quarta-feira, 30 de novembro de 2011

DO IBERISMO AO 1º DEZEMBRO in ChrónicAçores vol.2


16.5. Do Iberismo ao 1º de dezembro
Gostava JC de ter algumas réstias do sempiterno otimismo mas a
desoladamente, a sua reserva, está no nível mínimo desde há déca-das. Mas quando, ano após ano, a chuva cai dentro de casa e alaga o chão ou móveis como se não houvesse teto, tem de assumir a péssi-ma qualidade das casas e que os ”mestres” de construção não passam de biscateiros incapazes de fazerem a obra como deve ser. Mas se vai a um restaurante o resultado é similar com um serviço deficiente a preços de luxo, se vai a um mecânico automóvel idem aspas. E o mesmo se passa na saúde, na justiça, na ignorância santa dos novos professores, na incompetência dos que governam e dos que são man-dados. É esta a tradição. Não é de hoje, vem de longe como consta-tou hoje ao traduzir este parágrafo
     Enquanto a Terceira e as ilhas próximas resistiam ao assalto dos espanhóis à Coroa portuguesa, S. Miguel franqueou-lhes a entrada. Esta diferença deveu-se ao facto de o Corregedor Ciprião de Figueiredo estar sedeado em Angra. Fiel apoiante do Prior de Crato, terá proferido a frase “antes morrer livres que em paz sujeitos”. Por outro lado, a capitania de S. Miguel estava na mão da influente família Gonçalves da Câmara. Além disso, residia nessa altura em São Miguel o Bispo dos Açores, D. Pedro de Castilho, fiel a Filipe II. Viria a ser Vice-Rei de Portugal em paga da sua fidelidade à causa castelhana. Mais tarde, o Capitão do Donatário de São Miguel receberia o título de Conde de Vila Franca.

Abundam assim os que esquecem o terror do domínio castelhano e
pressurosos querem entregar o país ao vizinho ibérico.
Miguel Urbano Rodrigues escrevia em 2006:





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J. Chrys Chrystello



Os iberistas, ao esboçarem uma Espanha pletórica de energias, de
progresso e criatividade, simulam esquecer que o país exibe a mais
alta taxa de desemprego da UE. Não aludem ao racismo e à xenofobia
…onde os imigrantes, sobretudo os magrebinos, equatorianos e colom-
bianos são mais discriminados.
Há três décadas a Espanha não existia como parceiro comercial. Hoje
ocupa o primeiro lugar nas importações portuguesas. A banca espanho-
la conquistou uma parcela importante. O mesmo ocorre com a hotelaria
e grandes transnacionais como El Corte Inglês e Zara. As imobiliárias
espanholas invadem as cidades. … no Alentejo capitalistas espanhóis
compraram já as melhores terras no Alqueva. Adquiriram milhares de
hectares para criação de porcos, lagares e plantação de oliveiras e vinhas. Essa invasão é festejada pelo Governo de Sócrates e pela grande burguesia. ... Agradecem. Com a espontaneidade da nobreza
de 1383 a saudar D João De Castela e a nobreza de 1580 a alinhar
com Filipe II. Essa forma de dominação económica encobre uma moda-
lidade de intervenção imperial. “Alentejo Popular”(Beja) 02-11-06
Portugal atingiu tal irrelevância que ninguém se surpreenderia se
passasse a dependência espanhola, como se de banco se tratasse.
Como se estivéssemos a falar de abrir um escritório no litoral já que
o interior está desertificado de gentes e de economias de mercado viáveis. Por outro lado, despontam a nível governamental, iniciativas de união ibérica, nem sempre dissimuladas, que causam engulhos. Por ser um estudioso do assunto que condensou o que JC pensa, sigamos Carlos Fontes em Lusotopias
O iberismo é um fenómeno do séc. XIX como resposta à teoria das
 grandes nações então em voga. …as pequenas estariam condenadas
a serem absorvidas pelas grandes, tal como teria acontecido entre os
animais onde os mais fortes extinguiram os mais fracos (darwinismo).
Sempre que a situação é melhor no outro lado da fronteira, a integra-
ção de Portugal em Espanha surge aos olhos dos iberistas como a
solução para resolver a crise, sem trabalho… as mortes de dois ibe-
ristas assumiram enorme carga simbólica na história portuguesa, sendo
continuamente evocadas. A morte do Conde de Andeiro, fidalgo galego,
foi assumida como o símbolo de liberdade de um povo que recusa as
ingerências externas. Acabou por ascender a elevada posição na corte,
tendo recebido de D. Fernando o título de Conde de Ourém, pondo-se



