Acordo Ortográfico é uma "engenharia política" que empobrece o português
“Uma sociedade que tem dificuldades em exprimir pensamentos complexos, que tem dificuldades em usar de forma criadora a sua própria língua, uma sociedade que fala como se enviasse mensagens no Twitter ou SMS, portanto de uma forma mais ou menos gutural, perde a sua riqueza e o acordo ortográfico acelera esse processo”.
01-02-2013
O
acordo ortográfico, que está no centro das preocupações em relação ao
futuro do português, é uma medida de engenharia política que provoca o
empobrecimento da Língua Portuguesa, disse hoje, em Lisboa, José Pacheco
Pereira.
“O
acordo ortográfico é a típica medida de engenharia política. É a ideia
de que, a partir da política, pode-se moldar a língua, moldando, neste
caso, a grafia”, declarou Pacheco Pereira.
O
ex-deputado do PSD fez estas declarações à margem da conferência “A
Sociedade Civil no Plano de Ação de Brasília”, na Academia das Ciências
de Lisboa, evento que abordou o envolvimento da sociedade civil na
promoção e divulgação da Língua Portuguesa no mundo.
“Do
meu ponto de vista, isso (o acordo ortográfico) é muito empobrecedor em
relação à riqueza do português”, referiu o também comentador político.
De
acordo com Pacheco Pereira, está-se a “assistir ao empobrecimento
sucessivo do português, por problemas de leitura, porque o vocabulário
circulante é cada vez menor”.
“Uma
sociedade que tem dificuldades em exprimir pensamentos complexos, que
tem dificuldades em usar de forma criadora a sua própria língua, uma
sociedade que fala como se enviasse mensagens no Twitter ou SMS,
portanto de uma forma mais ou menos gutural, perde a sua riqueza e o
acordo ortográfico acelera esse processo”, acrescentou o ex-deputado.
“O
acordo está a ser empurrado pela maior das forças, que é a inércia.
Está a ser introduzido no ensino, nos órgãos de comunicação social um
bocado à revelia, esta força da inércia é muito grande e vai abastardar a
língua portuguesa”, sublinhou Pacheco Pereira.
Por
seu lado, a presidente do Camões - Instituto da Cooperação e da Língua,
Ana Paula Laborinho, sublinhou que o acordo ortográfico está a ser
aplicado, com maior ou menor rapidez, dependendo de questões internas de
cada um dos países lusófonos.
Ana
Paula Laborinho disse ainda que existe muita desinformação sobre o
prolongamento do prazo de transição para a adoção do acordo ortográfico
no Brasil, “já que foi somente isso mesmo, uma extensão do prazo (de
2013 para 2016), mas isso não quer dizer que já não esteja a ser
aplicado”.
O
Governo brasileiro decidiu pelo prolongamento da transição do acordo
ortográfico em dezembro. O prazo de adoção do acordo em Portugal é em
2015.
Ana
Paula Laborinho declarou ainda que há um crescente interesse
internacional pelo português, nomeadamente na África Austral, como na
Namíbia e Senegal, e na Ásia, sobretudo na China.
“É
preciso políticas públicas (para a promoção do português), mas também o
envolvimento da sociedade civil, para que esta realidade se mantenha.
As línguas não vivem por si eternamente, é preciso também desenvolver
esforços no sentido de mantê-la num patamar de língua global”, avaliou
ainda a presidente do instituto Camões.
Carla
Oliveira, professora da Universidade Aberta, considerou, durante o
evento, que “falta uma política internacional de
promoção do português coerente e sustentada, que a coloque no mesmo
nível do inglês, seja para o mundo dos negócios, no ensino e em outras
áreas”.
A
docente universitária acredita que é tarefa do Estado coordenar o ensino
e promoção do português, porém deve haver um envolvimento significativo
da sociedade civil neste processo.
Ana
Paula Laborinho referiu ainda que a realização da “II Conferência
Internacional sobre a Língua Portuguesa no Sistema Mundial” vai
realizar-se, como data indicativa, em novembro, em Lisboa.
CSR // VM.
Lusa/Fim
Fotos:
Afonso
Camões (D), presidente do conselho de administração da Lusa, troca
impressões com José Pacheco Pereira momentos antes do debate " A língua
Portuguesa na comunicação social" no âmbito da Conferência "A Sociedade
Civil no Plano de Ação de Brasília" na Academia das Ciências de Lisboa,
em Lisboa, 31 de janeiro de 2013. JOAO RELVAS/LUSA
Afonso
Camões usa da
palavra no debate " A língua Portuguesa na comunicação social" no
âmbito da Conferência "A Sociedade Civil no Plano de Ação de Brasília",
31 de janeiro de 2013. JOAO RELVAS/LUSA
http://observatorio-lp.sapo.pt/pt/noticias/empobrece-o-portugues
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