O Roseiral Do Ciclope E A Rosa
Todos já ouvimos dizer que, os
Ciclopes das antigas lendas Grega, eram uma raça de gigantes de força bruta e que
tinham somente um unico olho no centro da testa.
Um dia, havía um Roseiral onde
cresciam as mais lindas rosas jamais vistas. Contudo, havía um senão! O Roseiral era
plantado e cuidado por um Ciclope.
Nem ele e nem ninguém, sabiam ao
certo como ele, o Ciclope, se havía tornado um
criador de rosas e nem de onde tinha ele vindo. Desde que se lembrava, sempre
tinha estado a cuidar de rosas e fazía-lo como se
fosse o dono, tanto do Roseiral e como das rosas, sem que ninguém das redondezas se atrevesse a questionar isso.
Todos, no entanto, se davam bem com Ciclope e o respeitavam, pois ele,
ao contrário dos usualmente conhecidos Ciclopes de
natureza bruta, era simplesmente um ser pacífico e um ser de elevada sensibilidade. Para além de cultivar rosas, cultuava-as tambem e tratava delas com carinho e
ao pormenor, falando para elas e de forma individual. Fazia-o como se
conhecesse a cada uma delas em particular. E, sempre que nascia uma nova, ele
apressava-se a dar-lhe nome.
Ele dominava ainda, a arte do apuramento e do cruzamento de rosas,
sobretudo, adquirindo constantemente para o efeito, rosas de diferentes
estirpes a outros Plantadores de rosas, ou ainda, fazendo-o com as que, vez por outra, lhe eram
oferecidas ou resultado de troca.
Aos poucos, foi criando novas estirpes, com perfumes distintos e novas
côres e tonalidades diferentes e particulares.
A mais bela de todas, brotou aos seus olhos, num momento em que estava há longo tempo a olhar para seu botão, como se já tivesse antecipado intuítivamente tal
acontecimento. Sabia que, aquela, pela rosas que havía usado neste particular cruzamento, sería uma rosa muito especial. Chamou-lhe Rosy, pois, não conseguiu imaginar outro nome.
Assim foi que, depois de anos e entre tentativas frustradas, lá havía conseguido cruzar uma rosa
vermelha com uma branca. Nos primeiros intentos, a rosa que resultava, ou saía em tons mais claros ou mais escuros, em várias tonalidades de côr-de-rosa, ou,
saía malhada, em vermelho e branco. Mas, desta
vez, foi completamente diferente, a nova rosa era vermelha nas orlas, nas pétalas inferiores e junto ao caule, e branca, nas pétalas interiores centrais. A divisão das côres era nítida, de tal forma que, ele ficou tão entusiasmado com tal mágico momento do
nascimento da nova e rara rosa, que passou dias quase sem dormir ou comer, olhando
a rosa em quase total acto de veneração. O seu
perfume era sublime e intenso, tambem.
De tanto olhar e de cheirar o perfume da rosa, começou a ter a impressão de se sentir teletransportado
para algures. Em certos momentos, ía e vinha para
locais que não conseguia reconhecer, de
maneira breve e em actos sucessivos . Parecía decorrer tudo como se estivesse a viver um sonho. A Rosy, como era
seu nome, parecía acompanhá-lo sempre para tais, a princípio, indistintos
lugares, como se tivesse algo a ver com isso, fossem onde fossem. A determinado
momento, aquilo que havía sido tão somente o eco do seu próprio pensamento,
paraceu misturar-se com o eco de uma outra vózinha. No início, não acreditava que pudesse ser a Rosy que lhe tentava falar. Mas de tanto
ouvir o rumor entrar em seu próprio pensamento
e de se lhe misturar, logo começou a desconfiar
que só podería ser ela, pois,
só estavam presentes os dois em certas
circunstâncias.
Até que, foi de arriscar fazer uma pergunta à Rosy: - Ou Linda Flôr, diz-me lá quem és tu? E serás tu quem me interrompe o pensamento com tuas palavras?
A Rosy respondeu num tom muito sensível e feminino: - Sou a rosa a quem chamas Rosy e sim, sou eu que te
falo! Mas, qual a causa de tanta admiraçãode tua parte?
- Nunca se me passou pela cabeça que, uma rosa
pudesse falar mesmo sem boca, através do pensamento
-, Respondeu o Ciclope.
A Rosa voltou a falar: - Se calhar nunca se te passou pela cabeça, que nós rosas nos comunicamos
entre si, à semelhanca do que acontece entre os outros
sêres vivos, não sendo esta uma faculdade exclusiva de Ciclopes ou Humanos. Só, ainda não tinha experimentado
comunicar contigo, porque não sabia se isso sería possivel e/ou se tu estarías preparado
para tal e isso, para além do que vem a seguir!
