentísimo señor don Leandro de Saralegui y Medina». Na segunda reflito levemente sobre o «Elogio de la lengua gallega», do Manuel Lago González, na altura presbítero e depois arcebispo de Compostela, e sobre o «Discurso del Señor Académico Presidente», Manuel Murguia.
2.1.- TEXTOS REFERÍVEIS AO MODO DE SER IMAGINÁRIO
a) «Mensaje [da] Directiva de la Asociación Iniciadora y Protectora de la Academia Gallega...»
No início afirma-se com retórica de contundência quase militar, ao jeito do séc. XIX:
     ¡Adelante, señores Académicos! Las huestes intelectuales que foran la cruzada de patriotas, reconocen en vosotros a sus jefes irreemplazables, y al proclamaros sus caudillos invictos y rendiros acatamiento y pleitesía, depositan en vuestras manos la enseña, cuyo lema: Todo por y para la cultura de Galicia, es garantía de acierto y nuncio de visctoria en las incruentas lides modernas. (BRAG 6-7: 132)
Imediatamente, com igual retórica, faz-se esta observação:
     Os atribuirán finalidades políticas; tal vez designios criminales; pero esto es tan absurdo, tan inconcebible, que ni siquiera merece refutarse. Para hacer política, no es ciertamente un centro educativo lo más indicado: la política se hace en el partido, en el mitin, en la plaza pública, nunca en el sereno recinto académico, cuya atmósfera esterilizada, propia sólo para desarrollar el polen fecundo de la vida culta, rechaza como otros tantos gérmenes de muerte todo fermento de pasión y origen de disputa. (Ib.: 133)
A oposição, genérica, de “cultura” (na letra «desarrollar el polen fecundo de la vida culta») face a “política” (cuja verificação decorre, respetivamente, no «centro educativo» e no «partido», no «mitin», na «plaza pública») e a oposição, particularizada, de «atmósfera esterilizada» face a «gérmenes de muerte» (dentre os possíveis, são citados «fermento de pasión» e «origen de disputa») permitem deixar elidida a identificação dos acusadores ao tempo que no cotexto se acumulam as metáforas relativas a «cultura» (e língua).
Nas alíneas seguintes situa-se a Galiza-Galicia no lugar nacionalitário que lhe corresponde:
     Por otra parte, la política en España, particularmente en la última década del pasado siglo [XIX, tiene el triste privilegio de representar todoslos desastres que al presente afligen a la Patria, razón por la cual, y aunque no sea más que por eso, sería torpeza insigne llevar su maléfica influencia al único paraje a donde no deben llegar las rivalidades y ambiciones del personalismo: al umbral académico, cuya independencia de acción es garantía, la más firme, de la regeneración de nuestro pueblo, hoy por esas causas sumido en la ignorancia, desorientado, vacilante, y casi sin noción de sus deberes y derechos colectivos.
     Descartados, pues, por inofensivos, los ataques de los eternos enemigos del progreso moral y material de nuestra patria nativa, reconcentrad vuestras fuerzas y acometed de lleno la edificación del glorioso monumento confiado a vuestra sabiduría y patriotismo.
     Galicia, si quiere fijar su personalidad como región de ilustre abolengo; si, celosa de sus tradiciones, abriga la legítima aspiración de conservar su peculiar fisonomía, lo primero que necesita es unificar su lenguaje, su dulcísima habla, que de día en día va perdiendo su pureza a fuerza de mixtificarse, ya con la adopción de voces exóticas, bien con la caprichosa aplicación de los vocablos, ora con el abuso de neologismos —de procedencia dudosa—, y, sobre todo, una sintaxis arbitraria que, de no ponérsele coto, daría al traste con el idioma predilecto de Alfonso X, del Sabio. (Ib.: 133-134)
A oposição «Patria» [España] vs. «patria nativa» [“Galicia”] esclarece, dentro do modo de ser imaginário (aut / aut), o lugar que ocupa a «dulcísima habla» perspetivada desde a “estatalidade”, quer dizer, desde a língua oficial, a castelhana, que também não é denominada no texto:
     Tócaos ahora entrar libremente en el ejercicio de vuestra altísima misión. Bajo el lema «Colligit, Expurgat, Innovatque», inspirándoos en sus elevados preceptos, acometeréis en primer término la formación de un Diccionario y la Gramática oficial de nuestra lengua; y tanto para éste como para los demás fines, deberéis solicitar el apoyo y protección del poder central [do RdE] que viene prestando, con excelente sentido nacional [de “España”], a las Academias provinciales que florecen en Andalucía, Aragón, Valencia y Cataluña. (Ib.: 134).
