O grande falhanço!
A par da saúde, o sector do
turismo é um dos maiores falhanços da nossa Autonomia.
O sector que iria ser a alternativa
(ou o complemento) da agro-pecuária, na diversificação da riqueza
açoriana, tornou-se num autêntico pesadelo para quem nele apostou
legitimamente.
Podem-se atribuir as mais variadas
causas a este insucesso, mas há uma que é inquestionável: a falta
de uma orientação estratégica consistente e altamente
profissional.
Acreditou-se que a atribuição de
muitos milhões, a fundo perdido, era razão suficiente para o sector
fazer caminho por si próprio.
Estimularam-se os investidores e
criaram-se expectativas demasiado altas, sem se curar de saber as
consequência e as alternativas a eventuais insucessos.
Os últimos seis anos foram mesmo
de uma grande desorientação, sem um fio condutor que nos trouxesse
a valia económica tão prometida em estudos, seminários,
conferências, promoções, planos e outros documentos mirabolantes.
Era tudo facilidades.
Em meados de 2008 foi criado aquele
que era considerado o documento mais ambicioso alguma vez para o
sector, o POTRAA (Plano de Ordenamento Turístico da Região Autónoma
dos Açores), tão optimista, tão optimista, que poderia ser
assinado pelo ministro Vítor Gaspar, porque não acertava com
nenhuma previsão.
O Plano previa – imagine-se –
taxas de crescimento anuais do turismo de 7%, quando já naquele ano
o turismo descia 5% e, em 2009, teve um trambolhão de 11%.
Foi o documento por água abaixo,
apesar de ainda vigorar por aí, assim como um outro, denominado
“Plano de Marketing Estratégico”, que promovia a “Marca
Açores”, de que nunca mais se ouviu falar, e ainda o célebre
“Plano de Promoção Turística”, de 2010, que previa mais de 30
milhões de euros para a promoção.
No mesmo ano, uma resolução do
governo concedia 10 milhões de euros às associações sem fins
lucrativos na comparticipação de projectos de interesse público na
área do turismo.
Não faltavam milhões.
Até o portal de turismo, a página
oficial do sector na internet, foi adjudicado a duas empresas
diferentes em 2010 e 2011, custando à região mais de 320 mil euros.
O primeiro tinha erros de
informação de bradar aos céus e o segundo parece que não teve
melhor sucesso.
Ambos estavam enquadrados numa
candidatura a fundos comunitários de quase 1 milhão de euros,
destinados à promoção dos Açores.
Entretanto, mais estudos
encomendados.
O Observatório de Turismo dizia,
com base num destes estudos, que a nossa salvação estava no
segmento do Turismo de Saúde e Bem-Estar.
Mais tarde apontava para o Turismo
Religioso.
Depois fez um outro, onde se
concluía que o golfe não se encontrava entre as preferências dos
turistas.
Conclusão para os três: no
Turismo de Saúde, se os turistas idosos souberem do descalabro que
vai pelos nossos hospitais, nunca mais põem os pés cá; no
Religioso, tivemos há três anos a presidir às Festas do Senhor
Santo Cristo o Cardeal de Boston, que regressa de novo este ano, e o
melhor atractivo que demos aos turistas americanos foi aumentá-los
as passagens; no golfe, os campos de S. Miguel foram
“regionalizados”.
Ou seja, tudo ao contrário.
Outra história semelhante: há uns
anos atrás trouxeram a um seminário sobre turismo, na Universidade
dos Açores, um “guru” americano, Jafar Jafari, professor da
Universidade de Wisconsin e consultor da Organização Mundial de
Turismo.
Quando lhe perguntaram o que fazer
para atrairmos o turista americano, respondeu: “A primeira grande
ajuda é conseguir chegar aos principais operadores turísticos
americanos. Mas, desde logo, uma das grandes lacunas dos Açores em
relação aos EUA, é a dos voos directos, que têm de ser
aumentados, pois esta será também uma grande ajuda”.
O que fez a região?
Promoveu os Açores nos táxis de
Boston, retirou o voo directo do aeroporto de Providence e aumentou
as tarifas!
Depois, a SATA veio dizer que o
mercado da América do Norte é “estratégico”.
Em quê? Só se for na exploração
dos emigrantes açorianos.
Nesta questão dos mercados, a
desorientação é ainda mais incompreensível.
A operação de Munique foi um
desastre deficitário, a Escandinávia é cada vez mais uma miragem,
anunciou-se em 2011 uma operação turística dirigida ao mercado
belga para o verão de 2012, que deveria proporcionar 28 mil
dormidas, lançou-se um pacote turístico em 2011 “Tudo incluído 5
dias”, agora há outro para visitar quase todas as ilhas em menos
de uma semana...
O fomento da hotelaria foi outra
desorientação.
Houve hotéis que, espantosamente,
na cerimónia de inauguração, já anunciavam o seu encerramento
temporário para 15 dias depois.
Hoje, é o que se vê: hotéis que
estão a encerrar nos Açores e, no Continente, 27 vão abrir este
ano (duas inaugurações por mês).
O “Hotel voo incluido” serviu
para dividir agentes de viagens, hoteleiros e câmaras de comércio.
Em todo este decurso, o turismo
nacional e mundial continuou sempre a subir (aumento de 4% no ano
passado e previsão de 3 a 4% este ano).
E nós, sempre a descer.
Já se experimentou de tudo, até
nomear Pedro Pauleta “Embaixador do Turismo dos Açores”.
Causas para a decadência?
Já ouvimos de tudo no discurso
oficial: uma vez é porque não temos “notoriedade suficiente”,
outras porque há uma “acentuação da sazonalidade” e a última
é por causa da “crise no Continente”.
Já não sei o que diga.
Citando o meu amigo Gilberto
Vieira, da Quinta do Martelo, “algo vai muito mal no reino dos
abexins”...
Pico da Pedra, Fevereiro 2012
Osvaldo Cabral
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