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15 e 16 de Dezembro de 2012
Fernando Venâncio
A DESORIENTAÇÃO ACADÉMICA - 1
Custou-me 40 €. Pesa quase um quilo e meio. Mas não tenham dó de mim.
O novíssimo «VOCABULÁRIO ORTOGRÁFICO ATUALIZADO DA LÍNGUA PORTUGUESA», produzido pela ACADEMIA DAS CIÊNCIAS DE LISBOA, é uma fonte de delícias.
Irei dando conta da minha observação do volume. A sua elaboração e publicação - lemos na Nota de abertura - «é uma competência» da ACL.
Calem-se, pois, a Porto Editora, mailo ILTEC, maila Priberam, que outro poder mais alto se...
... veremos, então, o que aqui se levanta.
Custou-me 40 €. Pesa quase um quilo e meio. Mas não tenham dó de mim.
O novíssimo «VOCABULÁRIO ORTOGRÁFICO ATUALIZADO DA LÍNGUA PORTUGUESA», produzido pela ACADEMIA DAS CIÊNCIAS DE LISBOA, é uma fonte de delícias.
Irei dando conta da minha observação do volume. A sua elaboração e publicação - lemos na Nota de abertura - «é uma competência» da ACL.
Calem-se, pois, a Porto Editora, mailo ILTEC, maila Priberam, que outro poder mais alto se...
... veremos, então, o que aqui se levanta.
A DESORIENTAÇÃO ACADÉMICA - 2
Primeiro, duas maravilhas.
O «Vocabulário Ortográfico Atualizado da Língua Portuguesa» (VOALP para os íntimos) consagra ÓPTICA e ÓPTICO (termos oftalmológicos), a distinguir de ÓTICO (termo otorrino). Alvíssaras!
Consagra, também, CONCEPÇÃO (e CONCEPCIONAL, CONCEPTIVO, CONCEPTUAL, CONCEPTUALIZAR) a par de CONCEÇÃO (e CONCECIONAL). Louvores!
Ora, raciocinemos. Se é verdade (como julgo que é) soar o P nas formas «concepcional», «conceptivo», «conceptual» e «conceptualizar», infere-se que a ACL consagra, também, a pronúncia CON-CEP-ÇÃO. Será porque é a pronúncia brasileira? Vamos supor que não é isso, e só uma mostra (excessiva) de generosidade.
Mas logo surge um cartão vermelho. Quando se esperaria a inclusão de ANTICONCEPCIONAL e ANTICONCEPTIVO, não: o VOALP só dá ANTICONCECIONAL e ANTICONCETIVO.
Continuaremos.
Primeiro, duas maravilhas.
O «Vocabulário Ortográfico Atualizado da Língua Portuguesa» (VOALP para os íntimos) consagra ÓPTICA e ÓPTICO (termos oftalmológicos), a distinguir de ÓTICO (termo otorrino). Alvíssaras!
Consagra, também, CONCEPÇÃO (e CONCEPCIONAL, CONCEPTIVO, CONCEPTUAL, CONCEPTUALIZAR) a par de CONCEÇÃO (e CONCECIONAL). Louvores!
Ora, raciocinemos. Se é verdade (como julgo que é) soar o P nas formas «concepcional», «conceptivo», «conceptual» e «conceptualizar», infere-se que a ACL consagra, também, a pronúncia CON-CEP-ÇÃO. Será porque é a pronúncia brasileira? Vamos supor que não é isso, e só uma mostra (excessiva) de generosidade.
Mas logo surge um cartão vermelho. Quando se esperaria a inclusão de ANTICONCEPCIONAL e ANTICONCEPTIVO, não: o VOALP só dá ANTICONCECIONAL e ANTICONCETIVO.
Continuaremos.
A DESORIENTAÇÃO ACADÉMICA - 3
Vimos a generosidade das formas CONCEÇÃO e CONCEPÇÃO. Podiam aguardar-se mais bónus destes. Por exemplo, PERCEÇÃO e PERCEPÇÃO, PERCECIONAR e PERCEPCIONAR. Desenganem-se. Só temos direito a PERCEÇÃO e PERCECIONAR (quando eu digo, e muita gente diz, distintamente, PERCEPCIONAR).