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ChrónicAçores:


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na crise de 1383-85, ao serviço de Castela. Foi assassinado, em 1383, por D. João, mestre de Avis e futuro rei de Portugal. A sua nefasta ação traduziu-se numa violenta guerra civil.
Já a morte de Miguel de Vascon-celos exprime simbolicamente a afir-mação da identidade cultural de um povo, após a opressão de 60 anos. Após a morte deste esbirro, o povo português travou com a Espanha, durante 28 anos, uma sangrenta guerra na Europa e na América do Sul pela defesa da sua liberdade e dignidade.
…E como já ninguém estuda História, estes episódios perdem
a força, não são transmitidos de geração para geração, perde-se a
memória coletiva do povo. Continuemos com Carlos Fontes:
Nas últimas décadas, órgãos de comunicação social usando da
 liberdade de expressão, têm procurado abrir fraturas na sociedade.
O seu objetivo é simples:
1. Mostrar através de “sondagens” encomendadas ou “discussões”
públicas que na sociedade portuguesa existe um grupo cujo objetivo é a
dissolução do Estado português;
2. Dar “voz” à hipotética minoria iberista portuguesa. Ao mesmo
tempo, a imprensa espanhola mostra aceitação à possível integração.
3. Os supostos iberistas não constituem uma corrente de opinião nem
um movimento organizado.
A imprensa trabalha no terreno das hipóteses...introduzindo elementos de discórdia e desmoralização coletiva.
Oliveira Martins (1845-1894) é o melhor exemplo dos esbirros iberistas.
É difícil de determinar a causa do profundo ódio que manifestava pelos
seus concidadãos e o país. Foi um típico vira-casaca: anarquista, socia-
lista, republicano, monárquico, liberal, antiliberal. Defendeu a liberdade,
mas também a ditadura. Atacou os ditadores, mas apoiou João Franco,
Muitas das suas ideias foram aplicadas por ditadores (Sidónio Pais ou
Oliveira Salazar).
Antero de Quental (1869) era um confesso iberista, dois anos depois já nem fala no assunto, e mais tarde abomina a ideia. Algo idêntico ocorreu com Teófilo Braga. …
Durante as legislativas de setembro 2009 - a TVI -, canal de TV controlado por espanhóis interferiu diretamente na campanha eleitoral, e...afastou a “jornalista” (Manuela Moura Guedes) que promovia uma campanha de propaganda contra o  governo socialista... e a comuni-icação social espanhola procurava lançar nova campanha em defesa das teses iberistas, apoiada numa “sondagem” da Universidade de Salamanca, com a colaboração de alienados no ISCTE (Lisboa).


