A Emigração
Florentina
Desde a sua ocupação o arquipélago dos Açores
foi terra de emigrantes. A constituição vulcânica, sujeita a periódicos
desastres naturais, e a distante posição geográfica e politicamente
periférica, em relação à metrópole portuguesa, favoreceram à debanda
dos habitantes mais carentes toda a vez que surgia uma urgente situação de
sobrevivência.
Se o Brasil foi o foco nas busca dos ilhéus para a
emigração desde o século XVI, a partir da segunda metade do século XIX a
America do Norte tornou-se a preferência. Para isso influenciaram a
proximidade geográfica, a baleação luso-americana, e as histórias bem sucedidas
daqueles que para lá foram tentar uma vida com
melhores perspectivas de conforto e desenvolvimento.
Foi em 1765 que começaram a surgir nas águas das
Ilhas das Flores e Corvo os barcos baleeiros da então Colônia Britânica da
América. Em tempos certos, chegavam à caça da baleia ( cachalotes)
para a extração do óleo, âmbar e espermacete, produtos altamente valorizados
naquele tempo. Meses passados no mar, era nos longínquos
ancoradouros açorianos das Flores e da Horta ( Faial) que os baleeiros
encontravam refresco, gêneros alimentícios e gente. Herman Melville em
1851 no seu mundialmente conhecido livro, Moby Dick, escreveu que os
baleeiros procedentes dos Açores traziam entroncados campesinos que
completavam a tripulação como marinheiros e trancadores de baleias.
Para os florentinos ( naturais da Ilha das
Flores), por mais de um século, os barcos da baleação foram o meio de
transporte mais utilizado na fuga para as terras idealizadas da América.
Apesar da preocupação das autoridades do reino em conter e reprimir a evasão de
jovens em idade produtiva, através de patrulhas marítimas,
as fugas continuavam de forma ininterrupta. Embora sem
estadistas oficiais, sabe-se através de jornais da época que entre 1864 e 1920
saíram das Flores quase dez mil pessoas ( das ilhas açorianas), a maioria
clandestinamente, com a escandalosa inobservância, e até anuência, das
autoridades locais que faziam vista grossa, mediante pagamento. Eram jovens que
vinham de outras ilhas para as Flores, onde sabiam que encontrariam facilidade
em embarcar em navios que os levariam para Boston ou New Bedford,
destino preferido pelos ilhéus. Provincetown, Nantucket, New Bedford,
Boston, Califórnia, Nevada, era terra de açorianos na America. De nada
serviram as canhoneiras que fiscalizavam as águas florentinas e os sermões
encomendados dos padres, que falavam das agruras e sofrimentos daqueles que
emigravam para terras estranhas. O som tonante das "águias americanas"(
moedas de ouro de 20 dólares)que chegavam com os retornados e a aversão ao
serviço militar em terras distantes tropicais, para defender um espaço que nada
lhes dizia, falavam mais alto ao ilhéu.
Com os anos, tantos foram os emigrados e tão
estreita se tornou a relação com a América baleeira, que pelo menos dois
florentinos, Manuel Borges de Freitas Henriques e Manuel José de Avelar
adquiriram embarcações ( Kate Williams e Pimpão,
respectivamente) destinadas às ligações marítima entre a Ilha e a América.
Quando o petróleo descoberto no século XX
sobrepujou em importância econômica o óleo de baleia, o que havia sobrado
da frota baleeira americana estava em mãos de açorianos ou de seus descendentes.
ANTONIO INÁCIO BIXO, ANTONIO TEODORO ARMAS,
ANTONIO CAETANO CORVELO, HENRY CLAY ( ou AQUILIA RODRIGUES), WILLIAN
F.JOSEPH, FRANCISCO AUGUSTO, NICHOLAS RODRIGUES VIEIRA, JOHN VIEIRA, JOSEPH A.
VIEIRA, ANTONIO JOSE DE FREITAS, JOSEPH THOMAS EDWARDS, e outros mais foram
capitães, pela experiência adquirida na labuta de anos em águas do
Pacifico e do Atlântico, que levaram a saga florentina baleeira em terras
luso-americanas.
Nos Açores e na América a vida do
ilhéu se alterou. A linguagem, o comportamento social e a cultura
açoriana sofreram influencia de americanismos. O trabalho passou
a ser facilitado pelo emprego de instrumentos e utensílios importados. Trouxeram
o rádio, as impressoras tipograficas, a canoa baleeira, as caliveiras para
o milho, as ideias e as biblias protestantes. O açoriano conheceu as
comodidades da vida norte-americana.
O distanciamento, a pouca importância e visibilidade da
metrópole portuguesa em relação ao ilhéu, a proximidade e
relacionamento histórico com a América tornaram em geral, até hoje, o
açoriano um americanófilo e, para outros, simpatizantes da pouco viável
independência.
Maria Eduarda Fagundes.
Uberaba, 19/02/13
Compilação de dados do livro de Francisco Antônio Nunes
Pimentel Gomes, " A Ilha das
Flores:
da redescoberta à atualidade
( Subsídios para a sua História) "
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