Podia esperar-se a generosidade de RECEÇÃO e RECEPÇÃO, de RECECIONISTA e RECEPCIONISTA. Pois não. Só há formas sem P.
Mas 'pera lá! Junto a RECEÇÃO vem indicado «RECEPÇÃO (B)». Mas porque não se fez o mesmo em PERCEÇÃO? E porque se admitiram, sem uma nota brasileira, CONCEÇÃO e CONCEPÇÃO?
Ó Academia. Isto é para levar a sério?
Prosseguiremos. Levaremos esta cruz ao calvário.
Vimos a generosidade das formas CONCEÇÃO e CONCEPÇÃO. Podiam aguardar-se mais bónus destes. Por exemplo, PERCEÇÃO e PERCEPÇÃO, PERCECIONAR e PERCEPCIONAR. Desenganem-se. Só temos direito a PERCEÇÃO e PERCECIONAR (quando eu digo, e muita gente diz, distintamente, PERCEPCIONAR).
Podia esperar-se a generosidade de RECEÇÃO e RECEPÇÃO, de RECECIONISTA e RECEPCIONISTA. Pois não. Só há formas sem P.
Mas 'pera lá! Junto a RECEÇÃO vem indicado «RECEPÇÃO (B)». Mas porque não se fez o mesmo em PERCEÇÃO? E porque se admitiram, sem uma nota brasileira, CONCEÇÃO e CONCEPÇÃO?
Ó Academia. Isto é para levar a sério?
Prosseguiremos. Levaremos esta cruz ao calvário.
A DESORIENTAÇÃO ACADÉMICA - 4
O VOALP consagra PERSPECTIVA, PERSPECTIVAR, PERSPECTIVO. Não tem formas sem C. Em contrapartida, só contém RESPETIVO.
Como interpretar isto? Que a pronúncia portuguesa é RES-PÈ-TI-VO, mas PERS-PÈC-TI-VA?
O VOALP só consagra ASPETO e ASPETUAL. Mas donde surgiu, de repente, ASPECTÁVEL? Vocês conheciam?
Damos com EXPECTANTE, EXPECTATIVA, EXPECTÁVEL. Óptimo.
Damos, por outro lado, com ESPETRO e ESPECTRO. Mas só vemos ESPECTRAL. Concordais, ó gentes?
Mais um cartão vermelho, este vermelhíssimo. Encontramos «CORRETOR /é/», quer dizer, aquele que corrige, mas ignora-se «CORRETOR», o senhor da Bolsa, com «e» fechado.
Ó Academia! Como te chamar?
O VOALP consagra PERSPECTIVA, PERSPECTIVAR, PERSPECTIVO. Não tem formas sem C. Em contrapartida, só contém RESPETIVO.
Como interpretar isto? Que a pronúncia portuguesa é RES-PÈ-TI-VO, mas PERS-PÈC-TI-VA?
O VOALP só consagra ASPETO e ASPETUAL. Mas donde surgiu, de repente, ASPECTÁVEL? Vocês conheciam?
Damos com EXPECTANTE, EXPECTATIVA, EXPECTÁVEL. Óptimo.
Damos, por outro lado, com ESPETRO e ESPECTRO. Mas só vemos ESPECTRAL. Concordais, ó gentes?
Mais um cartão vermelho, este vermelhíssimo. Encontramos «CORRETOR /é/», quer dizer, aquele que corrige, mas ignora-se «CORRETOR», o senhor da Bolsa, com «e» fechado.
Ó Academia! Como te chamar?
A DESORIENTAÇÃO ACADÉMICA - 5
Eu não queria dizer mal nenhum de ARTUR ANSELMO, pessoa que muito estimo. Mas ele é o Presidente da Comissão de Lexicologia e Lexicografia da ACL, portanto o responsável número 1 deste VOALP. Terei de registar, aqui, algumas excentricidades.