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J. Chrys Chrystello


A razão por que se escolheu este tema e as citações supra para esta
crónica é a data que ora se celebra, o dia da Restauração da Indepen-
dência de 1 de dezembro de 1640. Para que os mais jovens nunca o
esqueçam e deixem de a tratar como um dia sem aulas. Infelizmente,
é para a maioria, um dia como qualquer outro nos Açores, sem que
o povo se dê conta do seu significado:
“...arrebatados do generoso impulso, saíram todos das carroças e
avançaram ao paço. .. D. Miguel de Almeida, venerável e brioso, com a
espada na mão grita: Liberdade, portugueses! Viva El-Rei D. João IV”
A ideia de nacionalidade esteve por trás da restauração da inde-
pendência plena de Portugal após 60 anos de monarquia dualista.
Cinco séculos de governo próprio haviam forjado a nação, fortalecen-
do a rejeição da união com o vizinho. A independência fora sempre um
desafio a Castela. Foram sucessivas e acerbas as guerras, as únicas
que Portugal travou na Europa. Para a maioria, os Habsburgo eram
usurpadores, os Espanhóis inimigos e os seus partidários, traidores.
Culturalmente, avançara depressa a castelhanização de 1580 a 1640.
Autores e artistas gravitavam na corte espanhola, aceitavam padrões
espanhóis e escreviam cada vez mais em castelhano, contribuindo para
a riqueza espanhola. Dão a impressão errada de decadência cultural
após 1580. A perda da individualidade cultural era sentida por muitos
portugueses, com reações diversas a favor da língua pátria e da sua
expressão em prosa e poesia. Contudo, os intelectuais sabiam perfei-
tamente que os seus esforços seriam vãos sem a recuperação da
independência política. O Império Português atravessava uma crise
com a entrada em jogo de holandeses e ingleses. Perdera o mono-
pólio comercial (Ásia, África e Brasil) e a Coroa, a nobreza, o clero
e a burguesia haviam sofrido severos cortes de receitas.
Os Espanhóis reagiam contra a presença portuguesa nos seus ter-
ritórios, mediante vários processos, entre os quais a Inquisição. Isso
suscitou grande animosidade nacionalista em Portugal aprofundan-
do o fosso entre os dois países.
Margarida, duquesa de Mântua, neta de Filipe II, exerceu o governo
de Portugal, de 1634 a 1640, como vice-rei e capitão-general. Econo-
micamente, a situação piorara desde 1620 ou até antes. Os produtores
sofriam com a queda dos preços do trigo, azeite e carvão. A crise
afetava as classes baixas, cuja pobreza aumentou sem disfarces. O
agravamento dos impostos tornava a situação pior. A solução apre-
sentava-se fácil e óbvia: a Espanha, causa de todos os males.



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J. Chrys Chrystello


A conspiração independentista congregava um grupo heterogé-
neo [nobres, funcionários da Casa de Bragança e elementos do clero
(alto e baixo)]. Em novembro de 1640 conseguiram o apoio formal
do duque de Bragança. Na manhã do 1º de dezembro, um grupo de
nobres atacou a sede do governo (Paço da Ribeira), prendeu a du-
quesa de Mântua, matou e feriu membros da guarnição militar e
funcionários, como o Secretário de Estado, Miguel de Vasconcelos.
Dizia Camões: “Também dos Portugueses alguns traidores houve,
algumas vezes...” (Os Lusíadas, C. IV, 33). Seguidamente, os re-
voltosos percorreram a cidade, aclamando o novo estado, secun-
dados pelo entusiasmo popular. Em todo o Portugal, metropolitano
e ultramarino, a notícia da mudança do regime foi recebida e obe-
decida sem qualquer dúvida. Só Ceuta permaneceu fiel a Filipe IV.
D. João IV entrou em Lisboa a 6 de dezembro. Proclamar a separa-
ção fora fácil. Mais difícil seria mantê-la. Tal como em 1580, em 1640 os
portugueses estavam longe de unidos. As classes inferiores mantinham
a fé nacionalista em D. João IV, mas o clero e a nobreza, com laços em
Espanha, hesitava e a medo alinhava com o duque de Bragança.
O novo monarca estava numa posição pouco invejável. Tornava-se
necessário justificar a secessão não como usurpador, mas a reaver o
que por direito legítimo lhe pertencia. Abundante bibliografia (em
Portugal e fora dele) procurou demonstrar direitos reais do duque
de Bragança. Se o trono jamais estivera vago de direito, em 1580
ou 1640, não havia razões para eleição em cortes, o que retirava
ao povo a importância que teria, fosse o trono declarado vago.
Todo o reinado (1640-56) foi orientado por prioridades. Primeiro, a re-
organização do aparelho militar, reparação de fortalezas das linhas
defensivas fronteiriças, fortalecimento das guarnições e obtenção de
reforços no estrangeiro. Paralelamente, a intensa atividade diplomática
nas cortes da Europa, para obter apoio militar e financeiro, negociar
tratados de paz ou de tréguas, o reconhecimento da Restauração, e a
reconquista do império ultramarino. A nível interno, a estabilidade de-
pendeu, do aniquilamento de toda a dissensão a favor de Espanha.
A guerra da Restauração mobilizou todos os esforços e absorveu
enormes somas. Pior, impediu o governo de conceder ajuda às ata-
cadas possessões ultramarinas. Mas, se o cerne do Império, na Ásia,
foi sacrificado, salvou a Metrópole da ocupação espanhola.