Pelo que consta, os Ciclopes são tidos como demasiado
rudes, insensíveis e brutos, para que
possam criar belas rosas. Mas tu, ao contrário, estás a provar que a
sensibilidade e a delicadeza, tambem podem ser algo que se pode cultivar. Portanto
aqui neste ponto, há algo de comum entre nós, ou seja, o porcesso do cultivo! Por isso, vou-te mostrar algo que
nunca vivenciaste antes.
A partir daquele momento, tudo mudou, como haveríamos de ver mais adiante...
Enquanto tratava do Roseiral, o Ciclope sentia-se cada vez mais atraído pelo perfume exalado pela rosa branca e vermelha e frequentemente lembrava-se
de seus dizeres. Isto, sem bem saber ainda, se acreditar ou não nisso, ou se, o que se estava a passar, não sería só produto de sua imaginação.
Depois de ter tratado das outras rosas com o carinho e cuidado
habituais, chegou a vez da Rosy. Retirou-lhe as folhas secas dos ramos,
borrifou-a ao deleve com água, olhou para ela e ao
chegar o nariz mais perto dela, para apreciar mais profundamente o supremo
perfume que dela saía, sentiu-se desta vez
mais intensamente e de facto, transportado num turbilhão de luz e côres, para um outro lugar
qualquer. Fechou os olhos, pois, ao mesmo tempo e enquanto deixava que o
perfume lhe inundasse os sentidos, sentiu-se num relaxe profundo. Iniciou-se
assim, uma intensa fase de viagens que já nem eram breve
e nem breves, mas sim, astrais e que lhe permitiam teletransportar-se
fisicamente para outros lugares distantes. Fosse para onde fosse transportado,
a Rosy continuava a ir e lá estava sempre ao
seus pés. Viajaram dessa forma, os dois, para
inumeros locais, que mais pareciam tirados de uma fantasia ou de sonhos. Desta
vez, os locais idílicos com belos jardins
e quedas de água, cheios de verde
vegetal por todo o lado, tanto aqui na Terra, como em outros, localizados em
distantes Planetas habitáveis, situados em outras
Galáxias, eram muito mais duradoiros e reais.
Após tantas idas e vindas e de muitas e
multiplas aventuras vividas, numa bela ocasião, viajaram para um Planeta, onde aparentemente, os habitantes
principais e mais evoluídos, eram precisamente
os Ciclopes.
Então, ao lá chegarem, a Rosy exclamou: - Meu amigo e criador Ciclope, trouxe-te
aqui, porque foi aqui onde tu tiveste a tua origem, e, como já estou quase a chegar ao fim de meu tempo de floração, não o quería deixar de fazer. Esta é a maneira como
te agradeço, por me teres criado e por me teres
cuidado com esmero e amor, ao longo de minha efémera vida. Esta, dependento de tua opção, poderá ser uma de nossas
ultimas viagens em comum. Contudo, antes
do regresso à Terra, terás aqui uma missão especial para cumprir.
Como vês, aqui não há Roseirais e nem rosas, visto que, os
Ciclopes, assim como os Seres Humanos, sempre acreditaram serem aqueles primeiros,
demasiado brutos para terem suficiente sensibilidade para as cultivar e para
cuidar delas. Vamos ficar aqui os dois uns tempos, para que tenhas tempo para
ensinar aos Ciclopes como eles o podem fazer. Mas, para os convenceres, só o poderás fazê-lo exemplificando-o, para os atraír e para assim, provar-lhes que se tu o podes fazer, eles tambem o
poderão.
Uns meses depois, o Roseiral já estava montado
e as primeiras rosas, cujas sementes a Rosy havía solicitado ao Ciclope para trazer consigo numa sacola, estavam agora
a desabrochar e a florir. Entre as sementes escolhidas, havia algumas que
pertenciam aos pés de rosa que melhores
rosas perfumadas produziam lá na Terra. As restantes, eram de pés de rosas que, embora nao exalassem perfumes muito activos, atraíam pela sua variedade e vivacidade de tonalidades, que iam do preto, ao
amarelo vivo, ao verde, ao tinto aveludado e a outras espantosas côres.
