sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

ORGULHOSAMENTE SÓS


E DIÁLOGOS LUSÓFONOS CITO:

"Orgulhosamente sós", a célebre frase de Salazar é guardada até hoje na memória lusa. Sobre esta época em Portugal encontrei um texto que esclarece como Portugal se relacionava com o exterior nos anos 60.

Trata-se do trabalho de Luís Nuno Rodrigues : "Orgulhosamente Sós"? Portugal e os Estados Unidos no início da década de 1960 , 
Política Externa e Política de Defesa Portuguesa  

Comunicação apresentada ao 22º Encontro de Professores de História da Zona Centro, Caldas da Rainha |Abril de 2004|
do Instituto Português de Relações Internacionais, http://www.ipri.pt/investigadores/artigo.php?idi=8&ida=140

Bem esclarecedor de uma certa mentalidade.Salazar sabia com quem falar! E os "Salazares" continuam por aí?

    Diz o autor Luís Rodrigo:
 O "isolamento" internacional de Portugal na década de 60

Foi a 18 de Fevereiro de 1965 que Oliveira Salazar proferiu a célebre expressão que, a partir de então, foi frequentemente utilizada para caracterizar a política externa portuguesa durante a década de 1960: o "orgulhosamente sós". Salazar defendia, nesse discurso, a manutenção do esforço de guerra português nas colónias africanas, definido como uma "batalha em que – os portugueses europeus e africanos – combatemos sem espectáculo e sem alianças, orgulhosamente sós"[1]. Estas duas últimas palavras iriam de imediato causar sensação. Ao relatar este episódio na sua biografia de Salazar, Franco Nogueira (que era Ministro dos Negócios Estrangeiros no momento em que Salazar profere o discurso) sintetiza bem as consequências duradouras do "orgulhosamente sós": "Esta expressão… logo se transformou num estribilho ou bordão político, invocado por uns como título de nobreza e coragem nacional, por outros como indicativo de isolamento
 perante o mundo"[2].

Na verdade, a generalidade das análises da política externa portuguesa deste momento para a frente chocou, de forma inevitável, com as palavras de Salazar e o mito da "solidão" da política externa portuguesa nos anos 60 foi ganhando terreno. A divulgação e consolidação deste mito beneficiou de dois tipos de análise ou discurso diferentes: por um lado, o discurso oficial do regime e a propaganda do Estado Novo utilizaram o tópico do "orgulhosamente sós" para demonstrar a alegada superioridade moral e política de Portugal no contexto da civilização ocidental e também o modo corajoso e esforçado como o Estado Novo agia para, mesmo isolado, defender os princípios ideológicos em que acreditava e, acima de tudo, para defender a preservação do seu império colonial. Mesmo isolado, mesmo atacado, traído, sem as ajudas que esperaria, Portugal permanecia firme na defesa do seu império e dos seus princípios civilizacionais. Por outro lado, o
 tópico do "orgulhosamente sós" assentava, também, como uma luva às pretensões e aos discursos das oposições. Tratava-se aqui de salientar o isolamento do regime como prova do seu anacronismo, do seu desfasamento com as realidades políticas e culturais do mundo ocidental, do seu desfasamento, enfim, com o processo de descolonização por que passara a Europa desde o pós-guerra.

[1]Franco Nogueira, Salazar. Vol. VI. O Último Combate (1964-1970), Porto, Livraria Civilização, 1985, pp. 7-8.

[2] Franco Nogueira, Salazar. Vol. VI. O Último Combate (1964-1970), p. 8, nota.

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