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ChrónicAçores:


Portugal não dispunha de exército moderno, as forças terrestres
escassas na fronteira, as coudelarias extintas e os melhores generais
lutavam pela Espanha na Europa. Isto explica por que motivo a guerra se limitou a operações fronteiriças de pouca envergadura.
Do lado espanhol, a Guerra dos Trinta Anos (até 1659) e a questão
da Catalunha (até 1652) atrasavam ofensivas de vulto. A guerra, que se
prolongou por 28 anos, teve altos e baixos até se assinar o Tratado de
Lisboa,1668, entre Afonso VI de Portugal e Carlos II de Espanha, em
que este reconhece a independência do nosso País. (Adaptado de
Oliveira Marques, “A Restauração e suas Consequências”, in História de
Portugal, vol. II, Lisboa, ed. Presença, 1998, pp. 176-201).
Hoje anda muita gente com passaporte português a celebrar o 1º
de dezembro como desastre ou deplorável evento. Esquecem que se
tratou da reconquista da liberdade do povo e da nação subjugada
pelo poder dinástico dos Filipes de Castela. Mais vale um povo
pobre e livre do que rico na gaiola dourada com as cores do reino
de Espanha. Assim o dizem os galegos que se acercam das origens
portuguesas preservando a língua e cultura comuns. A memória dos
homens é curta e ninguém sabe nem evoca o jovem Miguel da Paz
(n. 1499) que seria Rei de Portugal e de Espanha se não morresse
aos dois anos. Infelizmente morreu e este “se” é desconhecido dos
portugueses, clamem ou não pelo regresso ao trono espanhol.
São deveras interessantes os “pequenos detalhes” que determinam
o curso da História e que vieram legalizar de pleno direito a sucessão de
Filipe II ao trono de Portugal em 1580, por morte sem descendência do
herdeiro varão, cardeal D. Henrique (68 anos), 9º filho do rei D. Manuel I
A candidatura de Filipe era fortíssima e indiscutível e resultava do ca-
samento da filha terceira de D. Manuel I, com Carlos V (I de Espanha),
pais de Filipe I de Portugal (II de Espanha). Paradoxalmente, antes da
candidatura de Filipe ao trono, a situação poderia ter sido invertida,
unificando as coroas ibéricas “para o lado português”. Em 1499, fora
proclamado herdeiro das coroas de Portugal e de Espanha, Miguel da
Paz, primeiro filho de D. Manuel I com Isabel, filha dos Reis Católicos.
Azar dos portugueses ou conspiração castelhana, morreu com 2 anos.
Por estas e outras razões os portugueses serão sempre saudosistas,
dos espanhóis, de Salazar e do sonho chamado 25 de abril.


 in CHRÓNICAÇORES UMA CIRCUM-NAVEGAÇÃO POR J CHRYS CHRYSTELLO ED CALENDÁRIO DE LETRAS 2011
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J. Chrys Chrystello


-- Quem garante que Portugal estaria melhor como província espa-
nhola do que independente? (Os galegos dizem que não)
-- Quem garante que não seria Portugal uma célula independentista,
tipo ETA, (aliada ou não à Galiza)?
E se fosse ao contrário e o Reino de Espanha fosse uma província
de Portugal? Que aconteceria aos Bourbon? Só tinham utilidade nos
EUA. Lá emborcam todos os Bourbon que encontram. Infelizmente,
aqui ao lado, entronizam-nos e chamam-lhes Reis.

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