sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

PARABÉNS ONÉSIMO ALMEIDA




Minha gente
Há pessoas assim. Tão grandes que levam quatro dias a nascer. Ou quatro dias a fazer anos. Por isso o trabalho lhes rende como se cada dia seu valesse por quatro dos nossos. No ano em que lhe enviei o poema acróstico que vou transcrever (uma vez mais, porque não tenho nada menos mau) ele fez anos no dia 18. Mas, à cautela, vai como se fosse hoje. O nome do autor aparece somando as primeiras letras de cada último verso

Orgia da palavra bem pensada,
Natureza total da humana essência,
Édipo da verdade desvendada,
Saber feito de si e da exp’riência,
Inimigo da vida sossegada,
Moldando (como quer sua ciência)
Os actos que o destino lhe destina.
– Desobedece à sorte, se é mofina.

Omitir-se não pode, que ao saber
Não convém fingimentos de ignorância.
Étimo remissivo do escrever
Sobre este amargo mar, nesta distância,
Inventa ou prova, até um incréu crer
Movido à fé por uma tal constância.
Os Açores são, pois, o imaginário
 – A que deu voz e corpo literário.

Onde haja um português que se aquebrante
Nas Índias do Ocidente, mundo imundo,
É dele que se espera que o levante,
Se do abismo até já soube o fundo,
Indo a Cascos de Rolha, num instante,
Mais longe, sendo o caso, que do Mundo,
Outro nenhum como ele sabe os cantos.
– Nenhum outro, sendo um, vale por tantos.

Ouçamos-lhe a palavra deleitosa,
Negando-se à vulgar monotonia.
Ética ou não, é sempre numerosa,
Salva-a, por mais que dure noite e dia,
Isso de ser tão sábia quão jocosa,
Menos dada à tristeza que à alegria.
Orgulho, talvez não, nem preconceito.
– Isto é como se quer um homem feito.

Obélix é, se a ele comparado,
(Na força o bom gaulês, ele no siso)
Ésquilo infante ainda; recém-nado
Salomão muito longe do juízo;
Ibsen p’la mãe ainda amamentado;
Malebranche de si só com seu viso;
Ouro a haver na retorta do alquimista.
– Esta a imagem possível do artista.

Ondas do mar de Vigo que chegaram,
Na língua portuguesa a Portugal,
É nelas que as palavras nunca param
Sulcando mar e mar, por bem e mal.
Imersos nessa glória se c’roaram,
Mundo outro construído a este igual:
Onde aqui foi a fé, lá é o templo.
– Louvemos o seu nome, mor exemplo.


ASS DANIEL DE SÁ


 






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