Deputado Paulo Pisco contra fusão entre Camões e IPAD por temer desvalorização da política cultural (C/ÁUDIO)
31 de Outubro de 2011, 13:29
http://noticias.sapo.cv/lusa/artigo/13283706.html
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Lisboa,
31 out (Lusa) -- A fusão entre o Instituto Camões (IC) e o Instituto
Português de Apoio ao Desenvolvimento (IPAD) não faz sentido, porque
ambos "têm natureza e vocação completamente diferentes", considera o
deputado socialista Paulo Pisco, receando uma desvalorização da
política cultural.
"A política de
cooperação é uma coisa e a política de cultura é outra coisa. (...) Não
se pode fundir tudo, só numa lógica economicista", sustentou, em
declarações à agência Lusa, o deputado eleito pelo Círculo da Europa,
que, nos últimos três dias, se reuniu com militantes e simpatizantes do
PS em Paris (França) para discutir "aquilo que se sabe" da proposta de
Orçamento do Estado para o Ministério dos Negócios Estrangeiros (com um
corte previsto de 10,6 por cento).
"Não
vejo que tenha que haver fusão", defende. "Sabemos perfeitamente o que
isso vai significar: corte nas estruturas, menor presença, menor
afirmação de Portugal no mundo em termos culturais", antecipa, receando
"uma degradação da política cultural e da presença cultural de Portugal
no mundo".
Perante o argumento da
necessidade de racionalizar recursos, Paulo Pisco reconhece que a fusão
"faria sentido", mas apenas se houvesse "a garantia de que a política
cultural e a política para a cooperação e o desenvolvimento pudessem ter
a mesma importância que têm vindo a ter até aqui". Ora, contrapõe, "a
dimensão cultural está a levar uma grande machadada".
"Nada
disto me parece bater certo com uma política de afirmação cultural de
Portugal no mundo", criticou o deputado, afirmando que o Governo
"transformou completamente aquilo que tinha enunciado no seu programa
eleitoral".
Pisco está também
preocupado com eventuais cortes nos apoios sociais. "Procurei no
Orçamento do Estado onde estavam os apoios sociais para os idosos
carenciados e para os excluídos e não vi essas dotações. Isso causa-me
uma grande preocupação. Espero que o Governo não se lembre de acabar
também com um dos pilares essenciais das políticas para as comunidades,
(...) porque, num período de crise (...), isso seria trágico",
assinalou.
Antecipando "uma grande
desproteção", o deputado propõe a inserção de uma verba específica no
Orçamento do Estado, lembrando que "havia uma dotação da ordem dos seis
milhões de euros em apoios sociais para os idosos carenciados" no
Governo PS.
Questionado sobre se
conhece casos de pessoas que tenham ficado sem este apoio, o deputado
disse que sim, mas "em virtude da alteração dos procedimentos".
Nos
últimos meses, um importante número de emigrantes portugueses na
Venezuela tem sido notificado da suspensão da atribuição do Apoio Social
ao Idoso Carenciado (ASIC). O ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo
Portas, hoje de visita a Caracas, admitiu que está preocupado com as
dificuldades económicas da primeira geração de emigrantes portugueses,
recordando, porém, que a "modificação dos regulamentos" se deu "no
quadro do anterior Governo".
Em
relação ao ensino do português no estrangeiro, o Governo "terá de
explicar qual vai ser a dimensão do corte e de que forma o ensino do
português vai funcionar", exige o deputado socialista.
Na
sequência de uma reunião, há uma semana, com o secretário de Estado das
Comunidades Portuguesas, José Cesário, o Sindicato dos Professores no
Estrangeiro considerou estar em curso o "maior ataque alguma vez feito
contra o ensino do português no estrangeiro", com medidas que irão
promover o encerramento de cursos e o despedimento de professores.
"Parece
que o Governo já enunciou a sua vontade de empurrar o ensino também
para o movimento associativo. Tem de se saber em que condições é que
isso vai acontecer e quais vão ser os critérios e não sabemos de nada",
exige Paulo Pisco.
O deputado
referiu-se ainda aos "cortes nas estruturas consulares", em resultado
dos quais "várias dezenas de milhares de portugueses ficarão
desprotegidos".
"Aquilo que hoje é
anunciado para as comunidades portuguesas é uma verdadeira catástrofe.
Pela primeira vez estamos a assistir a uma destruição das políticas
dirigidas às comunidades portuguesas", concluiu o deputado.
SBR (FG/CFF/CRS)
Lusa/Fim
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