in diálogos lusófonos
MAURO MOURA <mauroandrademoura@gmail.com> escreveu:
ALTERNATIVAS AO CAPITALISMOQuando o mundo está de olhos postos em Davos, onde líderes políticos e económicos tentam encontrar novos modelos para o capitalismo, olhamos para exemplos de quem decidiu virar as costas ao dinheiro.Adam Smith tinha razão no século XVIII. A "mão invisível" (conceito que teoriza uma metáfora para a combinação dos mercados económicos com o interesse individual) nunca fez tanto sentido nos dias que correm. Só que hoje ela não é invisível. Mercados voláteis, ratings instáveis, corrupção, fraude, lucros desmesurados, ricos, muito ricos, pobres, paupérrimos, desperdício, desemprego e fome.
Se há uma coisa que não resultou no capitalismo foi a busca aguda por lucros. Mas há uma luz ao fundo do túnel, há um conjunto de pessoas que tentam virar costas a isto. A questão é: serão elas mesmo felizes?
Boyle, o homem que vive sem dinheiroMark Boyle é o primeiro exemplo. Antigo empresário inglês conseguiu mostrar que é possível viver sem dinheiro, ou pelo menos, com o mínimo possível.
Formado em economia, conseguiu perceber que é de facto muito difícil viver sem dinheiro e, em 99,9% dos casos as pessoas não estão sequer predispostas a isso, disse ao semanário Sol em 2011.
Através da The Freeconomy Comumunity (associação criada pelo próprio) percebe-se que há muita gente a querer mudar de vida: 36.409 pessoas espalhadas por 161 países. Boyle cultiva a sua própria comida, lava a roupa no rio, criou a sua própria energia, e faz ele próprio os seus móveis. Vive numa rulote perto de Bristol, em Inglaterra, desloca-se de bicicleta, e tem um computador alimentado a energia solar.
Defende o regresso à economia de troca e partilha, e considera que o mal-estar social e ambiental vem da falta de ligação das pessoas à produção dos bens que utilizam e consomem. Isto é tudo muito bonito mas várias questões se colocam nas nossas cabeças. E o trabalho? E se eu estiver doente? E a família? E o conforto que o dinheiro nos pode trazer?
Gabriel Leite Mota tem a resposta: economia da felicidadeO primeiro doutorado na matéria em Portugal defende que a felicidade devia estar na base do sistema económico. E a explicação é simples. Medir o índice de desenvolvimento e crescimento de um país apenas pelo Produto Interno Bruto (PIB) é um "paradigma que já está ultrapassado". O Butão já implementou a Felicidade Interna Bruta (FIB) como indicador e o Reino Unido está a ponderar contabilizá-la.
O índice de felicidade mede indicadores nos quais não pensamos muito mas eles estão lá e tiram-nos do sério. A qualidade das instituições, a confiança interpessoal, ou mesmo o nível de trânsito que enfrentamos diariamente.
E então isto ajuda em quê, nesta altura de crise?Bom, é claro que não podemos esquecer a parte económica, é preciso reativar a economia, tratar o défice e isso só vai lá com dinheiro. Mas podemos, ao mesmo tempo, pensar noutros caminhos a seguir para a produção do bem-estar.
Vejamos o caso português de uma mercearia solidária em Soure, no distrito de Coimbra. A iniciativa pretende criar um sistema financeiro, no qual as pessoas que não tenham acesso a determinados bens os possam ter por troca com outros produtos. As trocas são mediadas por uma moeda social, as "granjas" atribuídas a cada objeto. Cada bem (produto ou serviço) que uma pessoa traga para a comunidade é traduzido num valor de moeda. Com esse valor pode-se "comprar" algo de que necessite, como vestuário ou alimentos.
Com a internet, a informação tornou-se num bem universal e gratuito. Também na internet podemos arranjar alojamentos de férias totalmente grátis ou partilhar carros na deslocação para o trabalho. Mas continuamos a preferir o conforto dos nossos carros, as agências de viagens, a comida embalada e os restaurantes. Antes de pensar em viver sem dinheiro, não será melhor tentar mudar alguns hábitos?Veja mais:
Catarina Osório
Sem comentários:
Enviar um comentário