b) «Discurso del excelentísimo señor don Leandro de Saralegui y Medina»
Vale a pena ler com atenção o parágrafo inicial:
     Galicia, tan rica en recuerdos, poseedora de tantos tesoros históricos, literarios y artísticos, tan apta para los avances de la cultura y el progreso humano, y, en una palabra, no menos digna de ser estudiada y enaltecida, por todos los conceptos, que la primera de nuestras distintas regiones peninsulares, es, tal vez, si no la última, una de las menos aten­didas y más olvidadas de todas ellas, hasta el extremo de no haberse borrado todavía el común pensar y sentir del resto de España —por mucho que nos hagamos la ilusión de creer lo contrario—, las viejas y tenaces preocupaciones de que hemos sido objeto mucho tiempo y de que debiera haber desaparecido ya hasta el recuerdo. (Ib.: 141)
Saliento a identificação, persistente hoje, de “Península” e “España”, com preterição de Portugal. Aliás, “Galicia”, “región española”, não deve tomar-se como expressão habitual na época, mas como concepção, dominante então e hoje, do todo (“España”) a incluir a parte (“región”). Por don Leandro conhecer a organização da “España” do Medievo, pode afirmar a seguir:
[...] Galicia no está todavía, ni con mucho, a la altura del progreso científico y literario de otros antiguos estados independientes de la Península, con los que puede y debe aspirar a competir dignamente. (Ibídem)
Deixo de lado umas preciosas citações e transcrevo as que melhor evidenciam o meu intento:
     Porque si no ha tenido jamás la significación política y militar de algunos otros reinos o señoríos de la España cristiana de la Reconquista y pudo haber dejado, por lo tanto, de figurar en primer término en los anales de la patria común, Galicia se relaciona por la crítica de nuestros días como uno de los principales factores de la vida nacional, bajo el punto de vista de su influencia en el proceso de la cultura y civilización ibéricas, hasta el extremo de que, sin estudiar primero los hábitos y los monumentos, las instituciones y las costumbres, la historia y la tradición del país gallego, jamás será posible remontarse al origen de muchos y muy importantes caracteres del orden social, literario y artístico de los grandes pueblos hermanos de la Península. (Id.: 144-145)
Acabo com o parágrafo conclusivo:
     Lejos de infundir temores de que debamos preocuparnos por un solo momento siquiera, la realización del santo ideal que perseguimos nos aproximará cada vez más, en el éxtasis de fecundas emulaciones, a las restantes provincias de España, elevando a la altura de los suyos los preciados y hoy desconocidos títulos de nuestras antiguas grandzas; rico y copioso venero de riqueza histórica y de cultura nacional que abre ancho campo a la noble ambición de la Academia Gallega, cuyos primeros frutos no han de hacerse esperar mucho tiempo [...] (Ib.: 164)
Em suma, o discurso do modo imáginário (estado, “España”) domina em todo o caso o discurso do modo simbólico (nação, Galiza), porquanto, sendo a Galiza apenas parte do estado, a entidade que lhe puder ser atribuída tem de alicerçar justamente no reconhecimento dela que fizer o estado.
2.2.- TEXTOS REFERÍVEIS AO MODO DE SER SIMBÓLICO
a) «Elogio de la lengua gallega»
Manuel Lago González, arcebispo de Compostela por entre 1924 e 1925, elevou um elogio da língua galega, de que cito alguns trechos, significativos. Diz quase no início do discurso:
[...] Se ha constituido esta Academia para estudiar juntamente con la Historia y la Literatura de Galicia, la Lengua dulcísima que pronuncian nuestros labios, esta lengua que por su constitución intima, si bien no por su desarrollo en el campo de las letras, me ha parecido siempre (y perdonadme si juzgáis que exagero) la más hermosa de las lenguas neolatinas y aun acaso la más bella de cuantas se hablan en el mundo. (Ib.: 137-138)
É desde o entusiasmo pela sua língua que deve entenderse o que, depois de fazer um breve percurso pela história da língua da Galiza, a respeito da castelhana, afirma:
     El descubrimiento de los antiguos cancioneros gallegos ha traído al campo de la literatura y de la filología románicas tesoros de valor inapreciable, que antes sólo nos era permitido vislumbrar en una frase del Marqués de Santillana. (Ib.: 138)
Reflete abaixo sobre as relações entre a língua nacional, a castelhana, e a “regional”. A meu ver, a observação de partida, e fulcral, acha-se na seguinte observação:
