Bobos nas funções do estado
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Manuel Leal
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Aumenta no nosso arquipélago o número dos que lhe
viram as costas de novo. A emigração incrementa, subtil. Muitas vezes
clandestina como noutros tempos. Vão de passeio para fora. E por lá
ficam.
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Eu sou apenas um individuo a testemunhar que os
emigrantes serão bem recebidos. Existe na diáspora uma legião que me daria a
razão. O trabalho e a motivação que aí não conduzem a parte nenhumas serão
recompensados. Quem trabalha e cumpre com os seus deveres civis tem direito à
felicidade.
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Pena é que fiquem sempre alguns para que o sistema
continue. Para se manter num modo insidio de escravatura implícita no
centralismo. Bem diz Carlos Melo Bento de modo quase explícito no medo
críptico e tradicional de ser-se português. Saem os açorianos que não sabem
fazer a revolução. O melhor seria ficarem todos. Mas todos como um só, como
os baleeiros de antanho de arpão nas mãos.
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Aquele homem tem autoridade experiencial para o
afirmar: foi vítima um dia dos processos de intimidação do governo quando a
farsa política da integridade nacional saiu à rua na máscara imperial e
militar de armas aperradas. As mesmas transportadas de avião para Ponta
Delgada em 1975 na missão falhada de prender ou assassinar José de Almeida.
Português que sempre foi porque assim o ensinaram, e quis ser como gente das
ilhas, um dia descobriu, maravilhado e finalmente livre, que poderia ser
açoriano.
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Imaginem o que aconteceria se amanhã a maioria da
população se congregasse de pau nas mãos a fim de dizer aos donos de Portugal
que o embuste chegou ao fim. Vocês, os professores e os mangas-de-alpaca, os
médicos, os licenciados que conseguem ter emprego, os polícias, os escritores
e os jornalistas, os advogados e os economistas, os psicólogos e os
enfermeiros e todos os agentes do neocolonialismo são os responsáveis pelo
estado em que se encontra o povo açoriano. Vocês aceitaram o status quo.
E ergueram-lhe a estátua evocativa da autonomia alegórica, sem pernas nem
vontade. Um espantalho de palha, vigiado pelo Representante da República.
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Quando as aves de rapina descem em voo picado sobre
os esquilos só comem os que se agacham. Os que mordem e de pé nas patas
traseiras as enfrentam de unhas afoitas em grupo espantam-nas. Na nossa
terra,
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todavia, só
há pintos. E ratos que se escondem nos buracos das lavas negras da costa.
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Quando se fala de crise é preciso defini-la. Há uma
crise de identidade, sustida com o comodismo. Há também uma crise das
instituições criadas para acomodar a desconfiança nas políticas roubando aos
açorianos a liberdade de decidir, de serem donos do mar e das ilhas, de
legislar o seu presente e o futuro sem intermediários de partidos de fora. A
crise económica, simultânea às circunstâncias internacionais, é uma
consequência da falta de visão, da capacidade criadora e da solidariedade
social no investimento subsidiado pelos procuradores do poder.
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Viver nos Açores e bater no peito medalhado que os
Açores «são aqui» não é ser açoriano. É preciso sentir a chama dentro,
profunda, o vulcão que estoira em oposição à prepotência de um estado
padrasto. E ranger os dentes de raiva contra a opressão. Por isso seria
preferível ficar para apontar o mar aos juízes de fora. Vai-te, patife!
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Porque Portugal morreu, vendido aos interesses
financeiros dos bossas do mundo. Os Mindelos, infelizmente, já não são
possíveis, defensada a praia pelo governo dos banqueiros aplaudidos pelos
bobos nas funções do Estado.
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Vai-te, patife!
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