Num dos prefácios do volume, que ele assina, escreve RESPECTIVO, o seu VOALP só regista RESPETIVO. Escreve TÃO SOMENTE, mas o Vocabulário impõe (e bem) TÃO-SOMENTE. Escreve SELEÇÃO na pág. XVIII e SELECÇÃO na pág. seguinte. Escreve ENCORPORAR, e o VOALP só conhece INCORPORAR (que ele também usa). Escreve a forma adjectival ACEITAS, e o VOALP só reconhece ACEITES.
Também escreve CONCEPÇÕES, e RECTIFICADAS, e EXCEPCIONAL[MENTE], e ADOPTADOS (tudo na pág. XIX), formas que o seu VOALP indignamente baniu.
João Roque Dias: a tua "CHOLDRA ORTOGRÁFICA" veio, de facto, para ficar.
E com que cara, dizei-me, pode obrigar-se alunos e professores a uma escrita... correta?
Haverá mais. Infelizmente.
Eu não queria dizer mal nenhum de ARTUR ANSELMO, pessoa que muito estimo. Mas ele é o Presidente da Comissão de Lexicologia e Lexicografia da ACL, portanto o responsável número 1 deste VOALP. Terei de registar, aqui, algumas excentricidades.
Num dos prefácios do volume, que ele assina, escreve RESPECTIVO, o seu VOALP só regista RESPETIVO. Escreve TÃO SOMENTE, mas o Vocabulário impõe (e bem) TÃO-SOMENTE. Escreve SELEÇÃO na pág. XVIII e SELECÇÃO na pág. seguinte. Escreve ENCORPORAR, e o VOALP só conhece INCORPORAR (que ele também usa). Escreve a forma adjectival ACEITAS, e o VOALP só reconhece ACEITES.
Também escreve CONCEPÇÕES, e RECTIFICADAS, e EXCEPCIONAL[MENTE], e ADOPTADOS (tudo na pág. XIX), formas que o seu VOALP indignamente baniu.
João Roque Dias: a tua "CHOLDRA ORTOGRÁFICA" veio, de facto, para ficar.
E com que cara, dizei-me, pode obrigar-se alunos e professores a uma escrita... correta?
Haverá mais. Infelizmente.
A DESORIENTAÇÃO ACADÉMICA - 6
Este VOCABULÁRIO distingue-se dos demais (o da Porto Editora, produzido pelo académico Malaca Casteleiro, e o do ILTEC, que o Governo de Portugal declarou "oficial") pela informação ortoépica, isto é, relativa à pronúncia.
Assim, regista: ADOÇÃO /ó/, ADOTAR /ó/, CONCEÇÃO /é/, CONCETIVO /é/. E deixa sem anotar CONCEPÇÃO e CONCEPTIVO. No que há certa lógica. Ou um testimonium paupertatis, desculpem-me o atrevimento.
Mas é curioso que registe DIRETA /é/ ou DIRETO /é/, que, sendo de acento tónico, não deveria entrar nestas andança, e que são - objectivamente - simples marcas de má-consciência. (Honra lhes seja!).
Outra coisa. Regista-se ESPETACULAR /é/ e ESPETÁCULO /é. Mas em ESPETADOR não há nenhum /é/. Isto é gravíssimo. Não só ignora a correntíssima forma ES-PEC-TA-DOR, como convida à pronúncia «esp'tador».\
Ó Academia: eu não peço devolução dos 40 €. Só digo que não gastaste um centavo com um CORRECTOR, porra!
Este VOCABULÁRIO distingue-se dos demais (o da Porto Editora, produzido pelo académico Malaca Casteleiro, e o do ILTEC, que o Governo de Portugal declarou "oficial") pela informação ortoépica, isto é, relativa à pronúncia.
Assim, regista: ADOÇÃO /ó/, ADOTAR /ó/, CONCEÇÃO /é/, CONCETIVO /é/. E deixa sem anotar CONCEPÇÃO e CONCEPTIVO. No que há certa lógica. Ou um testimonium paupertatis, desculpem-me o atrevimento.