[...] El gallego va entonces a la cabeza de la literatura del Mediodía de Europa, y de tal modo absorve las energías de la inspiración ibérica, que hasta los poetas del Cancionero de Baena rinden tributo a la lengua galaica y componen sus versos más primorosos en el habla de Macías. (Ibídem)
A seguir aponta para a língua, símbolo da nação, capaz de ultrapassar as fronteiras e limitações do estado, como na realidade aconteceu, ao longo da história, com o Galego:
     Con el predominio del castellano desaparece por largo espacio el gallego literario, pero la lengua se conserva pura y evoluciona poco a poco en los labios de nuestros aldeanos, y antes de surgir de nuevo ataviada con galas de fiesta, palpita de gozo, sin duda vien­do como a portuguesa, su hija, adquiere grandeza y cobra bríos para dar al mundo la epopeya de O Lusíadas, que con la gloria del reino de D. Manuel esparce por las naciones civilizadas acentos y palabras y frases nacidas en el corazón de Galicia. Era un gallego nuevo, un gallego transformado el que sonaba al otro lado del Miño y subía a las tablas con Gil Vicente y a los púlpitos con Vieira, pero gallego al cabo en su origen con la mayor parte de las bellezas de la lengua galaica. (Id.: 140)
b) «Discurso del Señor Académico Presidente»
Seja como for, é Murguia (acho) quem exprime com maior certeza as relações entre o Galego e o castelhano, enquanto língua nacional e oficial, respetivamente:
     Nueva es la Academia, cosa naciente, de la cual el país gallego tiene derecho a esperar que a su amparo florezca cuanto es nuestro y nos pertenece en el dominio de la inteligencia, esto es, lengua, poesía, historia, arte, cuanto se relaciona con nuestro pasado, cuanto constituye nuestro presente, cuanto tiene el deber de preparar el porvenir de este pueblo combatido por los destinos contrarios. (Ib.: 126)
Murguia situa-se numa perspetiva, reiterada no discurso, que, abrangendo passado, presente e porvir, invoca a concreção, própria do modo de ser simbólico, face à abstração, caraterística do modo de ser imaginário. É nesse sentido que pode entender-se o seu intento de interpretar a «Mensaje [da] Directiva de la Asociación Iniciadora y Protectora de la Academia Gallega...». Veja-se:
     Ellos nos lo han dicho: quieren que empecemos por el estudio del idioma que hablamos hace más de diez siglos. Hacen bien; pueblo que olvida su lengua es un pueblo muer­to. Quieren asimismo que penetremos en los abismos de la producción popular gallega, pues en ellos viven todavía las creencias, los sentimientos, el alma entera de Galicia. [...] Quieren, en fin, que recogiendo las reliquias del pasado e iluminándolas con la clara luz de los conocimientos actuales, tratemos de estudiarlas y darlas a conocer, haciéndolas propias y tan amables del hombre actual como lo fueron de los que nos han precedido, una vez nos hablan con voz potente, de su pasado, —para nuestro conoci­miento, más que oscuro—, pero tan lleno de la vida de nuestro pueblo, que, de conocerlas por entero, de haberlas estudiado bajo todos los aspectos, podíamos decir que conocíamos el alma entera de esa familia de hombres pacientes. (Ibidem)
Adiante, num como eco do discurso pronunciado nos Jogos florais de Tui (24 de Junho de 1891) e para reivindicar a língua galega como nacional, torna-se em testemunha do acontecido durante o séc. XIX na Galiza, “región” duma “España” em processo de vertebração dolorosa:
     Lo primero nuestra lengua.
     Puedo decirlo, porque de ello soy por mis años testigo irrefutable. Cuando yo era niño, todos a mi alrededor hablaban gallego. Cincuenta años bastaron para que las clases elevadas, que antes no entendían cometer falta, usando el lenguaje que todos entendían, hayan cambiado. No les bastó abandonar la casa paterna y desertar del campo de combate, sino que habiendo sido los que iniciaron este movimiento de regeneración, pusieron bien pron­to entre lo que nos pertenece y los nuevos pensamientos, que vienen a ampararlo, una profunda y dolorosa barrera. Siguiéronles en esta obra de exterminio, los insensatos, el mundo oficial con su fuerza incontrastable, la ignorancia de muchos, el despego de algunos, la petulancia de unos cuantos y, sobre todo, el creciente trato con los extraños, a quienes llegamos hasta permitir que maltraten el habla de nuestros padres, cubriéndola con el lodo se sus invectivas y proclamando a cada instante que un paso más y la lengua gallega desaparece.
