quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

BOBOS NA CORTE



Bobos nas funções do estado

Manuel Leal

Aumenta no nosso arquipélago o número dos que lhe viram as costas de novo. A emigração incrementa, subtil. Muitas vezes clandestina como noutros tempos. Vão de passeio para fora. E por lá ficam. 

Eu sou apenas um individuo a testemunhar que os emigrantes serão bem recebidos. Existe na diáspora uma legião que me daria a razão. O trabalho e a motivação que aí não conduzem a parte nenhumas serão recompensados. Quem trabalha e cumpre com os seus deveres civis tem direito à felicidade. 

Pena é que fiquem sempre alguns para que o sistema continue. Para se manter num modo insidio de escravatura implícita no centralismo. Bem diz Carlos Melo Bento de modo quase explícito no medo críptico e tradicional de ser-se português. Saem os açorianos que não sabem fazer a revolução. O melhor seria ficarem todos. Mas todos como um só, como os baleeiros de antanho de arpão nas mãos.   

Aquele homem tem autoridade experiencial para o afirmar: foi vítima um dia dos processos de intimidação do governo quando a farsa política da integridade nacional saiu à rua na máscara imperial e militar de armas aperradas. As mesmas transportadas de avião para Ponta Delgada em 1975 na missão falhada de prender ou assassinar José de Almeida. Português que sempre foi porque assim o ensinaram, e quis ser como gente das ilhas, um dia descobriu, maravilhado e finalmente livre, que poderia ser açoriano. 
 
Imaginem o que aconteceria se amanhã a maioria da população se congregasse de pau nas mãos a fim de dizer aos donos de Portugal que o embuste chegou ao fim. Vocês, os professores e os mangas-de-alpaca, os médicos, os licenciados que conseguem ter emprego, os polícias, os escritores e os jornalistas, os advogados e os economistas, os psicólogos e os enfermeiros e todos os agentes do neocolonialismo são os responsáveis pelo estado em que se encontra o povo açoriano. Vocês aceitaram o status quo. E ergueram-lhe a estátua evocativa da autonomia alegórica, sem pernas nem vontade. Um espantalho de palha, vigiado pelo Representante da República.

Quando as aves de rapina descem em voo picado sobre os esquilos só comem os que se agacham. Os que mordem e de pé nas patas traseiras as enfrentam de unhas afoitas em grupo espantam-nas. Na nossa terra,
todavia, só há pintos. E ratos que se escondem nos buracos das lavas negras da costa.
 
Quando se fala de crise é preciso defini-la. Há uma crise de identidade, sustida com o comodismo. Há também uma crise das instituições criadas para acomodar a desconfiança nas políticas roubando aos açorianos a liberdade de decidir, de serem donos do mar e das ilhas, de legislar o seu presente e o futuro sem intermediários de partidos de fora. A crise económica, simultânea às circunstâncias internacionais, é uma consequência da falta de visão, da capacidade criadora e da solidariedade social no investimento subsidiado pelos procuradores do poder.     

Viver nos Açores e bater no peito medalhado que os Açores «são aqui» não é ser açoriano. É preciso sentir a chama dentro, profunda, o vulcão que estoira em oposição à prepotência de um estado padrasto. E ranger os dentes de raiva contra a opressão. Por isso seria preferível ficar para apontar o mar aos juízes de fora. Vai-te, patife!

Porque Portugal morreu, vendido aos interesses financeiros dos bossas do mundo. Os Mindelos, infelizmente, já não são possíveis, defensada a praia pelo governo dos banqueiros aplaudidos pelos bobos nas funções do Estado. 

Vai-te, patife!

 
    
 MANUEL LEAL

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