Mas é curioso que registe DIRETA /é/ ou DIRETO /é/, que, sendo de acento tónico, não deveria entrar nestas andança, e que são - objectivamente - simples marcas de má-consciência. (Honra lhes seja!).
Outra coisa. Regista-se ESPETACULAR /é/ e ESPETÁCULO /é. Mas em ESPETADOR não há nenhum /é/. Isto é gravíssimo. Não só ignora a correntíssima forma ES-PEC-TA-DOR, como convida à pronúncia «esp'tador».\
Ó Academia: eu não peço devolução dos 40 €. Só digo que não gastaste um centavo com um CORRECTOR, porra!
A DESORIENTAÇÃO ACADÉMICA - 6A
Transcrevo da pág. 447:
espetacular /pé/
espetáculo /pé/
espetaculoso /pé/
espetada
espetadela
espetado
espetador
espetanço
espetão
Como desejam eles que se leia ESPETADOR?
Mais (e repetindo-me): onde ficou o correntíssimo ES-PEC-TA-DOR?
Transcrevo da pág. 447:
espetacular /pé/
espetáculo /pé/
espetaculoso /pé/
espetada
espetadela
espetado
espetador
espetanço
espetão
Como desejam eles que se leia ESPETADOR?
Mais (e repetindo-me): onde ficou o correntíssimo ES-PEC-TA-DOR?
A DESORIENTAÇÃO ACADÉMICA - 7
Comentando um destes «posts», escreveu Ernesto Rodrigues:
«Artur no lugar de Malaca e Anselmo no de Casteleiro? Coitados. A ausência de Malaca é devida a quê: eleições? falta de credibilidade? coisa grave? Gostava que me explicassem.»
Disso nada sei, Ernesto. E duvido que algum dia no-lo digam. Ignoro, mesmo, se temos o direito de sabê-lo.
O que constato é o silêncio absoluto sobre JOÃO MALACA CASTELEIRO neste «Vocabulário Ortográfico Atualizado da Língua Portuguesa».
No seu prefácio, Telmo Verdelho (o maior lexicólogo que este país jamais teve) informa-nos de que, na confecção do VOALP, se fez «uma revisão minuciosa» de outros Vocabulários, entre eles o «Vocabulário Ortográfico da Língua portuguesa» da ABL, de 2009 (que está online), e o «Vocabulário Ortográfico do Português» do ILTEC, mais recente (também online).
A grande ausência é, obviamente, o «Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa», da Porto Editora, elaborado por Malaca Casteleiro, inculcado em 2009 como «a nova Bíblia da língua portuguesa».
Esse Vocabulário existiu? Poderia duvidar-se. Na altura, procurei-o por livrarias em Lisboa, e nada. Pedi ao editor que mo enviasse, e nada. Mas existe. Estive, um dia, com o volume na mão na livraria da Porto Editora, no Porto. Não o comprei. Foi a minha pequenina vingança? Até certo ponto. Mas já então o Vocabulário do ILTEC tinha sido oficializado para Portugal. O da Porto pode, porém, consultar-se online no site da editora.
Torna-se evidente que o académico Malaca Casteleiro mais a sua Academia andam de candeias às avessas. Porquê, exactamente? Qualquer dia a coisa transpira.
Mas nada disto abona na credibilidade do empreendimento ortográfico. O Brasil fez UM Vocabulário. Os nossos TRÊS andam por aí. Um desaparecido em combate, ou em modo zombie. Um pago pelo Estado e por ele tornado oficial. E agora outro, da entidade que, ela sozinha, o devera ter feito.
Devera ter feito? Não, senhores. Nada disto tem o menor sentido.
O aparecimento desta terceira abantesma seria o pretexto mais feliz para, de uma vez por todas, o Estado Português se libertar de um objectivo vexame.
