Ano XIV
Nº 3751
Terça-feira
31/Janeiro/2012
Editor: Refinaldo Chilengue
OPINIÃO
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Linha d'água:
Por Luís Loforte
Metas cumpridas
E o desenvolvimento social?
Encontro-me num resort à beira-mar, na cidade de
Pemba, onde decorrem, ainda, obras de vulto
com vista à sua ampliação e aprimoramento. Logo
pela manhã, passo à ilharga de um desses locais de
algazarra laboral a caminho das águas quentes de
Nanhimbe. Chegam-me aos ouvidos linguajares
swahilis, o que não deixava de ser estranho, uma vez
que seria natural ouvir o macua, o kimwani ou o
maconde, as línguas locais, ainda que o idioma de
Nyerere e Kenyata faça parte da grelha da RM local,
embora acredite que o tenha sido por razões políticas
e até culturais.
Aproximo-me dos operários e verifico que todos,
sem excepção, são jovens. Balbucio: habari zenu
wandugu? Estou convencido de que sei alguma coisa
de swahili e que a frase significa, em português, “como
estão, irmãos?” Ainda que não fosse esse o significado,
pelo menos acreditei que andasse por lá perto, a avaliar
pela resposta uníssona, efusiva e de visível agrado, ao
que traduzo “tudo bem, disponha!”: “habarini, karibu!”
Próximo dali, vislumbro um outro grupo de homens,
estes pendurados em cocurutos de casas pré-fabricadas
em construção e de muito bom nível. Os tanzanianos
adivinham que lhes vá fazer a pergunta e
antecipam a resposta: those are south african. De
facto, mais tarde, no restaurante, ouvi-lhes falando
em zulu e xoza. Mas porque o trabalho dos sulafricanos
é mais complexo, e certamente decorrente
de um contrato com uma empresa daquele país, decidi
concentrar-me no que faziam os tanzanianos: simples
trabalho de composição e assentamento de caixilharia
de alumínio, para o qual a precisão da medição e a
manipulação do vidro são fundamentais, coisa que
bons alunos das escolas técnicas industriais, que sei
existir uma em Pemba, saem a saber e prontos a
trabalhar, desde que haja seriedade no seu enquadramento
pós-formação.
Meio em inglês, meio em swahili, e às vezes, também,
em tosco português, os moços falam-me das
suas origens, na Tanzânia: Songeia, Zanzibar, Morogoro...
Enquanto falavam, fico a pensar no que escutara,
semanas a fio, desde início de Janeiro, na nossa rádio
de referência e em tempos de antena com a
designação genérica de Balanço, obviamente do que
se fez em 2011. Agora está-se nos municípios e não
custa crer que tudo também será uma infinidade de
encómios.
Todas as províncias, pela voz autorizada dos seus
governadores, cumpriram as metas, ou perto disso.
Algumas até as superaram! Na Agricultura, na construção
de estradas, na comercialização, nisto e naquilo,
na... Educação. E para não ser exaustivo, com a
Educação chego ao ponto crucial desta curta crónica.
Ou melhor, à pergunta simples e sincera: como pode
uma província cumprir metas se não é capaz de exibir
canalizadores, torneiros mecânicos, electricistas,
operários especializados? E, para o caso de Cabo
Delgado, como nos podemos regozijar com as brutais
descobertas de petróleo e gás na bacia do Rovuma
quando sabemos que a maior parte dos postos de
trabalho não será ocupada pelas gentes desta
província, mas sim por pessoas vindas do exterior?
Como? Como? E, para tornar ainda mais negro o
quadro, vem-me um líder juvenil elencar os grandes
objectivos de um ano de trabalho: comemorar, comemorar
e comemorar! E o trabalho, o desenvolvimento
social, as pessoas, meus caros amigos?
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