IN DIÁLOGOS LUSÓFONOS
Crise europeia reduz crescimento de Cabo Verde01 Julho 2012
As exportações cabo-verdianas deverão baixar consideravelmente, com claros reflexos na economia nacional. De acordo com um estudo do Instituto britânico de Desenvolvimento Externo, Cabo Verde, que coloca 90 por cento dos seus produtos nos mercados europeus, é um dos seis países que mais serão afectados pela crise financeira na Europa. O nosso arquipélago, estima o documento, deverá abrandar o seu crescimento em 0,5 por cento, dado já avançado pelo Banco de Cabo Verde no seu relatório sobre a política monetária de Maio último.
Um
relatório do Instituto para o Desenvolvimento Externo, do Reino Unido,
concluiu que pelo menos seis países no mundo, que mantêm fortes trocas
comerciais com a Europa, correm sérios riscos de vir a sentir já, já os
efeitos da crise financeira no Velho Continente. Cabo Verde, Moçambique,
Quénia, Niger, Camarões e Paraguai são
apontados como os mercados que, por arrastamento da crise da dívida
soberana europeia, mais irão ficar prejudicados, com reduções nas ajudas
ao orçamento, no comércio e nos investimentos.
O
nosso país, segundo o documento a que A Semana teve acesso, está no
topo dessa lista, já que 90 por cento das suas exportações tem como
mercado principal a Europa que, entretanto, começa a incentivar a
produção local e a reduzir as importações como forma de redinamizar a
economia na zona Euro. “As nações em desenvolvimento (como Cabo Verde e
Paraguai) estão mais vulneráveis a uma recessão prolongada na Europa,
provocada por temores de uma dissolução da união monetária”, perspectiva
o Instituto britânico, acrescentado que “os efeitos do fraco
crescimento e austeridade na zona da moeda única vão
afectar o comércio, ajuda ao investimento, e as remessas dos emigrantes
em Cabo Verde”.
A
pesquisa sustenta essa tese “numa demanda mais fraca da Europa na hora
de importar produtos de países de baixa renda, o que teria um forte
impacto sobre o crescimento desses países. Isto é uma ‘bomba’ para as
nações pobres”, avisa o IDE, que calcula uma perda acumulada para os
países em desenvolvimento de 238 biliões de dólares entre 2012 e 2013. É
que a Europa é o maior mercado de exportação para os países em
desenvolvimento, daí que uma queda de 1 por cento nas importações
europeias irá afectar até 0,5%, o crescimento de países exportadores
como Cabo Verde, Moçambique, Quénia, Níger, Camarões e Paraguai.
Isabella
Massa, uma das autoras do relatório do Instituto britânico para o
Desenvolvimento Externo, entende que “há três maneiras gerais em que a
crise da zona euro irá afectar os países em desenvolvimento: por meio de
contágio financeiro; como um efeito de arrastamento da consolidação
fiscal na Europa para atender às necessidades de austeridade; e através
de uma queda no valor das moedas indexadas ao euro” – como sucede com o
nosso país.
Robert
Zoellick, presidente cessante do Banco Mundial, chegou mesmo a alertar
os países em desenvolvimento para a necessidade de se prepararem para
uma nova onda de turbulência financeira global decorrente da Europa, e
que todos deveriam colocar suas finanças em ordem para conter os
impactos da crise. “Os países pobres
são vulneráveis à crise do euro, não só por causa de sua exposição
(devido à dependência de fluxos de comércio, remessas, fluxos de
capitais privados e de ajuda), mas também devido à sua fraca resistência
em relação a 2007, antes do início da crise financeira global”,
acrescentou.
A
fim de superar a crise, o Instituto para o Desenvolvimento Externo
britânico aconselha os países em desenvolvimento a continuar a
privilegiar os objectivos de finanças públicas sólidas e a estabilidade
económica como metas de longo prazo. Mas também sugere as nações em
causa a “estimular a demanda interna, promover a diversificação das
exportações tanto nos mercados como nos produtos, melhorar a regulação
financeira, aprovar políticas de longo prazo de crescimento e fortalecer
redes de segurança social. Por
seu lado, as instituições parceiras devem garantir que os fundos
adequados para conter as ondas de choque são postas em prática de forma
coordenada, para prestar assistência eficaz e atempada à crise nos
países afectados”.
O
relatório daquele instituto sublinha ainda que a capacidade dos países
em desenvolvimento responder às ondas de choque provenientes da crise na
zona Euro dependerá tanto dos fluxos de finanças internacionais como do
comportamento da economia global, que tende a tomar outro rumo. “A
escalada da crise do euro e o facto de as taxas de crescimento nas
economias emergentes do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), que têm
sido o motor da recuperação global após a crise financeira 2008/09,
estarem agora a abrandar torna a situação actual realmente preocupante
para os países em
desenvolvimento”, alerta.
http://www.asemana.publ.cv/spip.php?article77925
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