Comentando um destes «posts», escreveu Ernesto Rodrigues:
«Artur no lugar de Malaca e Anselmo no de Casteleiro? Coitados. A ausência de Malaca é devida a quê: eleições? falta de credibilidade? coisa grave? Gostava que me explicassem.»
Disso nada sei, Ernesto. E duvido que algum dia no-lo digam. Ignoro, mesmo, se temos o direito de sabê-lo.
O que constato é o silêncio absoluto sobre JOÃO MALACA CASTELEIRO neste «Vocabulário Ortográfico Atualizado da Língua Portuguesa».
No seu prefácio, Telmo Verdelho (o maior lexicólogo que este país jamais teve) informa-nos de que, na confecção do VOALP, se fez «uma revisão minuciosa» de outros Vocabulários, entre eles o «Vocabulário Ortográfico da Língua portuguesa» da ABL, de 2009 (que está online), e o «Vocabulário Ortográfico do Português» do ILTEC, mais recente (também online).
A grande ausência é, obviamente, o «Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa», da Porto Editora, elaborado por Malaca Casteleiro, inculcado em 2009 como «a nova Bíblia da língua portuguesa».
Esse Vocabulário existiu? Poderia duvidar-se. Na altura, procurei-o por livrarias em Lisboa, e nada. Pedi ao editor que mo enviasse, e nada. Mas existe. Estive, um dia, com o volume na mão na livraria da Porto Editora, no Porto. Não o comprei. Foi a minha pequenina vingança? Até certo ponto. Mas já então o Vocabulário do ILTEC tinha sido oficializado para Portugal. O da Porto pode, porém, consultar-se online no site da editora.
Torna-se evidente que o académico Malaca Casteleiro mais a sua Academia andam de candeias às avessas. Porquê, exactamente? Qualquer dia a coisa transpira.
Mas nada disto abona na credibilidade do empreendimento ortográfico. O Brasil fez UM Vocabulário. Os nossos TRÊS andam por aí. Um desaparecido em combate, ou em modo zombie. Um pago pelo Estado e por ele tornado oficial. E agora outro, da entidade que, ela sozinha, o devera ter feito.
Devera ter feito? Não, senhores. Nada disto tem o menor sentido.
O aparecimento desta terceira abantesma seria o pretexto mais feliz para, de uma vez por todas, o Estado Português se libertar de um objectivo vexame.
A DESORIENTAÇÃO ACADÉMICA - 8 (e último)
Terá sentido continuar a mostrar as deficiências do VOALP, o novel Vocabulário Ortográfico Atualizado da Língua Portuguesa? Tem. E por uma razão, simples, mas ponderosa: a da IMPOSSIBILIDADE de algum dia confeccionar esse «VOCABULÁRIO ORTOGRÁFICO COMUM DA LÍNGUA PORTUGUESA» que se nos prometeu, e promete.
O problema foi criado pelo próprio Acordo Ortográfico 1990, ao consagrar a PRONÚNCIA CULTA de cada país de língua portuguesa como primeiro critério da grafia, destronando para segundo lugar a ETIMOLOGIA.
Em si, esta inversão é um progresso. Mas qual é a PRONÚNCIA CULTA PORTUGUESA? Este VOALP poderia tê-la definido, frontalmente, mas ignora a questão (como todos os demais ignoraram). E, no entanto, opera como se ela tivesse sido definida. Alguns exemplos.
O VOALP consagra, e bem, as formas APOCALÍPTICO, DACTILOGRAFAR, EXPECTATIVA e EXPECTÁVEL, FACCIOSISMO, FACTÍCIO, GALÁCTICO, INTERRUPTOR, LACTAÇÃO, JACTANCIOSO, PICTÓRICO, RETRÁCTIL, SECÇÃO, VASECTOMIA. Tudo isto, não obstante desenhar-se algum uso emudecedor da primeira consoante dos grupos. Talvez por isso assinale as formas INTERRUTOR e RETRÁTIL (esta com a enigmática indicação de «adj. unif.». Será «unificado»? Mas de quê, se o Brasil admite as duas formas?).
