Recebi por e-mail um texto do jornalista e consultor de inovações José Luiz de Almeida Costa, companheiro dos tempos de faculdade de Comunicação, alertando para mais um absurdo no que se refere à Copa de 2014.
 
Segundo ele, o evento seria uma ótima oportunidade de divulgação da lusofonia em âmbito global, mas os organizadores pregam que os brasileiros precisam aprender o inglês “para não dar vexame diante dos turistas estrangeiros”.
 
Meu amigo se mostra indignado. Depois de ler o seu texto, resolvi me posicionar diante de tal submissão. Jamais uma coisa dessas ocorreria em países como França e Estados Unidos, por exemplo.
 
Franceses têm orgulho do seu idioma e, nos Estados Unidos, além da língua inglesa, imigrantes de diferentes países falam o próprio idioma em suas respectivas comunidades.
Submissão vergonhosa
 
A postura de nossos “líderes” é mais uma vez desanimadora. Um povo que se preza se impõe principalmente pela língua e pelos costumes. Se tirarmos isso dele, restará muito pouco ou quase nada de sua cultura e do seu modo de ser.
 
Foi o que fizeram com os índios e, mais tarde, com os africanos trazidos para cá na condição de escravos. Felizmente, apesar de tal violência, o português falado em nosso país foi enriquecido com palavras oriundas das línguas desses povos.
 
Como cantou Noel Rosa no samba Não tem Tradução, “tudo aquilo que o malandro pronuncia com voz macia, é brasileiro, já passou de português”. Temos em nossos dicionários e usamos diariamente – mesmo sem perceber – muitos termos de origem tupi-guarani, africana, árabe, francesa e por aí vai.
 
Ao contrário da língua imperial, o português falado no Brasil sempre se mostrou plural e flexível. Foi também enriquecido pelo nhangatu, que chegou a ser a língua dominante do vasto território nacional em conjunto com sua irmã idiomática, a língua geral paulista, falado por índios, jesuítas e colonos de origem portuguesa.
 
Em vez de nos rendermos ao aprendizado do idioma inglês em função da Copa de 2014, José Luiz sugere que deveríamos estimular os turistas e membros das delegações esportivas visitantes a aprenderem algo de básico do nosso idioma.
O lado lúdico do turismo
 Nesse sentido, penso eu, o Ministério da Cultura teria um importante papel a desempenhar na publicação e distribuição de minidicionários e de livrinhos de viagem contendo frases prontas do nosso dia a dia e a tradução em inglês. Isso facilitaria a vida dos visitantes e daqueles que deverão atendê-los em solo brasileiro.
 
José Luiz não contesta a praticidade do inglês como idioma da globalização. No entanto, chama atenção para o estado de espírito do turista que deseja “estar-se” brasileiro quando aqui está. É o lado lúdico do turismo a ser levado em conta e a nos oferecer uma boa oportunidade de divulgação da nossa língua.
 
Segundo ele, “esforçar-se para comunicar na língua do lugar visitado não é só demonstração de deferência aos anfitriões. É uma manifestação de civilidade planetária e da capacidade de aprender um com o outro. O turismo da Copa de 2014 trás uma oportunidade de entrelaçamento cultural luso-global que não deve ser desperdiçada”.
 
Assino embaixo e lanço a ideia pelo bem do Brasil e dos brasileiros. Afinal, como cantou Caetano Veloso ecoando o poema de Fernando Pessoa, “minha pátria é minha língua”.

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