     No será así, no se borra tan fácilmente en los labios que la mamaron, la lengua que habló este pueblo durante más de diez siglos, que es la que hablan y entienden cerca de tres millones de gallegos, dieciocho millones de habitantes de Portugal y sus dominios, doce en el Brasil. No puede perecer un lenguaje que tiene una literatura gloriosa, y nombres que son orgullo de la inteligencia humana. Por eso, y para recoger en Galicia su verdadero léxico, das a conocer su gramática, y afirmar su existencia, se fundó esta Academia. Porque el idioma de cada pueblo es el característico más puro y más poderoso de la nacionalidad. Gentes que hablan la lengua que no les es propia, es un pueblo que no se pertenece. (Ib.: 128)
Acho que ficou suficientemente apontado o facto de Murguia se situar no modo de ser simbólico, quando procura compreender e enaltecer a língua da Galiza ao longo da história, mas com pers­petiva de futuro.
3.- ALGUMAS CONSEQUÊNCIAS (PROVISÓRIAS)
Nesta comunicação ao 5º Colóquio Anual da Lusofonia: A Língua na Galiza, tentei mostrar a longa tradição dos discursos sustidos entre os interessados na Galeguidade:
1) Um (que não conflitua o discurso nacionalista espanhol, antes deriva dele) alicerça no modo de ser imaginário a constituir e distinguir o RdE, identificado com «la indisoluble unidad de la Nación española, patria común e indivisible de todos los españoles» (art. 2 da CE 1978). Nele se acham elementarmente inscritos a «Mensaje que la Directiva de la Asociación Iniciadora y Protectora de la Academia Gallega...» e o «Discurso del excmo. Sr. D. Leandro de Saralegui y Medina».
2) Outro (baseado num discurso [re-] nacionalizador da Galiza e não raro interferido pelo anterior dominante no RdE) alicerça no modo de ser simbólico à procura de continuidade nos elementos e factores nacionais da Galiza. Apesar da distância temoral e sociopolítica, acho representativos dele o «Elogio de la lengua gallega», de Manuel Lago González, e o «Discurso del Señor Académico Presidente», Manuel Murguia.
3) Tristemente continuam confrontados os dous discursos, embora cada vez menos confusos. O primeiro, se não foi gerado, está assumido pelas instituições do RdE na CAG e nas «Comunidades Autónomas» limítrofes, como, aliás, era esperável e consta nos Estatutos reformados da RAG.
4) O discurso que sustinham Manuel Lago e Manuel Murguia é hoje sustido, nem sempre com esclarecimento, por pessoas e entidades não institucionais, mas com peso na sociedade da Galiza.
5) Acho que este é o discurso que mais simpatias suscita entre pessoas e, chegado o caso, também entre determinadas instituições da Lusofonia.
O antropólogo Pierre Clastres publicou em 1974 La société contre l’état. Acho que a inversão do título resume bem o que pretendi patentear na comunicação: É o estado o que está (sic) contra a sociedade, entendida como nação. Continuarei a refletir pela via dos comportamentos humanos.
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BIBLIOGRAFIA
AGAL (1984.1986), Actas. I Congresso Internacional da Língua Galego-Portuguesa na Galiza, Ourense, 20-24 de Setembro de 1984, AGAL, Acrunha-Ourense.
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Boletín de la Real Academia Gallega, nums. 6-7 (Acrunha, 20 de Novembro de 1906). Cita-se por BRAG.
P. Clastres (1974), La société contre l’état. Recherches d’anthropologie politique, Les Éditions de Minuit, Paris.
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«El siglo XIX y la revolución liberal», pode consultar-se em
A. Gil Hernández (1984.1986), «Aproximaçom à análise do[s] discurso[s] sobre a língua em textos da “filoloxía oficial” na Galiza (Traços fascistóides no discurso e prática [dos] isolacionistas sobre o galego)» in Actas 1984.1986: 81-126.
A. Gil Henández (1987), «Sobre dicionarios galegos e temas enleados. Conversa (grafada) com Isaac Alonso Estravís, diretor e autor do Dicionário da Língua Galega comum» epílogo a I. Alonso Estravis 1987: 247-334.
A. Gil Hernández (2006), Temas de Linguística Política, Associação de Amizade Galiza-Portugal, Braga.
R. A. Hudson (1981), La sociolingüística, Ed. Anagrama, Barcelona. Versão castelhana de R. A. Hudson (1980), Sociolinguistics, Cambridge University Press, Cambridge.
M. Lago González (1906), «Elogio de la lengua gallega» in BRAG: 137-141.
«Mensaje que la Directiva de la Asociación Iniciadora y Protectora de la Academia Gallega dirige a tan docta corporación con motivo de su inauguración oficial» (1906), in BRAG: 132-135.
M. Murguia (1906), «Discurso del Señor Académico Presidente» in BRAG: 125-129.
L. de Saralegui y Medina (1906), «Discurso del excelentísimo señor don Leandro de Saralegui y Medina» in BRAG: 141-164.
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