O VOALP admite DETECÇÃO, DETECTAR, DETECTIVE ao lado de DETEÇÃO, DETETAR, DETETIVE. Admite PERFECCIONISMO, PERFECCIONISTA, PERFECTÍVEL ao lado de PERFECIONISMO, PERFECIONISTA, PERFETÍVEL. Admite SECTOR, SECTORIAL, ao lado de SETOR, SETORIAL. Já não se perdeu tudo.
Mas – e como já assinalei – o mesmo VOALP, admitindo CONCEPCIONAL e CONCECIONAL, só admite ANTICONCECIONAL. Do mesmo modo, admitindo PERFECTÍVEL e PERFETÍVEL, só admite IMPERFETÍVEL. E, ainda, admitindo INDEFECTÍVEL e INDEFETÍVEL, só admite DEFETÍVEL.
Não deveria, porém, o VOALP admitir algumas «facultatividades» mais? Que mais não fosse, para «segurar» a articulação de grupos consonânticos?
Com efeito, ouvimos à nossa volta CARACTERÍSTICA, mas o VOALP só admite CARATERÍSTICA. Ouvimos PEREMPTÓRIO, mas ele só admite PERENTÓRIO. Ouvimos CEPTICISMO, mas ele só admite CETICISMO. Ouvimos RECEPTADOR, RECEPTAÇÃO, mas ele só admite RECETADOR, RECETAÇÃO. Ouvimos OPTIMIZAR, mas ele só admite OTIMIZAR. Ouvimos PERCEPTÍVEL e IMPERCEPTÍVEL, mas ele só admite PERCETÍVEL e IMPERCETÍVEL.
*
Escrevi acima que a confecção de um VOCABULÁRIO ORTOGRÁFICO «COMUM» DA LÍNGUA PORTUGUESA se me afigura, cada vez mais, uma impossibilidade. É que confio, ainda, no discernimento humano. Senão, vejamos.
Este VOALP consagra bastantes facultatividades portuguesas. Fazem-no também o vocabulário da PORTO EDITORA e o do ILTEC. Mas estão, nisso, longe de coincidirem. Só que o vocabulário da ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS consagra incomensuravelmente mais, e outras, facultatividades. E o que farão os angolanos, e os caboverdianos, e os moçambicanos, e os demais? O que será para eles consagrável (mas não para os outros) e admissível (mas não para os outros)?
Se o académico VOALP já é a desorientação que aqui se tentou assinalar, que planetária barafunda não se prepara com um Vocabulário «COMUM»? Imagino que, além de mim, já alguém, e esse com responsabilidades, terá enxergado esse abismo de loucura ortográfica.
Mandem, já, para casa os tristes confeccionadores dessa obra monstruosa. Chegam-nos, e sobram-nos, os TRÊS VOCABULÁRIOS deste tresloucada pátria.
Terá sentido continuar a mostrar as deficiências do VOALP, o novel Vocabulário Ortográfico Atualizado da Língua Portuguesa? Tem. E por uma razão, simples, mas ponderosa: a da IMPOSSIBILIDADE de algum dia confeccionar esse «VOCABULÁRIO ORTOGRÁFICO COMUM DA LÍNGUA PORTUGUESA» que se nos prometeu, e promete.
O problema foi criado pelo próprio Acordo Ortográfico 1990, ao consagrar a PRONÚNCIA CULTA de cada país de língua portuguesa como primeiro critério da grafia, destronando para segundo lugar a ETIMOLOGIA.
Em si, esta inversão é um progresso. Mas qual é a PRONÚNCIA CULTA PORTUGUESA? Este VOALP poderia tê-la definido, frontalmente, mas ignora a questão (como todos os demais ignoraram). E, no entanto, opera como se ela tivesse sido definida. Alguns exemplos.
