sábado, 8 de dezembro de 2012

A BASE DAS LAJES - AÇORES


irei publicando as minhas crónicas semanais do "Correio dos Açores", "Diário Insular", "Portuguese Times" e "LusoPress de Montreal".
 
Esta vem a propósito da Base das Lajes, uma das polémicas da actualidade nacional e regional.
 
POLÍTICOS DISTRAÍDOS
 
 
É surpreendente a “surpresa” dos governos da república e regional sobre a redução de efectivos na Base das Lajes.
Na senda típica da política à portuguesa, quando a classe é confrontada com um desfecho desfavorável que estava à vista de todos, mostra-se uma “surpresa” para esconder a forma desprevenida como é apanhada nas suas trapalhadas.
O caso da Base das Lajes é, apenas, mais um exemplo desse comportamento de empurrar com a barriga os assuntos melindrosos e complicados de resolver, para depois manifestar espanto pelo desastre final.
Há muito tempo que se sabia das intenções da Casa Branca.
Os próprios congressistas luso-americanos, que ainda vão fazendo “lobby” a favor dos Açores, vieram no início do ano a Lisboa e à nossa região para deixar alertas concretos do que aí vinha.
Ninguém lhes deu ouvidos.
É timbre, desde há algum tempo, a política nacional e regional desvalorizarem o potencial que possuimos em Washington através do influente grupo luso-americano.
Trata-se de uma atitude altamente prejudicial aos Açores.
Os Açores maltratam a comunidade açoriana radicada nos Estados Unidos via SATA; não assumem um relacionamento de vanguarda com os políticos luso-americanos; tem uma visão folclórica e de procissão com as autoridades norte-americanas; limita-se a estender a passadeira vermelha a um simples Sheriff que alberga o pessoal a repatriar.
É deplorável a ausência de uma estratégia concertada e inteligente no relacionamento dos Açores com as autoridades americanas.
Perdemos, nestes últimos anos, oportunidades irrepetíveis para estarmos na linha da frente desse relacionamento.
Pelo contrário, permitimos que a diplomacia lisboeta ocupasse todos os caminhos que nos eram estendidos, para benefício de alguns sectores continentais, como as contrapartidas em equipamentos militares ou o financiamento da FLAD.
Há muito que deveríamos ter tomado a dianteira na exigência da renovação do Acordo de Cooperação e Defesa com os EUA, caduco e desactualizado há quase duas dezenas de anos.
Desde 1995 que o açoriano ex-Ministro dos Negócios Estrangeiros, Prof. Medeiros Ferreira, vem alertando para a fragilidade do Acordo em vigor, classificando-o como “o pior de sempre”.
Mais uma vez não lhe deram ouvidos.
Outro especialista nacional em estratégia, o açoriano Prof. Miguel Monjardino, também vem alertando há muito tempo para as profundas mudanças na política internacional dos EUA, que agora se concentra na vasta região do Médio Oriente ao Pacífico Ocidental.
Ninguém quis saber.
Quando o Prof. Luis Andrade, da Universidade dos Açores, especialista em assuntos internacionais, assessorou o Governo Regional, era notória uma maior preocupação açoriana nestes assuntos de geoestratégia e uma maior valorização da nossa presença na Comissão Bilateral.
Perdeu-se tudo isso.
O resultado é histórico: o caso do campo de treino para os modernos F-22 nas Lajes foi conduzido de forma trapalhona; a polémica sobre quem pagaria a repavimentação da pista das Lajes foi outra trapalhada; no Acordo Laboral e na extinção do inquérito salarial manteve-se a trapalhada.
Ou seja, de incompetência em incompetência, chegamos a este resultado final, com os Estados Unidos a aplicar-nos uma espécie de diplomacia prostituida: usar e meter fora.
Só faltava agora a hipocrisia das virgens ofendidas... ou “surpreendidas”.
Haja paciência!
                                                                 ***
JORNALISMO – As mortes de Manuel Ferreira, em S. Miguel, e do jornal “A União”, na Terceira, são um duro golpe no jornalismo açoriano.
O que vem aí em relação à RTP-Açores também não é boa notícia.
Desde há muito que Miguel Relvas e a administração da RTP resolveram deixar cair a televisão açoriana, o único canal do grupo que não viu um cêntimo de investimento na última década, deixando-a apodrecer para dar a machadada final no início do próximo ano.
Ao que sabemos, Miguel Relvas já enviou uma carta a Vasco Cordeiro, dando conta do golpe de misericórdia.
Escandalosamente, o Presidente da RTP deslocou-se na semana passada a Angola, onde prometeu investir num acordo de cooperação com a TPA, Televisão Pública de Angola, fornecendo pessoal e equipamentos para formação de quadros angolanos, realização de co-produções de conteúdos e até a reprodução de uma Academia RTP naquele país...
Infelizmente os Açores não têm petróleo.

Pico da Pedra, Dezembro 2012

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