Nisto e aos poucos, os que por ali passavam perto do Roseiral, iam
parando para olhar e para tentar identificar de onde vinha tanta combinação de perfumes, que enchiam o ar em redor. No início, é provavel que os Ciclopes
não soubessem o que era um Roseiral ou uma
rosa. Mas, à medida que iam passando a palavra uns aos outros,
não tardou que em breve, Aldeias, Vilas e
Cidades inteiras onde viviam os Ciclopes do Planeta Ciclope, fossem ficando
curiosas e comentando sobre tal lugar, onde
se havía radicado um misterioso
Ciclope, que ninguem sabía de onde viera e
comecara a plantar flores. Flores essas, de côres variadas e que exalavam um perfume quase magico, que atraía a todos os que passavam por lá. Os rumores
começaram a ter tal intensidade que, chegaram aos
ouvidos dos Reis dos vários Clãs de Ciclopes. Estes então juntaram-se em
função disso e decidiram visitar o tal local das
rosas. Lá postos, ficaram deveras admirados por ver
um Ciclope como eles e com a mesma aparência bruta, mas
que praticava modos comedidos e cuidadosos. Aquele recebeu-os de forma cordial e
sua fala apresentava-se admiravelmente educada. Levou-os a ver cada uma das
rosas do Roseiral e foi-lhes explicando sobre os processos de seus cultivos,
tratamento e como se cruzavam as varias estirpes, para criar novas e cada vez
mais belas e exóticas rosas. Algumas,
que iríam atraír pela côr e outras, pela
intensidade do perfume. Depois de todas as explicações e de verem a todas, chegaram finalmente à Rosy, a rosa branca e vermelha, ficando todos pasmados e de boca
aberta, de tanto espanto. Queriam todos
tocá-la, quase não acreditando que ela fosse real e que exalasse um perfume tão irresístivel. De um momento
para o outro, viram-se a viajar num
turbilhão de emoções, indo todos parar a um imenso jardim algures no Planeta Terra. Aparentava
ser o Palácio de Versalhes, nos arredores de Paris, tendo-se
deparado com um sem fim de canteiros com rosas de todas as côres e de cheiros perfumados que enchiam o ar. Era lindo demais de
cortar a respiração...
Novamente, junto com seu amigo Ciclope, lá estava a rosa branca e vermelha a guiar os restantes. Nisso, a Rosy
disse ao Ciclope, tendo os Reis Ciclopes tambem escutado: - Meu bom criador,
agora que a tua missão parece estar a
finalizar, e, a minha tambem, chegou a hora de levá-los a todos de volta ao Planeta dos Ciclopes e tu, podes optar em
ficar ou em ir. Quanto a mim, poderei levar-te ao teu antigo Roseiral aqui na
Terra, onde eu nasci às tuas maos, ou então, irás de vez comigo e com os
Reis Ciclopes para o Planeta Ciclope, passando a viver ali até ao fim de teus dias. Eu, por minha vez, vou enfrentar a minha ultima
viagem ao levá-los de volta ao Planeta
Ciclope. Ali ficarei até ao meu definhamento e
secagem completos, restando-me passar a ser uma referência para os Ciclopes, pois, tenho a certeza de que, depois de tudo o
que viram na Terra, irão encher o Planeta
Ciclope de Roseirais com belas rosas, e ainda, tambem, de muitas outras espécies de flores.
O Ciclope olhou para os Reis Ciclopes e perguntou-lhes, afim tentar
obter deles a firme confirmação para o que havia dito a Rosy: - Majestades, o
que ireis fazer no vosso regresso?
Em resposta, os Monarcas respoderam em uníssono: - Mestre Jardineiro, se vieres connosco,
serás nosso Professor e, contigo a orientar-nos,
iremos editar uma Lei, onde todos os Ciclopes deverão dedicar um pouco dos seus tempos a cultivarem Jardins, sobretudo
Roseirais, em seus Quintais. Para
comecar, iremos nós exemplicar tal acto,
iniciando o plantio de Roseirais nas Pracas Publicas e em frente de nossos Pálacios. Será assim, partir de agora,
um hábito Ciclope.
O Ciclope, regressou com os Reis Ciclopes ao Planeta Ciclope, onde iría assimn, companhar a Rosy em seu definhamento final.
Dela, originaram-se sementes de novas rosas brancas e vermelhas, tão lindas e cheirosas quanto ela. Hoje, não há Jardim no Planeta Ciclope, que não tenha uma rosa branca e vermelha, como uma autêntica Rainha, no
meio de outras rosas de outras côres e de outras
flores...
Hoje, existem tambem em todos os Reinados e Clâs do Planeta Ciclope, uma estátua do Ciclope e
da Rosy, que vieram da Terra, para ensinar aos Ciclopes, antes tidos como seres
brutos e insensíveis, a serem seres
atenciosos e mais sensíveis, tanto no plantio
de Jardins, como no trato de uns para com os outros...
Escrito a 25 de Dezembro de 2012, em Luanda, Angola, por Manuel JFD de
Sousa, por ocasião do Natal e em
homenagem ao espírito da Paz e
Luz Natalinos...
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