O VOALP consagra, e bem, as formas APOCALÍPTICO, DACTILOGRAFAR, EXPECTATIVA e EXPECTÁVEL, FACCIOSISMO, FACTÍCIO, GALÁCTICO, INTERRUPTOR, LACTAÇÃO, JACTANCIOSO, PICTÓRICO, RETRÁCTIL, SECÇÃO, VASECTOMIA. Tudo isto, não obstante desenhar-se algum uso emudecedor da primeira consoante dos grupos. Talvez por isso assinale as formas INTERRUTOR e RETRÁTIL (esta com a enigmática indicação de «adj. unif.». Será «unificado»? Mas de quê, se o Brasil admite as duas formas?).
O VOALP admite DETECÇÃO, DETECTAR, DETECTIVE ao lado de DETEÇÃO, DETETAR, DETETIVE. Admite PERFECCIONISMO, PERFECCIONISTA, PERFECTÍVEL ao lado de PERFECIONISMO, PERFECIONISTA, PERFETÍVEL. Admite SECTOR, SECTORIAL, ao lado de SETOR, SETORIAL. Já não se perdeu tudo.
Mas – e como já assinalei – o mesmo VOALP, admitindo CONCEPCIONAL e CONCECIONAL, só admite ANTICONCECIONAL. Do mesmo modo, admitindo PERFECTÍVEL e PERFETÍVEL, só admite IMPERFETÍVEL. E, ainda, admitindo INDEFECTÍVEL e INDEFETÍVEL, só admite DEFETÍVEL.
Não deveria, porém, o VOALP admitir algumas «facultatividades» mais? Que mais não fosse, para «segurar» a articulação de grupos consonânticos?
Com efeito, ouvimos à nossa volta CARACTERÍSTICA, mas o VOALP só admite CARATERÍSTICA. Ouvimos PEREMPTÓRIO, mas ele só admite PERENTÓRIO. Ouvimos CEPTICISMO, mas ele só admite CETICISMO. Ouvimos RECEPTADOR, RECEPTAÇÃO, mas ele só admite RECETADOR, RECETAÇÃO. Ouvimos OPTIMIZAR, mas ele só admite OTIMIZAR. Ouvimos PERCEPTÍVEL e IMPERCEPTÍVEL, mas ele só admite PERCETÍVEL e IMPERCETÍVEL.
*
Escrevi acima que a confecção de um VOCABULÁRIO ORTOGRÁFICO «COMUM» DA LÍNGUA PORTUGUESA se me afigura, cada vez mais, uma impossibilidade. É que confio, ainda, no discernimento humano. Senão, vejamos.
Este VOALP consagra bastantes facultatividades portuguesas. Fazem-no também o vocabulário da PORTO EDITORA e o do ILTEC. Mas estão, nisso, longe de coincidirem. Só que o vocabulário da ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS consagra incomensuravelmente mais, e outras, facultatividades. E o que farão os angolanos, e os caboverdianos, e os moçambicanos, e os demais? O que será para eles consagrável (mas não para os outros) e admissível (mas não para os outros)?
Se o académico VOALP já é a desorientação que aqui se tentou assinalar, que planetária barafunda não se prepara com um Vocabulário «COMUM»? Imagino que, além de mim, já alguém, e esse com responsabilidades, terá enxergado esse abismo de loucura ortográfica.
Mandem, já, para casa os tristes confeccionadores dessa obra monstruosa. Chegam-nos, e sobram-nos, os TRÊS VOCABULÁRIOS deste tresloucada pátria.
Comentário:
João Pedro da Costa: é claro que há a
possibilidade FÍSICA de confeccionar esse Vocabulário. Digo-te mais:
secretamente, DESEJO que o façam. Ele demonstrará, definitivamente, a que
situação caótica o AO90, desde sempre, estava condenado a conduzir.
