quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

o boi, o burro e o presépio (contra-argumentação)



O Boi, o Burro e o Presépio
10 Dezembro 2012 [Opinião]

O escândalo foi inventado em Itália, mas depressa chegou a todo o Mundo. De um momento para o outro, a fé pareceu estar dependente de um boi e um burro terem ou não terem lugar no presépio. Uma frase tirada do contexto, o desconhecimento do Evangelho, talvez o não saber sequer que presépio é sinónimo de estábulo – e lá se supôs o Papa como iconoclasta de duas das figuras mais simbólicas da representação da Natividade. Houve quem ao menos tivesse tido a honestidade de confessar que não lera o livro nem o lerá. O que, sendo o caso de muitos outros, não deixa de ser um mau princípio – falar daquilo que não se conhece.
 A Igreja Católica continua a ser um bom motivo para notícias negativamente sensacionalistas. Embora, além de outros méritos admiráveis, tenha os de ser a instituição que mais sacia a fome dos pobres, que mais doentes com SIDA acolhe, que mais leprosários mantém por este mundo fora. Mas parece que é preciso haver uma Madre Teresa de Calcutá para que ela mereça admiração, ao menos respeito. Esquecendo que, à semelhança de tantas outras, a obra daquela santa albanesa cresceu e se mantém pela entrega cristã de muitas almas que consagraram a sua vida a Deus e aos desprotegidos. No caso das Missionárias da Caridade, cada uma delas uma repetição da bondade e do espírito de sacrifício da fundadora, são quase cinco mil as consagradas. Mas que disse o Papa, por que razão o disse e como o disse? Poucos tiveram o cuidado de procurar fontes credíveis. Porque o princípio do mau jornalismo é não testar a notícia sensacional, e a verdade nem sempre é tão atraente como a sua versão deturpada. A mesma Internet que tanto contribuiu para o alastrar da onda contém também várias referências ao livro “A Infância de Jesus”, de Bento XVI, mormente esta da discórdia. Consultando, por exemplo, o jornal virtual “Umanesimo Cristiano” (Humanismo Cristão), fica-se a saber que o papa escreveu: “Maria deitou o seu menino acabado de nascer numa manjedoira (cfr Lucas 2, 7). Destas palavras a tradição deduziu desde sempre precisamente que Jesus nasceu num estábulo, um ambiente pouco acolhedor – ser-se-ia tentado a dizer indigno – mas que, em todo o caso, oferecia a discrição necessária para este santo evento. (…) A manjedoira faz pensar em animais, porque é ali que eles se alimentam. Mas o Evangelho não fala neste caso em animais.”
Mais adiante, diz o Papa: “a meditação, guiada pela fé, lendo o Antigo e o Novo Testamento /…/ colmatou esta lacuna fazendo referência ao profeta Isaías: «O boi conhece o seu dono e o burro o estábulo do seu senhor, mas Israel não me conhece e o meu povo não compreende». Bento XVI faz em seguida uma alusão ao presépio de São Francisco de Assis, no qual estiveram presentes um boi, um burro e outros animais. E, como que numa premonição de que poderia ser mal interpretado, e para que não restassem dúvidas a respeito da sua opinião, acrescenta que “Nenhuma representação da natividade renunciará ao boi e ao burro.”
 Os que inventaram e propagaram esta falsa questão, e que atiçaram o fogo do escândalo, talvez só voltem a falar da Igreja quando, vendo ou simplesmente imaginando um argueiro em olhos alheios, se julguem com o direito ou o dever de os limpar. Possivelmente apenas lançando mais poeira ainda.
Autor: Daniel de Sá
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