in diálogos lusófonos
Prezad@s Lusófon@s:
Na sua coluna semanal publicada na Folha de S. Paulo de ontem, quinta-feira, o professor Pasquale menciona o artigo do João Pereira Coutinho, tal como aparece no texto que lhes reproduzo a seguir.
Saudações,
Isac Nunes
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PASQUALE CIPRO NETO
Notícias de Portugal
É, caro Coutinho, navegar é preciso, naufragar não é preciso, mas parece que a tripulação da nau lusófona...
Na semana passada, em Lisboa, constatei, mais uma vez, que a maior parte dos portugueses ainda dá de ombros para o "(Des)Acordo Ortográfico". Como se sabe, entre nós 2012 é o último ano de "acomodação", ou seja, do período em que valem as duas grafias, a "velha" e a "nova" (o decreto 6.583, de 29.set.2008, deixa claro isso).
A observação que fiz no fim do parágrafo anterior se deve ao fato de que parte da nossa imprensa afirma, erroneamente, que a transição já acabou. Não acabou. Até o último segundo do ano em curso, pode-se escrever "tranqüilo" ou "tranquilo", "auto-regulamentação" ou "autorregulamentação", "pára" (forma verbal) ou a inacreditável "para".
Lá vai o que diz o texto legal: " A implementação do Acordo obedecerá ao período de transição de 1º de janeiro de 2009 a 31 de dezembro de 2012, durante o qual coexistirão a norma ortográfica atualmente em vigor e a nova norma estabelecida".
Mas voltemos a Portugal. Como bem disse nosso companheiro João Pereira Coutinho ("Naufragar É Preciso?", Ilustrada, 10.jan.2012), a barafunda ortográfica parece imperar na terra de Camões e Pessoa.
Peço licença a Coutinho para transcrever este trecho de seu artigo: "Em Portugal é outra história. E não deixa de ser hilariante a quantidade de articulistas que, no final dos seus textos, fazem uma declaração de princípios: 'Por decisão do autor, o texto está escrito de acordo com a antiga ortografia'. A esquizofrenia é total, e os jornais são hoje mantas de retalhos. Há notícias, entrevistas ou reportagens escritas de acordo com as novas regras. As crônicas e os textos de opinião, na sua maioria, seguem as regras antigas. E depois existem zonas cinzentas, onde já ninguém sabe como escrever e mistura tudo: a nova ortografia com a velha e até, em certos casos, uma ortografia imaginária".
Como exemplo do que diz Coutinho, cito o site da revista semanal portuguesa "Visão", em que há uma seção chamada "Actualidades" (note o "c"). O detalhe é que, no corpo da seção, a revista usa a grafia "nova", ou seja, escreve "atual", "atualidades" etc. A também lusitana "Sábado" parece ignorar por completo o "(Des)Acordo Ortográfico". Nas ruas de Lisboa e do Porto, nada de nada de nenhum sinal da "adopção" das normas do "(Des)Acordo". Anúncios publicitários, cartazes, panfletos, placas públicas etc. ignoram a lambança. O que vale mesmo é a velha grafia lusitana.
Enquanto isso, na TV, num boletim de dois ou três minutos, que conta com o apoio da importante Porto Editora, uma repórter vai às ruas e pergunta ao povo como se escrevem determinadas palavras. Num dos boletins, perguntava-se se "massagem" se escreve "com 'jota' ou com 'guê'". Sim, com "guê" (e não com "gê"), como diz a antológica canção "ABC do Sertão" (Luís Gonzaga e Zé Dantas). Sim, caro leitor, em algumas regiões do Brasil e em Portugal, o "g" pode ser "gê" ou "guê".
Ao dar a resposta, a repórter afirmou que "massagem" se escreve com "guê", mas... Mas disse que "massajem" (com "j") é do verbo "massajar". Lambança! A pergunta foi feita sem contextualização da palavra, portanto não faz sentido dar como correta a forma "massagem", se existem as duas... Bem, as duas existem em Portugal. No Brasil, os dicionários e o "Vocabulário Ortográfico" não registram "massajar" (registram o que se usa entre nós, ou seja, "massagear"; os dicionários portugueses registram as duas).
É, caro Coutinho, navegar é preciso, naufragar não é preciso. Só falta os passageiros e os tripulantes da nau lusófona saberem disso. É isso.
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