Imagina uma fusão (sim, porque é de fusão que se trata, em última análise) de um Vocabulário português com o Vocabulário da Academia Brasileira. Sirvo-me da lista do ILTEC para te dar uma ideia. Importa saber que o Brasil admite p.ex. COLECTA e COLETA, mas Portugal só COLETA. Aqui vai o resultado.
coleção (Brasil, Portugal)
colecionação (Brasil, Portugal)
colecionador (Brasil, Portugal)
colecionador (Brasil, Portugal)
colecionadora (Brasil, Portugal)
colecionar (Brasil, Portugal)
colecionável (Brasil, Portugal)
colecionismo (Brasil, Portugal)
colecionista (Brasil, Portugal)
colecionístico (Brasil, Portugal)
colecta (Brasil)
colectânea (Brasil)
colectâneo (Brasil)
colectar (Brasil)
colectário (Brasil)
colectável (Brasil)
colectício (Brasil)
colectivamente (Brasil)
colectividade (Brasil)
colectivismo (Brasil)
colectivista (Brasil)
colectivístico (Brasil)
colectivização (Brasil)
colectivizar (Brasil)
colectivo (Brasil)
colectomia (Brasil, Portugal)
colector (Brasil)
coleta (Brasil, Portugal)
coletânea (Brasil, Portugal)
coletâneo (Brasil, Portugal)
coletar (Brasil, Portugal)
coletário (Brasil, Portugal)
coletável (Brasil, Portugal)
coletício (Brasil, Portugal)
colético (Brasil, Portugal)
coletivamente (Brasil, Portugal)
coletividade (Brasil, Portugal)
coletivamente (Brasil, Portugal)
coletividade (Brasil, Portugal)
coletivismo (Brasil, Portugal)
coletivista (Brasil, Portugal)
coletivístico (Brasil, Portugal)
coletivização (Brasil, Portugal)
coletivizar (Brasil, Portugal)
coletivo (Brasil, Portugal)
coletor (Brasil, Portugal)
Agora imagina o que será um «Vocabulário Comum» COMPLETO. É muito prático, não é?
Imagina uma fusão (sim, porque é de fusão que se trata, em última análise) de um Vocabulário português com o Vocabulário da Academia Brasileira. Sirvo-me da lista do ILTEC para te dar uma ideia. Importa saber que o Brasil admite p.ex. COLECTA e COLETA, mas Portugal só COLETA. Aqui vai o resultado.
coleção (Brasil, Portugal)
colecionação (Brasil, Portugal)
colecionador (Brasil, Portugal)
colecionador (Brasil, Portugal)
colecionadora (Brasil, Portugal)
colecionar (Brasil, Portugal)
colecionável (Brasil, Portugal)
colecionismo (Brasil, Portugal)
colecionista (Brasil, Portugal)
colecionístico (Brasil, Portugal)
colecta (Brasil)
colectânea (Brasil)
colectâneo (Brasil)
colectar (Brasil)
colectário (Brasil)
colectável (Brasil)
colectício (Brasil)
colectivamente (Brasil)
colectividade (Brasil)
colectivismo (Brasil)
colectivista (Brasil)
colectivístico (Brasil)
colectivização (Brasil)
colectivizar (Brasil)
colectivo (Brasil)
colectomia (Brasil, Portugal)
colector (Brasil)
coleta (Brasil, Portugal)
coletânea (Brasil, Portugal)
coletâneo (Brasil, Portugal)
coletar (Brasil, Portugal)
coletário (Brasil, Portugal)
coletável (Brasil, Portugal)
coletício (Brasil, Portugal)
colético (Brasil, Portugal)
coletivamente (Brasil, Portugal)
coletividade (Brasil, Portugal)
coletivamente (Brasil, Portugal)
coletividade (Brasil, Portugal)
coletivismo (Brasil, Portugal)
coletivista (Brasil, Portugal)
coletivístico (Brasil, Portugal)
coletivização (Brasil, Portugal)
coletivizar (Brasil, Portugal)
coletivo (Brasil, Portugal)
coletor (Brasil, Portugal)
Agora imagina o que será um «Vocabulário Comum» COMPLETO. É muito prático, não é?
E que formas valem - e quais não valem -
para CABO VERDE, GUINÉ, SÃO TOMÉ, ANGOLA, MOÇAMBIQUE e TIMOR? Imagina-se essa
informação inserida na lista acima?
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